segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Samba de Sampa, entre morenas e desencantos.

Pueril seria
se toda a alegria infantil travestida
de cinza-civilização,
escolhesse para si própria mais uma cor refrão.

Pareceu que eu não sabia
o que fazer nessa etapa em minha vida,
já que nada a perder tinha,
mas também não mais existia o medo do mundão.

As flores da rua,
sempre caídas de uma árvore,
sempre pisadas e envoltas de bitucas,
nunca prioridade em comparação com a fábrica ou a sinuca,
não competem em cheiro,
mas colorem o pouco
que muitas vezes, nossos corações roucos
precisam para se render.

E aprendendo enquanto fugia,
na dualidade que é acertar e errar na boemia,
descobri que novamente tinha me escondido,
me ignorado,
e percorrido alienado
as necessidades que meu tempo e vontade clamam.

E agora, mais consciente
mesmo que voltando a figura insegura do persistente
serei menos inseguro me segurando menos
e percebendo que pelo menos
meu conhecimento não pode vazar,
meu reconhecimento pode emergir,
e você, não precisará mais se esquivar,
quando reparar que ao te olhar, não consigo deixar de sorrir.

Tive sim que esperar meu peito parar de oscilar,
Tive sim que ver a poeira das minhas escolhas abaixarem,
Ver a maré que agora calmou,
e só percebendo que o momento melhorou,
- não foi coisa forçosa como sempre soou -
me refiz, de um futuro naufragado,
um bruto sobrevivente,
que, mesmo se boicotando em seu delírio-fado,
aparecerá para amar na mais elevada forma: a de ridente.

E assim que te quero em mim,
Assim que quero todos nós,
perdidos no próprios erros e nos próprios nós,
mas sempre rindo, sem fugir, dessa viagem sem fim.

Sem télos
e aos berros,
nos construímos
e nos destruímos,
mas resistimos
no milagre que é ser o improvável.
Os pensantes, amantes e notáveis,
hesitantes, relutantes e afáveis
humanos: artistas e donos das próprias obras
que tristemente alimentam-se a si mesmos com sobras.


E, que se crie a ilusão da essência humana que for.
As manobras e a rigidez da razão não vingam, mesmo que se apele,
quando competem com a sensibilidade híbrida; com o sabor e a dor
de se sentir à flor da pele.


João Gabriel Souza Gois, 03 de novembro de 2013

sábado, 14 de dezembro de 2013

Aos gênios sem reflexo

Melhor assim, 
nos animarmos distantes,
para que a vaidade restante,
não destrua o saboroso em potencial.

Crava!
Crava!
Crava a raiva
como aquela maçã,
que me consumirá em forma desconhecida,
que me fará transitar da morte para desconfiar da vida,
Crava!

Crava! E costura...
Crava e costura a palavra,
a palavra com que lavra significado
e a larva que, meio tonta, se vê sem ninguém ao lado
usará da maçã, da metáfora que importa, o fio
e o descosturará em uma nova costura
que não exige postura
mas forma uma linda e fofinha barata de pelúcia.

Tia lúcia!
Tinhas razão, teu sobrinho é louco,
tudo que ele pede é:

Crava! Crava!
Crava para eu testar e ver se sinto,
crava em mim, crava em todo o recinto
um pouco de melodia,
nesse mudo-surdo-burro-besta meio-dia.

Faltou palavra,
pegou a clava,
arrancou a cabeça do minotauro
e ficou sem resposta para sair
do labirinto.

E em mim, vejo a parede essencial,
(parede essencial,
roubei o termo de um poeta genial,
com forte propensão para o espiritual
e desconhecido pelas vertiginosas academias
vendidas a interesses político)
a parede, no final
apresenta um pós-moderno raquítico.


Mas para que sair?
A luz vai doer?
Mente cheia não age.

Lapidar mais versos,
tirar deles os excessos?
E esses excessos kafkaescos,
o que faço com eles, uso de refresco?
Refresco de maçã?
Não há Ácido, nem divã,
nem Jesus, nem Tupã
que faça de uma barata,
algo que o valha.

E a culpa de kafka
é, em Christiane F. a navalha.
A ironia do pai que nunca leu a carta
destrói a individualidade intacta
de um gênio que não se enxerga.

Vá minotauro!
Se enxergue sem cabeça,
só resta sangue, parede e sentença
na culpa de um amor
que não merece esse peso.

Vá e me diga,
se o monge desenhou o Deus,
ou o Deus desenhou o monge,
cá, íntimo e longe,
construo labirintos em palavras,
faço citações de insetos e larvas,
me vejo todo submisso a esse Processo,
onde o Jurídico e labirintoso progresso
nos faz esquecermos
do próprio valor.

Crava, que agora aprecio a dor,
Crava a maçã, mas não a de Newton,
Crava como aquela melodia de Amadeus,
e, de Beethoven ao assassino bigodudo de Deus
(o homem moderno, não Nietzsche)
não existirá palpite
que funcione como a exteriorização
do lírico, que pressione como a elevação do espírito,
uma significação que em meio a tanta dor penitente
valorize a divina figura do ridente.

Só existirá, nessa figura que o palpite não traz às mentes,
a sincera e descompromissada desnudez dos dentes.

João Gabriel Souza Gois, inciado 30 de julho de 2013, terminado 6 de agosto de 2013.

Obs: Escrito depois de voltar da casa de um amigo, onde eu tinha lido um poema genial dele, fica aí minha homenagem aos que já se viram sem nexo, e não se enxergam, são gênios sem reflexo. Saravá Akira!

domingo, 17 de novembro de 2013

Tolopatia platônica (diálogo entre um; monólogo entre dois)

Sente aqui, tome um drinque.
Há muito o que se falar, e sempre o relevante é ignorado.
Só te chamei para ter alguém ao lado,
não precisa temer meu olhar,
nem tremer ou palpitar,
caso o que eu talvez represente
te atormente.

Isso, acenda um cigarro,
me conte mais sobre aquele plano bizarro,
e também do tédio que não aguentamos mais sozinhos;
não precisa me amar, nem seguir meus caminhos,
também não precisa esbravejar ou fugir de meus carinhos.

Se toco e faço música
é para agradar e não para soar desafinado,
e se dedilhei bem no momento errado,
nossa sinfonia perdeu a harmonia
e nesse barulho embaralhado,
meu coração badalado de tensão
pede resolução.
Se soou no tom errado,
peço meu sincero perdão.

Amor, nossos olhares,
nosso nulo afago,
nosso ninho de ar,
nossa brasa que não vira cinza, mas também não queima,
nossa possível consideração de um sim,
nossa certeza imanente de não,
tudo isso, vai e vem,
balança, machuca e me alegra,
me traz e leva a ternura,
porque nessa instabilidade há a aventura
que vejo seus receios te forçarem a esquivar.

Encoste aí, tire os sapatos,
não repare se de vez em quando te olho e me sinto fraco,
é só pela incerteza, só por não ver fluir...
Até agora só conversamos no silêncio,
te amei só daqui,
e desculpe se sou poeta e fingidor,
se clamo tanto, em desmedido peso, a aventura do amor,
se ressalto e reconheço, sem medo e com petulância, o desgosto que for,
mas percebo, que sendo eu o fugitivo e arisco,
para não te abalar e não incomodar, quando arrisco,
soei covarde...
Já sabes o que em mim arde.
Entenda que eu, premeditando o final,
não me conformei e vi espaço,
não para desconcertá-la em embaraço,
mas para livrá-la do que a prende,
e permitir aquilo que o suor revela quando o corpo transcende,
e deixar, livremente, esquentar o que tende
a morrer de desamor.

Sinta-se em casa, aceita um petisco?
Sei que esse assunto pareceu descabido,
nem comecei a dizer, só sorri, desviei o olhar...
Me apeguei no vínculo das vontades,
e senti você tão bem,
a gostar também...
E então lembro-me que para as vaidades
só existe um fim que soe bem
pra mim:
O desapego, sim...
preciso da lucidez que ele presenteia,
porque apesar de apaixonado, idealista e romântico-tolo rapaz,
sou também agente rebelde e violento da paz,
sou também realista e pessimista quando incapaz,
e se percebo que não posso roubar o sabor que seu lábio traz,
me acorrento em desejo, na vontade que incendeia,
percorro o lirismo, fujo pros bares e pro sacolejo,
minto verdades, saboreando outros beijos,
e ao passo que corro de ti,
mais te confesso o que desdisse até aqui,
o que insinuei, mas não consegui insistir.
O que está na ponta da língua,
e a cabeça não a deixa exprimir...

Esse papo todo te cansou? É, eu vi...
sabes muito bem que se quiser dormir,
minha cama é nossa cama, meu calor é só pra ti,
e não te assustes se acha que cobrirei com meu edredom
tudo o que teu jovem anseio quer e não posso dar,
amamos e burramos, não posso negar,
mas prender deusas livres não é meu dom,
só saibas que se estás perdidas nas ondas de som,
posso ajeitar o tom, em melodia nos propagar,
e explodir em um dia o que só melhora o entorno,
e celebrar por não ter deixado nosso calor morrer de morno.

Desculpe, falei demais sem nada dizer,
Era isso, conversa gasosa, vinda da idealização, do estúpido que sou,
seus olhares, sua fala simpática, tudo isso me enfeitiçou...
E não posso feri-la só porque não a posso ter.

Isso era o que estava aqui reprimido,
sei, pra uma conversa com os olhos e ânimos,
pra um diálogo de expressões e pânicos,
pareceu demais,
mas se eu não meditasse,
não fosse eu lírico, tu impasse,
não haveria nada que limpasse
meu desejo senão teu calor.

É assim que falo tanto com teu olhar,
entendeu, amor?
Nos deixarei descansar,
amanhã estarei sem você e cheio de labor.

Juro a ti, insinuei o evidente, não fui irônico...
Só isso que tenho a não-dizer, como tolopata platônico.


João Gabriel Souza Gois, 17 de novembro de 2013.

OBS:

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Aos fortes abandonados: Sejamos mais abusados.

Abuse da licença poética!
A poesia é sim um dos caminhos para a ética,
mas convenhamos, as melhores nunca são morais.
Abuse da licença poética!
Pra que se preocupar tanto com a clássica estética,
Se urramos e burramos, afinal somos animais.

Assim, de olho limpo,
correndo pela cidade,
olhando cada realidade,
saindo fora do feudo condomínio.
Percebi, que no dia a dia, há um extermínio,
racial, de classe, de posição frente o julgamento moral...

pe-pe-pe-pe-pequinininho burguês,
se afundou na miséria cultural,
nem ao que vem daqui, da atenção real
tudo que lhes convém é pppppppp
PPPPPPPPrPrProteção,
Bâm di cagão!
Não adianta dizer que não tem viés,
o que vê, é o que quer e não o que é,
e quanto a isso jhow, não tem migué,
Existem anos de conhecimento humano,
pronto pra ser explorado,
e a utopia pppppequeno-burguesa
se afundou num simulacro do mundo.

Surgem imagens,
na arte que quer dizer o que tem a dizer,
subverter, transgredir e ainda assim manter
a beleza.

Sem a arte,
seríamos o computador
que nunca fomos,
o que somos,
não está apenas em cromossomos,
está também no porquê, e em como somos.

No cotidiano e no antigo,
há muito mais do que só paranoia e perigo,
existe o acúmulo, condensado,
de boa parte da expressão humana conhecida,
o seu antro,
o nosso Anthropos.

E, para explorar ao máximo,
qualquer que seja a expressão poética e humana,
não convém boicotar a arte como profana.
Convém extrapolar,
sem medo de desvendar,
tudo que carregamos de gene cultural,
e como, ainda assim, somos animais,
e não conjecturas racionais e morais,
fica claro que
o abismo entre o devir e o rumo das escolhas do ser,
variam mais do que uma estatística,

ou uma representação filosófica empírica poderiam prever.
Ah! E que delícia não saber,
e ainda assim crescer,
existir e sentir encher
o pulmão,
de essência carregada,
experiência acumulada,
e, além do maior conhecimento,
e da maior exploração dos talentos,
valer-se
da cultura e das sensações,
das vivências mas também de idealizações,
e aprender que impossibilidade
é uma impossibilidade para a humanidade.
Perante o outro, há sempre novidade,
por isso, por favor Oxalá, nos dê humildade!

Sei que às vezes arde a raiva,
A incompreensão com os abusos das supostas e impostas 'autoridades',
pintam de sangue, mas o vermelho legitima a luta mais do que conjecturas,
de olho limpo,
é impossível ser mórbido,
ao sórdido impacto
de ver mais cabeças, mais possibilidades de contato
e contribuição para a disseminação
da livre expressão humana,
cultural ou política,
tribal ou urbana,
sendo menosprezadas e largadas
à miséria, ao lixo,
e naturalizar isso,
para ganhar o fuscão no juízo final
de consciência limpa.

Sei que apesar de também carregar
- o que a cabeça humana parece fazer sem parar -
uma ideia, minhas representações e conflitos,
prefiro aqueles que não ficaram aflitos
e escolheram, onde estiverem,
uma alternativa própria, longe da urbana lambança,
ou, vivendo a cidade, uma proposta de mudança,
e se nelas
- na alternativa, ou na proposta -
ainda estiverem emaranhados na arte,

que a própria arte não seja covarde,
de podar qualquer livre expressão,
em nome de uma 'vanguardista' e 'elevada' estética.


E, por isso, meus amigos,
usem e abusem,
gozem e se lambuzem,

da licença, sem pedir licença.

Abuse da licença poética!
A poesia é sim um dos caminhos para a ética,
mas convenhamos, as melhores nunca são morais.
Abuse da licença poética!
Pra que se preocupar tanto com a clássica estética,
Se urramos e burramos, afinal somos animais.

Carnais, fatais e sentimos inclusive os sentimentos surreais,
somos mais do que satélite, ou engrenagem para o produto interno bruto,
Passionais, racionais e paradoxais, inclusive nos momentos mais concretos e reais,
não devemos nos perder em vez de reagir ao quanto o furto
dos fracos honrados
nos atinge, nos deixa lesados...

Sujismundos, vagabundos, somos nós os fortes abandonados,
de cultura mal olhada,
religião negada,
e não devemos podar nada
que nossa boca não aguente mais segurar.

Devemos abusar,
da liberdade de expressão,
e, se precisar, sujar o muro do pratão,
do patrono, do pai estado, do patrimonialista, da pátria e do patriarca.
Se falharmos, alimentaremos o futuro com nossa marca,
para que caia o monarca disfarçado de democrata,
e, no abuso da licença poética, estes tornem-se só mais uma alegoria caricata
do passado que conhecemos, estudamos, mas não mais damos a mão,
pois daremos a mão a nós mesmos, cada bixo-humano irmão,
para cantarmos e trabalharmos
- não mais sangrar-nos -
a caminho da renovação. 


João Gabriel Souza Gois, 6 e 7 de novembro de 2013.

Obs:

A vertigem dos sabores proibidos.

Até faz doer
saber
que não é só meu o querer.
Que sou tudo que você não pode ter.

Sou o acaso,
que antes do abraço,
já tratou de tatear a brasa.

A pista do amor
não escolhe ideologia
sem labor.
E a ideia que precisa ser cultuada
para que a boca, no encontro, seja amada,
é a do encontro de sintonia,
da vontade, admiração e epifania.

Até me faz perder
o que penso
pensando em escolher.
E sou tudo que você não pode ter.

Homem, gauche,
de esquerda, sem renome,
quase acompanhado, com vulgar sobrenome.

Ah, graciosa figura subversiva,
sua resposta à tradição oligárquica inativa,
foi não esconder a flor que carregas ainda viva,
mas propor mostrar sua beleza, com a esquiva
de se impor rebelde, e no fim ser sensível como as garoas das segundas-feiras.

Em resposta à rude cobrança
escondeste tu, com um sorriso sem jeito,
a boca que ilude esperança...
E em meu coração ambíguo,
me faz, no mínimo amigo
do teu cheiro desviante.

Até que então
foi na noite costumeira
da alforria embriagante
que me viste à beira,
tragando cachaça e cantando adiante,
e numa simples bobeira,
sua boca me viu
muito antes,
e o arrepio
só se mostrou gigante
quando finalmente
me desorganizei completamente
e percebi que não a sentiria mais
junta a mim, ridente, embriagada e ofegante.

Ah! Se eu pudesse mudar o antes!

Não sei se me canso de saber
se queres logo me dizer
que posso sentir e viver
o que tens a oferecer...

Me desculpem, olhos (externos!) que me veem esbanjando,
Mas em meio a essa situação continuo me embriagando;
Não quero ver outros lindos olhos chorando,
Apesar disso, sigo me questionando...

Se o que quero é isso mesmo,
ou se não estou me jogando à esmo,
pois o que sinto não está longe da admiração
de te ter comigo, terna, excitada e clamando minha mão.

Você, rebeldia feminina, que antes era meta;
mas agora perigo,
não sei se devo, ou se consigo,
mas te quero comigo.

E a abstração mais descomunal da cultura monogâmica
Virou fato abissal para minha vontade orgânica.

Tua bela aparência, e teu âmago musical dissonante,
me fizeram, em atual situação que me moldo mudo,
morar em mim um comichão mais que pedante,
e confundir, tensionar, mas também sorrir meu coração moribundo.
Tomara que o tempo e o mundo,
permita a nós mais um instante
para que a sincronia e a vontade em comum,
não percam força perante a culpa de bebum.

João Gabriel Souza Gois, 1º e 2 de outubro de 2012.

sábado, 26 de outubro de 2013

Foz.

Ah! O destino...
Algo que nunca cri,
mas me revirou mais de uma vez o intestino,

por incessantemente se mostrar ali.

Talvez não previsível como o é para os profetas embriagados,

nem tão insensível como é aos que carregam a poesia como fado,
porém me ensinando, ao passo que parece existir,
e me ensinando mais, quando o acaso impera e o leva dali.

E, dentro dos retóricos discursos de liberdade,
fui me sentindo livre - de fato - cada vez mais,
e seu deleite boêmio,
me fez perceber seu custo a nós, animais,
que mesmo estando tão fadados à ela,
quando, nos românticos sonhos de Cinderella,
nos prendemos em posse,
- antes  só ideia fosse -
simplesmente fulmina no íntimo,
o ciúmes, que junto a culpa, é parte dos sentimentos ilegítimos
que as paixões e as idealizações nos obrigam a respirar.

Talvez minhas canções possam ter desmedido peso,
mas minha cabeça também tem,
nunca teria eu ferido alguém,
se não fosse por saber que não havia outro modo,
e agora, mesmo sem poder, me incomodo,
ainda assim prossigo e limpo logo esse foco perecível,
pois o mais belo não é ser desumano e fingir que não sente,
mas pensar, refletir, artear e tatear o impossível,
e atingir o orgasmo incrível que só o corpo nos pode dar,
seja pelo sexo, pelo poema, pela música ou ao pintar.
Tantas atividades que saem e exalam dos poros,
que remexe e badala tanto o espírito,
e mesmo parecendo cínico,
não consigo chorar,
pois enfim, percebo meu atraso,
e também que não há amor a prazo,
e o que minha vista não quer ver
só não quer
por a ter impregnado com projeções o meu querer
e no fim cair no abismo de vontades insaciadas.


Mas espere um pouco,
mesmo que cante ou chore até ficar rouco,
já logo sei que as energias e vontades do mundo só dele são,
pois, mesmo sendo louco, se quero a lucidez do são,
terei que parar com o refrão de conjecturar a vida
e vivê-la, nua e crua, independentemente da ferida,

e só assim, o tempo ficará amigável,
não mais um fluxo destruidor de tudo, que no peito, é inflamável,
e por mais que nunca se atinga uma Pasárgada de granito e estável,
será na delícia de se praticar o delito de amar, de se ferir e se afundar nesse mar instável
que a felicidade - estado momentâneo - pode te abraçar
e te fazer perceber que apesar de parecer impossível, nessas águas, transitar,
é só assim que é possível se superar
sem querer ser O Modelo,
mas ser, singelamente, mais um dos exemplos,
dos que viveram e amam a vida do jeito que ela é,
e não do jeito que o nosso inconsciente quer.

Eu, que transito em textos e arte,
me levanto forte e guerreiro para coisas que não abro mão,
só me desmancho e chego no âmago do meu existencial,
no mais íntimo da minha vontade cultural e animal,
no mais próximo do que meu peito quer...
Quando, por poucos segundos, lembro do seu calor de mulher.


João Gabriel Souza Gois, 26 de outubro de 2013.

OBS: Como diria um amigo meu, bem genial - principalmente no jeito de ver a vida - após uma discussão política inflamada e comprida: no fim - na foz - é tudo sobre elas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Jazz frio. Quase azul.

Quando não sou carrasco do que sinto,
sou carrasco quando minto.

Foi no fingimento,
que deveras senti aquele alento,
e dele não deixei espalhar
o que tanto forçava em mim mesmo para me apaixonar.

Sou carrasco por ter despertado sentimento
em alguém, 
e cansado do mesmo vício de me ver aquém
sendo reproduzido por outrém,
foi no chacoalhar da maré do amor
- esse eterno vai e vem -
que propiciei dor
e por outro alguém me apaixonei.


Fujo mais uma vez dessa realidade!
Fujo, Ogum não me vê, ele não olha os covardes!
Fujo para o lirismo, no existencial.
Fujo para o anarquismo, melhor epifania para convívio social.

Sim, o lirismo implícito na anarquia e na auto-gestão,
que dão, à beira da janela, mais de um exemplo,
e assim, me refugiando na canção e no meu indígno templo,
me procuro em quem não me quer, e deixo outro coração na mão.

Não teria eu enfrentado para depois fugir,
se não soubesse que um dia, poderia eu te atingir,
mas esse Cool Jazz, esse samba de baixa cadência,
me fazem olhar para mim mesmo e desconstruir a indecência
que construí para projetar que me refiz, 
e em verdade repetir a fluência
de sempre correr do amor.

Esse desastre que me tornei,
só o trumpete consegue revelar,
Ah! Vontade insubmissa,
que faça do impossível a primeira premissa realista,
do poder jovem e das velhas madames da pista,
para que a cooperação não seja só tema de revista
e ela persista
inclusive em meu livre amor,
porque assim, gerando gratuita dor,
me vejo e sinto asco,
me reconstituí em exercício só para virar carrasco?

Quase azul, quase triste,
Mas tem uma parte em mim que é sempre verdade,
e de onde essa fuga para torpes sorrisos e falsas vaidades
vai me levar?

No fim, responsabilidade em vários termos consegui,
e percebi que não interessa onde e quando acaba o mar,
foi assim que bem prossegui,
e não desisto de tentar te conquistar,
se fujo agora, veja bem, meu bem,
é para esperar a maré baixar,
a poeira assentar no chão,
e a rua, a cidade: todas embriagadas com canção
farão emergir o popular em ação,
talvez não para tirar político ladrão
ou fazer o que os modernos chamavam de revolução,
mas para dançar em chuva de verão
e renunciar o cinza, ou o monstro no rosto da multidão,
e vermos todos amando com tal zelo, e sempre, e tanto
que mesmo escondendo minha cara em seus curtos cabelos,
possamos nos sentir gente, longe de toda a humilhação
descabida
que essa mercadoria livre chamada vida
é para a conjuntura dos homens de poder.

E o pior, é que depois de girar,
olhar os prédios, a garoa e enfim cantar,
minha fuga só vai cessar,
quando, junto à compaixão mundana,
junto à evolução social e cultural humana,
seu omisso olhar finalmente me encontrar.

E então,
talvez só em utopia,
com pitadas de rebeldia,
sua boca me encontre finalmente
para que possamos nos amar.
E se não,
se for só viagem de juventude,
com pitadas de plebe rude,
Iemanjá me afogará novamente
nas salgadas lágrimas de mar.

João Gabriel Souza Gois, 23 de outubro de 2013





Obs:

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Paixão Orgânica II

Ah, se eu pudesse me emaranhar nos rumos de teus olhos
E deles fazer mais do que janelas,
fazer, além do vínculo de comunicação, algo meu,
com uma posse menor do que desconfiaria Romeu,
e simplesmente tê-los pelo simples respeito de amar,

e depois da explosão da Vontade, na Contemplação sem resignação me acalmar.

E contemplar, dentre outras perspectivas,

a perspectiva só tua, que já na aparência, revela-se nua e crua
para se fazer amada,
para que por conta das dores de sempre se incorporar no amor uma espada,
me frear por motivos justos, porém inimigos do meu querer,
para resultar, em qualquer investida, em mais um não... Não quero crer!

Linda és, talvez mais em minha idealização,

mas o pouco que provei me obriga a fugir para o poema e para a canção,
e assim, me expondo como não consigo deixar de fazer,
procuro, na incerteza e no erro que é ter-te em mim, um viver
em que não serás necessariamente apenas mais um prazer barato de botequim
mas que compartilhe comigo tudo que pode, no íntimo, contribuir para o meu aprender; Enfim...

Sim, sei que pareceu efêmero e abusivo,

Não, não sei acreditar que foi só impulsivo,
algo em teu sorriso já me movia ação,
algo em teu íntimo pedia a mim inovação,
e na beleza de ver sua confusa imponência aos aristocratas,
me embriaguei, me perdi, mas não renuncio o querer que me faz parecer figura ingrata,
Figura esta, que fará pela primeira vez o papel de carrasco,
e por você, poder ferir uma mulher, para exercer o que
                       [o gênero bruto carrega e que sabes que tenho asco.

Fiasco, no fim, é o que toda mínima inteligência pequeno burguesa que carrego contém,

e de pequeno burguês carrego mais a criação do que o orgulho por um pueril vintém,
mas, como desertor da guerra do amor,
peço a Ogum, santo guerreiro, que compreenda o ardor,

aquele que impulsiona a guerra, coisa que ele é Senhor,
mas também nos faz mudar, nas vertiginosas marés de encontrar conjunto
                                                          [e compartilhar a Cor

que carregamos no sorriso, mas escondemos na vida social,
só para fazer média, ser o 'nunca triste': o clássico babaca banal.
E empurrar com a barriga o que não sinto no carnal,
E deixar de fazer alguém sofrer, e também terminar
                                   [por desprestigiar meu próprio carnaval.


A festa da carne, do sangue e das mentes que meu espírito pede,
Se me der essa chance, não posso afirmar o que sucede,
mas, podemos sim, amar além do que foi estabelecido,
e se não fizermos, ficará em mim cicatriz, não de amor vivido
e mal amado,

mas de um amor reprimido
e pra sempre esperado.

João Gabriel Souza Gois, 6 de outubro de 2013

Impasse Livre

E se tem que sofrer
para viver o que quer
qual o medo, sendo já mulher,
em se ver no poder?

Não entendo,
quero entender,
fico curioso,
mas também confuso
e me perdendo nos trópicos,
tropeçando nos fusos,
me pego com meus botões e parafusos
perdidos nos tópicos
que o enigma de tua alma
me faz decifrar.
Tudo isso sem sair do meu lugar.

E quanto mais decifra,
mais devora.
Quanto mais hesita,
mais demora.
Quanto mais evita,
mais chega a hora

Em que a ansiedade
de não querer o fim da liberdade
vira a prisão.
Se fala em liberdade, mas ela é retórica
para que nos momentos de exacerbação alcoólica
finalmente uma alforria barata
se torne dor de cabeça e culpa ingrata,
que estimula, no fim, mais a fuga do amor.
Só por medo do fantasma que é a especulação da dor.

E quanto mais decifra,
mais devora.
Quanto mais hesita,
mais demora.
Quanto mais evita,
mais chega a hora

A hora que o amor líquido,
escorreu e vazou,
e por pensar tanto no pesar de outrem,
acabou por não viver nem pra si nem pra ninguém,
e de tanto se julgar aquém,
só no sofrimento e na culpa se buscou amém
e assim, com seu sedutor olhar de desdém,
fez-te triste e a mim também,
e secou a flor,
não amou, não amei,
porque o tempo encarado como inimigo
vira o destruidor de qualquer pensamento além,
de qualquer alento de quem te quer bem,
te quer assim, bem consigo,
abraçada comigo,
liberando mais esse sorriso lindo
que tanto esconde em vertiginosas culpas tortuosas.

Goza, venha, goza comigo!
Goza, que o tempo vira aliado,
e a boemia, escola - não fuga.
e a poesia, vivida no suor excitado.
para que morra a pulga,
que atrás da orelha, tirou a audição
dos saborosos e libidinosos corpos entoando canção.

João Gabriel Souza Gois, 07/09/2013

Obs: Relutei um certo tempo para postar esse poema, mas acabei cedendo... Não interessa se será mal digerido - o que, em verdade, não deveria acontecer. A arte não pode ser reprimida.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ao Poeta da Vida

Se aos alardes já clamaste por bases sólidas
No fim, se funde e flui no tempo em liquidez,
Se o raciocínio acelera para o passional longe da lógica,
O lirismo é a redenção para a contradição de ser e criticar o pequeno-burguês.

A oxigênio-poesia, que vive flutuando no fluido que é o ar,
Só tu, sábio vasilhame, a deixa em ti escorrer,
o sal sólido das lágrimas e o espontâneo leito do gargalhar,
mostram em ti a mocidade, que sabe menos dizer do que viver.

Anacrônico no julgamento do passado,
e gênio inconformado com o passado no presente,
se irrita, arma, impõe-se como inconsequente,
por ter fé metafísica na humanidade com amor e sem fado.

E o fado português das vertiginosas ondas políticas,
não some no Partido que conserva hipocrisia,
mas os vícios de nacionalismo, em ti, vazo lírico, convertem-se em rebeldia
que agita o corpo não mais que a mente.

E no momento em que a boemia e a embriaguez ingrata
não forem suficientes para se rasgar em prosa de buteco,
ages já no escuro, roupando-se nas paredes de concreto,
para prender em rimas as valorosas sensações abstratas.

Sei bem como reages, mas nunca senti o que é ser você,
e fugindo da auto-sabotagem, te encontrei saindo da sombra
                                 [quando finalmente voltava à escola do ser
Saía eu também, bem sabes, dessa melancolia destrutiva
E, em meio a roda de samba e das burocráticas falsidades
Fomos da molecagem à projeção ativa.

Sabemos que no fim do leito do rio da vida,
o oceano é muito maior do que nossos olhos possam ver,
mas ainda assim sonhamos com o grito que ecoa como brilho de aurora,
pois nesse mundo, só há sonhos para os que são guerreiros natos do saber.

Axé, irmão de inconformismo!
Axé para todos que fogem do egoísmo,

e são egoístas ao argumentar,
por não conseguir suportar
a simplista e programada poltrona macia que é a hierarquia...

Quem dera se com a fala embriagante
pudéssemos atingir aquele instante
de epifania das marés da brasilidade
e lembrar que o amor livre não destrói a lealdade.

Pelo contrário!
Esses outros, amigos da posse e pelo fim do orvalho
Farão o papel de otário
quando assistirem o amor emergir.

E se, nas inseguranças, dispersarmo-nos
da intensidade de interagir,
deixaremos de reagir
contra os aristocratas do capital falho.

Que falha!
Quando passa a navalha
em quem expõe a linda comunhão humana...
A cooperação, desde a política até assuntos da velha chama.

E vendo o medo
vendar os arredores de conformismo,
N'outra história, que mais bem nos identifico,
Tu, Poeta, ascenderás como filho de Xangô!

É difícil, saber se reage ou se compreende a dor,
É difícil transpor ideias de cabeças de outras épocas,
mas ainda assim, na nossa jovem vida, sem muito do percorrido em léguas,
fazemos música, bagunça... Fazemos Samba e Amor.

É difícil, saber se reage ou se compreende a dor,
mas sei que entendes que além do ardor,

existe amor,
só não se sabe onde está,
e não basta só a nós procurar,
morreremos a cavucar
e morreremos no âmago desse mar,
para compreender que não importa o que lhe dizem,
O importante é que não deixe que lhe pisem.

Gauche!
Um brinde aos Gauches que não engoliram o deleite banal
da mais nova e sem amor desordem mundial!
E se tu lutar enquanto eu filosofo bobagens,
será pela liberdade, e não pela libertinagem,
que havemos de nos encontrar!
Um brinde, Poeta. Saravá!


João Gabriel Souza Gois, Agosto/Setembro de 2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Limpeza lírica

Venha até mim humildade
antes que eu passe da idade
de aprender a renascer
e deixe de renunciar à arrogância,
caia nos venenosos véus da ganância
e morra por dentro
por querer esbanjar pelo peito
pseudo-conhecimento e nenhum respeito.

Venha e me impeça de esbravejar,
impeça de esbanjar e ostentar,
e se assim, num barril, como um cão, continue eu a ladrar,
será esse - com lirismo in praxis - o meu lar doce lar.

Venha e me deixe libertar o instinto animal,
suspender as lodosas e imponentes construções de viver em meio social,
para que nunca desatente do lado espiritual
que no fim religa em legião

o que a filosofia e a religião
não encontram de ponto de encontro entre o vários e nulos Eu.

Zagreu!
       Espalhei os olhos que me guiavam por arrogância,
       para falar bonito, me mostrar com petulância,
       e durante a limpeza, vem a relutância,
       esta que me faz retomar em última instância:

É minha a ação! É meu o pensamento!
Mas não posso, mesmo quando - prepotente - tento.
Não posso guiar as energias do mundo!

Tomei posse de minhas ações!
Tomei posse de meu pensamento!
Mas não são minhas as razões
que fazem ser tão prazeroso o contato com o vento.

Valei-me Deus! Alá! Krishna e Tupã!
Obrigado - pela chuva - pela briga e pela bela comunhão; Xangô e Iansã.
Façam todos a mim ter a noção nada profana
de me redimir perante a natureza e perante a cultura humana.

Pois foi pedante querer ser o simulacro do mundo
e se desperdicei - no acidente ou no destino - a guia de sentimento sincero,
sei que o quê que eu espero
só é beber mais da água do amor, da humildade e da esperança,
para que através do atabaque o espírito guie a dança
da vida vivida aqui e agora mas também com o prazer e a dor da lembrança.

Afogue e esquente,
refogue e apimente
a mocidade,
para que não se recolha na maldade
e finalmente cante na chuva, ocupando a cidade.

Afogue o lixo e os coitados,
seja inimiga dos homens-transito alienados,
mas por favor não me negue o recado

de que naquela epifania teria eu amado ou injuriado.
Sábia são vocês, Iansã e Nanã, que na chuva e na lama,
não tenham dispensado,
que a injúria e o amor, ambas à beira da cama,
são o mesmo em substância: Vínculo único, oposto e ainda assim misturado.

Oxalá! Humildade!
para que eu voe desse momento em que cismo...
Voe por cima, mas não ignore o abismo
e me redima de uma vez do pecado do intelectualismo.

Epa Hei, rainha chuvosa!
(mistérios dionisíacos implícitos, não minto)
Kaô Kabecilé, justiça vistosa!
(Amo, erro, vivo e sinto)

E como sinto...


João Gabriel Souza Gois, 23 de setembro de 2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Anthropos

Se de ontem partir,
onde era parte mar,
parte rio - saciando a sede,
se encontra energia além dos olhos.

Sede do repartir,
onde ande o espírito ao coletivo,
mas livre também para não socializar a brutalidade.

Vejo em mim reflexos conscientes
de ânimos dissidentes com os vários conceitos de verdade.

Vejo no ideal impossível e translucido à mente
a vaga e vã ideia de estabilidade.

Se de onde parti,
comecei, independentemente do absoluto,
com relativos e proporcionais setenta porcento d'água...
E não é a toa que há sal na lágrima e no suor
nem sede de doçura no rio-tempo ao meu redor.

Deixe a subversão suspender a normativa,
ponha em amor Oxum e Jurema,
e verá que não há em viciados e humanos emblemas
o que as árvores carregam de poesia sem poema.

E as árvores que nos permitem ar e beleza,
raíz e comida na mesa,
só crescem com... Água.

A Lua balança a maré
que afoga o bêbado.

O bêbado chora salgado
e dilui a lágrima na doce saliva querente.
Um filho da cultura mais antiga e imponente:
Dionísio Zagreu, espalhado e ridente.

O líquido é nossa forma
e a distância entre as Águas de Março
e a Água de Beber
não podem preceder
o disforme - apesar de diferente - em comum.

Nossos diferentes conteúdos
não mudam nossa comum desforma...
Só precisamos nos entender de uma vez,
para fazer do Amor o canal sem cano
e transformar a humanidade em um embriagante e salobro oceano.

O uno intermédio entre mim e tu,
Saravá! Axé! Ubuntu!


João Gabriel Souza Gois, 27 de agosto de 2013

OBS: Não postei quando escrevi e não me lembro muito bem o motivo, mas em meio a umas ultimas reflexões e escritos, é um poema bem conveniente e que, apesar de meu, gosto muito.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

À filha do mundo

Ando meio atrasado com o que não ligo,
mas ainda assim vejo no aleatório um descompasso comigo,

e, o que sempre me fez lento, calmo, reflexivo,
me deixou a parte, leso, diminutivo.

O que será que há no espírito
que mesmo quando se sabendo organizado,

rasurando e mensurando cada significado,
ainda insiste no que sabe que não o alimenta?

É assim, que mesmo acelerada a mente,

as palavras saem lentas,
pois a legitimidade do que se diz,
não concorda com o direito de imaginar no que se pensa.

Há, no fundo de tudo, uma cabeça densa,

que flui menos categoricamente,
quando os cantos, discursos e o entorno do ambiente,
confluem numa convivência mais calorosa e menos tensa.

A pós modernidade, e seu camelo querendo ser leão.
A foz irreconhecível da infalivelmente errônea especulação.
Atroz rimas de covarde, que já se sentindo com a devida benção

ainda se topa, no meio das pedras do caminho e dos paus esculpidos
em forma de cara (nos rostos vizinhos) com a auto-depreciação.

Se diminui, não necessariamente por opção,

mas enfim, não quer ser Deus,
quer conhecimento por sua natureza,
quer sorrisos, para fluir sem medo na correnteza,
quer menos jaulas da civilização e mais carícia às tigresas,
mas a antropocêntrica mania de frear, com a Moral-represa,

o rio lindo dos encontros e desencontros da humanidade
me fazem voltar a mim culpa, veneno dos fracos, e não responsabilidade.

Saibam que daqui, com minha pequena canoa chamada individualidade,
já observei vários cenários da vida agitada de mar em instabilidade,

e só absorvo tanto da metáfora da maritimidade,
quando não consigo diferenciar o refúgio lírico de uma tempestade.

Mais que espelho, crio vozes que em mim ainda estavam retidas,

e, em meio às imagens e significações, lembro de trechos da vida,
sempre permeio, nas vertiginosas e embriagadas neblinas,
um momento cinza, e mais tarde, um de "Terra a vista" (cheia de árvores floridas).

E quando me topo, como ser do Tempo, mas também como Eu.
Quando me reconheço em uma dupla ontologia de Ser e Devir.
Quando extraio o que posso de Nietzsche, mas também de Hegel,
de Sartre e de Schopenhauer,
ainda assim, em meio as meras e pequenas banalidades,
me engano com uma necessidade,

e fico à deriva.

Nem se sabe mais se falo do Rio, do Mar, da Chuva ou dos Aquíferos.
Sou tão água, que não nacionalizo fonte, não classifico cientificamente seu tipo.
Sou tão não e ao mesmo tempo sim: um moderno líquido, pós moderno mórbido-vívido,
que nessas fúnebres ressacas de mar agitado,
 e nas outras correntes de mudança de rio calmo e habitado,
percebo que o grande hiato entre mim e minha arte
na verdade só existe
pela velha concepção que persiste,
pois o vazio do ser materialista e historicamente egocentrado,
se revela entre ele e o próximo numa distância tão grande de mentes

e tão pequena de espaço,
que a cada passo no chão cinza,
minha alma que já viu cor,
se lembra apenas do que quis por

como prioridade,
e eu não sei se por meninice, 
ou por desonestidade,
me agarro num galho das margens,
paro um pouco, olho as paisagens,
e derrubo um pouco de mim em palavras,
vejo nos poemas minhas pequenas larvas
e não consigo dissociar em palavras de distinção,
o viver, o criar, o pensar, o querer e a arte em ação.

É tudo tão eu!
Mas nada disso é meu.
Preencho minha individualidade,

mas presto serviço à humanidade.
Seja na canção alegre e salobra do ridente,
ou no alto-mar do olhar perdido do ainda vivo moribundo,
a arte sai de um ser e de um tempo presente,
e mal foi concebida, já é filha do mundo.

João Gabriel Souza Gois, 20 de setembro de 2013

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Astro-Ego visto pelo pequeno Eu, pela Objetiva.

Sempre vi o babaca que via o mundo correr
e que não conseguia esconder o que quer.
E ele se sustentou, pôs a faca na mão,
cortou o queijo, ficou em pé.

Não dependia mais das coisas só mundanas,
mas só se acabava entre sonhos românticos nas praias e savanas.

E nas coisas que tangenciam o mundo,

no abstrato e no metafísico, viu um fluxo impossível de ser estudado,
mas com o badalado espírito chacoalhado,
voltou ao chão, ignorou o fado,
e com o pé no chão, mais fortemente pressionado,

se recolheu no cérebro com a ideação estimulada por querer um saber apaixonado.

Assim, com o Devir tendo tantas cabeças de possibilidade,

e o Ser como o que influencia, pelas escolhas, na probabilidade,
se viu no fio da navalha e com pouca idade,
para sustentar que se sustentava em pé.

Mas se forçando a ser sólido como nada é,

bastou um pouco de paixão, perfume e calor de mulher,
para desaguar na modernidade líquida,
e perceber que a mocidade, apesar de vívida,
não norteia, com 'Télos', como queriam os otimistas,
nem bobeia na Vontade, como insistia o gênio pessimista,
mas escolhe, nesse fluxo interminável,

um momento lógico e outro amável,
e não vendo lógica nem amor na maldade cotidiana e implacável,
se perdeu na fuga embriagada e não na boemia embalada,
e sem perdão, noção, varinha de condão e fada,
os contos infanto-juvenis são vistos como uma péssima piada,
e olhando, sem saber o que dos outros está em si, e o que de si é o puro nada,
viu o auto-flagelo como saída para glorificar a mágoa.

Depois, mutilado e com os pedaços de si dispersos à jusante,
encontrou a fenomenológica e artística consciência transcendental,
e Husserl, em um pesadelo, lhe disse, com tom abissal:
'Volte a ter controle do corpo e da mente mas saiba no final,

que a consciência que é para si, é limitada ao nervo, ao sangue, ao tato e à intuição animal
e que o espírito é o ponto de intersecção entre os valores que nunca têm raiz só individual,
e ele se escapa, não no auto-flagelo,

mas sim quando, como bruto animal, sabes que está certo
                          [mas hesita, ano a ano, a destroçar em pedaços o Soldado Amarelo.'

O Soldado Amarelo que resta em si,
A Lei do prussiano super-ego,
A Punhalada no peito do Orgulho Macho-fétido,
que deixa um rio reprimido em represa,
pra conveniência do luxo de quem come sobremesa,
e faz do espírito do tempo e do tempo aquoso;
do intuito, experiência, libido e almoço,
da sede, do amor, da lágrima e da convivência:
Um bruto, incondicional e moralista pecado.

Ah, como é bom um amor recíproco e amado!
Livre e responsável,

de mão quente e afável,
intimidade, confusões e beijo molhado.


E que no encontro das almas,
se encontre coragem e calma,
para destruir o que resta de vírus do tempo:
O olhar longínquo, perdido
triste e reprimido
do destrutivo e gratuito desalento.


João Gabriel Souza Gois, 11 de setembro de 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

Asco de gênero (degenerativo)

Maldito seja esse espectro que me circunda,
essa mão pesada, de violência profunda
e histórica. Do gênero violento em que me acho

que se faz, através da dor, o macho.

Nego! Nego no instante presente
a força pungente
que meus patriarcais
ancestrais
me fazem carregar nos ombros.

Será sempre esse gênero masculino o responsável
pelos escombros e incêndios da animá!
Será sempre o assombro maleável
dos músculos pretensiosos que me freará.

Não! Não e não!
Dessa vez não justifico nem legitimo a fuga,
agora vejo o dilema em forma substancial
de ganhar à força, como bruto animal,
o domínio das arbitrárias e artísticas semideusas.

Percebam! É raiva legítima!
Não me cerco da argumentação de quem se faz de vítima,
apenas percebo o peso insuportável
dessa mão, que mesmo querendo ser afável,
no fim fere.

Homem! Quem é você!?
Onde está sua identidade?
Se resume nessa imaturidade
que destrói Afrodite!?

Acredite que pode reger o que não sabe,
seja assim, um prussiano covarde,
que faz do mundo pura funcionalidade,
com sua vã racionalidade,
enquanto fere as rainhas da sensibilidade
e nunca confessa - nesse orgulho fétido - o Amor.

Crie dicotomias na sexualidade,
Diminua a diversidade,
mas nunca reclame, quando embriagado de imbecilidade,
do seu odor imanentemente nojento.

Em mim, o que resta é me perder,
há Amor, nisso não paro de crer,
mas me perco
pelo cerco
que esse asqueroso gênero me fez enclausurar.

Como, com anos de estupros e violência na mão masculina,
poderei eu finalmente acariciar a alma feminina
que tanto está em mim quanto nelas?

Resta, no peso histórico que trago comigo,
tentar provar que não sou inimigo,
mas como amá-las sem leva-las a dor?

Aos homens que assumem o asco de gênero como ofício:
Generais, patriarcas e frades promíscuos,
se escondam nesse peito de galo e sejam omissos,

mas nunca reclamem que lhes falta amor!

João Gabriel Souza Gois, 15 de agosto de 2013

O Paradigma das pernas é manifestado: desconforto escrotal quando entre-coxas.

Sou Anonymous ou sou coxinha?
Roubei a máscara da vizinha.
Quero muito o mundo mudar,
mas sem debate! Engole a pauta que eu mandar...

Canto os símbolos do Brasil,
mas não conheço seu sangue febril,
conheço doença, mistura pura, descaso e direitos do torcedor,
de disciplina, compostura: passado fosco que guardo amor.

A mim cabe os poderes da indignação,
sou novo na casa, mas mando e invento canção.
Vamos a Maresias: somos populares.

Vamos unidos, vamos, não pares!
Desconheço os ventos das maresias populares.

A mim, papai me disse, me cabe a decisão,
vocês que respiraram gás, luta e insistência,
me afirmo prudente, com veemência,
e deslegitimo agora, com passe livre.
Previdência privada de república isenta
Me livro da PEC,
mas não conto ao moleque
o que ela representa.
Te dou 5 Causas,
e ofusco as causas
de tanto caminhar.

Paguei o parquinho,
me vesti de canarinho
e mandei abaixar vossa bandeira.

Pois comecei andando de canto,
olhei a movimentação da beira,
mas agora que tomei gosto,
tomei posse da brincadeira,
e como iluminado pela minha vaidade,
não mostro minha cara de verdade,
mas incito com ritmo e canção,
a marcha fúnebre da grande Nação.

João Gabriel Souza Gois, 20/06/2013



OBS: Postado com indignação em meio ao rumo desvirtuado que os protestos de Junho tomaram, pela direita minoritária e a grande massa de manobra que nunca soube o que reivindicar e absorveu pautas genéricas de falsos Anonymous ou da Grande e Falsa Mídia. Agora, em Agosto, as ultimas manifestações foram novamente desvirtuadas, como na última sexta (2 de agosto), em que Chupadores-de-Coturno se misturaram ao povo. Eu não tinha postado, porque não gostava do tom desse poema, já que parecia dar a esquerda um título de dona da rua - ideia mórbida só de bater o olho. Mas depois do revoltante ambiente, posto novamente, e que fique claro que sou totalmente contra a auto-intitulada 'Vanguarda' e igualmente antagônico em relação à opinião de alguns amigos da esquerda que se predispuseram a desqualificar as manifestações e ainda pretendiam não mais participar das mesmas. A esses, um recado: Esquerda não tem medo de povo.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Anarchowissenschaft

Que todas as entidades a mim presentes,
as orgânicas, as metafísicas e as dissidentes,
percebam que quando o fluxo de minha gente
tende a tentar furar a mentira histórica
do Jesus louro, puritano e pária,
-negando o real e subversivo mouro, anti-estadista e sem pátria,-
do Brasil bobo, simplista, consumista e sem gingado
- não o subversivo caboclo, resistindo em bamba, mas ainda acorrentado.

Agora que tende a tentar,
os jagunços vão chegar,
vão gritar que são a lei,
lei sem poema, sem emblema, nem humanidade,
lei-escudo para a cama do covarde,
mas ainda assim, o sacolejo
-já disse a mim a baiana-
só vem depois de respirar.

E não interessa o que se respira,
se é vida, arte ou gás,
não interessa o que se inspira,
sabores, amores ou paz,
só interessa o que se identifica,
em meio aos vultos do simbolismo vazio,
como nação para o povo,
Como nação-povo-substância-bamba
Como pátria-comadi-infância-samba
- chega da nação dos falsos quadros com cavalos na serra.

Subestimem nossa inteligência,
e cometam a negligência
de achar que não sabemos
que cavalos não sobem serras.

E aquela mula que carregava
Pedro-luso,
representava o Brasil.
Nunca ele, sempre a Mula.

A mula que o assistia
cagar
ao aceitar
nossa primeira dívida
em troca de uma independência retórica.

Independência que ainda tarda,
pois calçamos botas nos bandeirantes,
independência vazia,
pois a cultivamos aos nossos ouvidos reprimidos
mas jamais a praticaremos
com estas mesmas mãos com as quais tapamos os ouvidos. 

Nossos consagrados assassinos
serão assassinados pelos
nossos esquecidos heróis,
que hão de um dia se levantar da cova,
junto com Jesus Mouro e sua Corja-subversiva,
E gritar ao mundo inteiro:

"A era de Aquarius nunca acontecerá
'Sem Violência'
porque eu 'não vim trazer a paz, mas a espada!' "


A libertação não será embriagada

de porrada
pura e gratuita.

Será violenta, organizada, autônoma e elevada.
Violenta ao passo que expõe a pobreza de espírito dos seres morais.
Violenta assim que tirar o monopólio da violência e da paixão.
Violenta assim que criar o pluripólio do amor e do outro como irmão.

Violenta como uma suave, serena, terna e lírica poesia em alemão.

João Gabriel Souza Gois, 1º de agosto de 2013

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ipse Venena Bibas

Às vezes acho que quero ser mais poeta do que realmente sou. 
Por isso finjo tanto no poema, na canção e na rebeldia.
Lirismo de meia tigela, tigela feia, velha, mas minha.
Degela a psique em momentos de ferida, de rinha.
Aquece o meu ser, o vir-a-ser virtuoso do novo dia.
E escrevo versos com pobreza, até leio, mas enjoo.

Até que então, anos depois,
Leio aqueles versos feijão com arroz,
E me sinto genial.

E percebo, que afinal,
Leio diferente de como escrevo:
O vômito nunca tem o gosto do que bebo.

João Gabriel Souza Gois, 25/07/2013

terça-feira, 23 de julho de 2013

Elas

Se cada uma delas soubesse que têm, elas todas, cada uma sua poesia.
E não me imponham a autoria!

Esqueceu, naquela noite, o que me dizia?
Como tu sorrias?
O quanto aquela energia,
fazia a vida, meio cheia ou meio vazia,
uma fonte rica de epifania?

Lembra da sua pele escura pressionando meu corpo?
Do nosso amor bobinho que mais valia a mim que qualquer ouro?

Lembra dos seus loiros cabelos roçando meu rosto?
E meu medo bobo de me perder no posto?

E você, lembra das cumplicidades e segredo da nossa comunhão poética?
Da nossa redenção orgânica da sensação cética?

Sua inteligência escondida na simplicidade?
Não lembra, porque aí, já é meu poema.
Já é meu julgamento em ideia,
não em carne, nem em vida.

Mas estou cansado de encher palavras e emblemas
e esquecer-me de pintar um novo semblante no dia,
vocês todas me ensinaram em proporções diferentes,
cada uma deixou um laço próspero e uma dor revivente
mas digo, não só com letras, mas com todos os dentes
que tudo que me deram, foi muito mais que presente,
foi um passado embriagado de significado,
um futuro com referências de amor amado,
e percebo, eu, o que sempre se perpetuou com fado,
eu, sempre vítima por mim mesmo vitimado
manquei-me, não só no verso ritmado,
mas no ritmo badalado de vossos corpos suados
que, fale eu o que quiser,
admiro demais esse poder e potência de se saber mulher.

Bruxas sensíveis.
Brutas e incríveis.
Tudo que um texto não põe,
Elas põem em um olhar,
seria bobo qualquer homem que nunca,
por nenhuma, se viu lacrimejar.

João Gabriel Souza Gois, Abril~Julho 2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Entidade Grega e a Entidade Negra.

A flor de minha pele
furou a mentira da minha mente.
A cor da minha sede
se limita no desenho de seu corpo.

Seu corpo que hoje
apenas conheço como entidade platônica.
E meu amor, que já não sei se também
não passa mais de uma ideia...
Daquelas à prova de bala, à prova de flor,
à prova de dor.

Quanto mais eu gaste dos nervos,
quieto, mais eu me rendo no coração
e percebo que o fingimento d'outras canções
são mais verdadeiros do que a antiga flor de minha mente.

Se à flor da pele,
a flor feia, que furou a derme,
não é a antiga flor de minha mente,
que flor, que tanto pouco diz como muito sente,
presencio então?
Seria apenas resistência alucinógena
reativa à solidão?

Entenda, por favor,
esse emblema
que trago no poema
muito transita por memórias,
histórias e pensamento,
mas nada muda no ritmo lento
com que se atrasa um verdadeiro e terno abraço.

E, sem braços, meu amor sem substância,
meu amor metafísico tirado da lembrança,
apenas adverte, em seu poder de herança,
para eu andar logo e começar a amar.

Maldito vasto mundo?
Bendito pasto mudo!?
Maldito Lobo-cordeiro!
Bendito seja o Santo Guerreiro!

Que de mim quer distância,
pois em última instância,
me vê, em meio a guerra do amor,
como um covarde desertor.

João Gabriel Souza Gois, 22 de julho de 2013

Obs: Aos olhos platônicos, um amor. Aos olhos de Ogum, um desertor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

De mim, pelo mundo, para ela.


A mim meu coração não mente
e meu cérebro nada sente,
a razão do amor penitente...
Essa sim faz de um louco, um doente.

Homem outro, é o do mundo aparente
O homem são e onisciente
não dá atenção para as metáforas do inconsciente.
Reduz o universo ao diâmetro do olho
e põe suas reflexões metafísicas de molho.

Quando crê no passado resistente
e resiste ao humor do presente
faz ideia para o simbolo da gente
só não nos olha no olho,
e perante o que somos, somos enganados,
e o que perpetuamos são grihões 
e o que importamos é pressa,
vamos nessa da cultura ao lado
enquanto da nossa dor, do nosso gado,
resta o mesmo velho cerco fechado.

E o palhaço, magoado
com a mímica média a que se enquadrou,
quando no desvio padrão se rebelou
lhe foi queimada a pele, distinguindo o boi adoidado.

Ainda assim, no clima nada mutante,
sob as mesmas estrelas relutantes,
sobressai a esperança que brilha atrasada
das estrelas ontem vivas
que ainda insistem iluminar.

E fito seu cansado olhar,
virtual e intangível,
pairando o universo incrível
da rede dos homens solitários...
Sólido e otário permaneço
e em seu olhar de píxel, anoiteço,
vendo um amor que agora não mereço
mas reconheço como potencial.

E meu não mais presente frescor de orvalho
me hipnotizaria com o imponente escudo de carvalho
com que defendes o que queria que fosse meu amor.

De mim, pelo mundo, para ela,
à dor do mundo e à minha dor paralela,
o sabor que imagino rimando com canela.

Ah, freio antes a presença que não veio...
Freio meu animal anseio
E meu humano bobeio
que viu nesse subjugado seio
áurea descabida,
apenas quis, frente outra dona da vida
já devidamente acompanhada.

Minha boca não fala nada 
e na redenção atrapalhada
lhe desejo, assim sozinho,
sem um beijo, sem carinho,
que desfaça esse afortunado homem
na mais bela melodia.

Pois enquanto os viventes entoam-se em música,
os sórdidos párias vomitam poesia.

João Gabriel Souza Gois, 15 de Julho de 2013 (iniciado em 02/07/2013)

Obs: Feito à luz de uma nova, interessante e impossível paixão. Tomara que um dia nos conheçamos. Mas ainda tem um mundo inteiro no caminho, com olhos falso-empíricos e devaneios materialistas, para chegar ao fato... E de fato, nem a presença real é factual. Deve ser uma daquelas paixões mais por admiração do que por convivência... Daquelas bem fingidas e mal vividas. (:

terça-feira, 25 de junho de 2013

Vontade libertária

Usava botas de couro e olhares de Abate,
Calçava o segredo trágico dos coros e o sabor do deus Marte.

E eu, no deleite de boi abatido,
ferido

e finalmente livre,
fiz do olhar curioso
o limite de meu gozo

e fosco, fraco
me fortaleci em sua clara e silenciosa renúncia de mim.

Ah, meu amor efêmero mais eterno dos
                                              [que os fingidos poemas românticos
Fiz da contemplação platônica um impedimento do vir-a-ser da dor.

Sou eu um ridículo poeta fingidor,

pois para o cerne metafísico das coisas, da dor primordial,
tento embriagar de devir imagens estáticas e estacionárias da poesia.

E o que será que não é fingido?
No âmago caótico do universo sou um pequeno universo quântico.
No interior oculto das existências e coisas, só enxergo imagens aparentes.

Sim, apesar de outro, sou o mesmo do amor penitente.
Sou o intolerante pregador da tolerância.
Sou todo o paradoxo e incoerência da razão pura de mim mesmo.

E que saudade de me jogar a esmo!
De renunciar dessa condição de indivíduo!
Mas não mais me divido!
Não corrompo mais almas na união delas com a minha.

Encontrei o ideal estético de Schopenhauer,
Renunciei a vontade e contemplei a obra de arte pura e natural que és,

Óh! Divina semideusa transeunte aleatória!

E dessa contemplação me pego cultuando a imagem do que és!
Contemplo sua apolínea e onírica redenção na aparência,
nessa condição de platônico atônito,

mas não ouço a música que há em ti...

Não posso ouvir o ditirâmbico pulsar de seu cerne existencial,
não posso conhecer-te,
não posso me metamorfar, nem atingir nenhum êxtase dionisíaco contigo...

Só estou cá comigo,
contentando-me com o couro que aparenta sobre átrios e sob Animá.
Contemplando a verdadeira estética burguesa e moderna:
mas sem o calor revolucionário dos povos,

sem a selvageria lírica da natureza titânica,
sem a sabedoria singela dos anciões agrários...

E o fingidor que sou cansou-se, entende?
De consolo metafísico sem amor,
de versos perdidos de dor...

Quer não mais a verdade mentirosa
- a da moral e aparência; a do padrão estético e funções seno -
mas uma mentira saborosa,

como a que esconde por trás dessa onírica presença imponente...
Mentira esta, que nunca cairá...
Que se revelará com outras dessas mentiras,

fazendo de ti, outra, para que outra não seja necessário.

Quero a mentira de quem goza ser o otário

que perdura e perdoa
pois sabe que além do princípio de individuação
(e sua metáfora da canoa)
o seu pequeno universo de abatedora

trará uma dor arrebatadora
da qual não renuncio,
mas inicio uma nova carreira de devir
que me sacudirá tanto de ir e vir
me dando paz ao intuir:

Contigo eu seria preso a algo além da estética beleza:
O ser mais livre da titânica natureza!


João Gabriel Souza Gois, 03 de junho de 2013

Obs: "Como é bom poder tocar um instrumento..."
                       

domingo, 16 de junho de 2013

Nacionalíase

A ordem é uma concepção patética.
O progresso é uma ilusão.

Que bandeira seguimos tão em vão?

João Gabriel Souza Gois, 10 de junho de 2013

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Contemplação

Ranzinza segunda-feira cinza,
O que esconde em suas nubladas nuvens que inspira tamanha melancolia?


O que, em teu horrendo clarear, quer me dizer de fato?
O que, em seu intenso poluir e transitar metropolitano, me atinge?

Da secretária do dentista só se sabe
a sincera sintonia com os relógios; afim de saber
através da rítmica de ponteiro indiferente, a hora da alforria.

Do sectário panfletista só se soa
a ingênua vontade de mudança coletiva; os fins do seu saber

são discursos nada sóbrios de ideologia.

E tu, imponente dia de semana,
pautada na ignorância individual e na ingenuidade política,
pautada na miséria, no lixo e na covardia,
permeia, em mim, ignóbil ser poético,

o seu senso nada ético,
sensacionalista até no fétido
permear moribundo.

Até que em meio aos mercados,

aos transeuntes despreocupados,
em meio a todo aquele cenário Drummondesco
de Náusea existencialista,
como que pseudo-sabedoria de especialista
me surge outro disfarce de vida vistos

na superfície e ao olho nu:
Trajando couro,

antítese do ouro,
demônio de Vontade,
inestética beleza:
tamanha a frieza
de vossa Flor.

Floresceu em mim então uma cor,

um prelúdio musical que prepara e convence a cabeça ao fazer poético.

Floresceu um poema,
um dilema e nenhum semblante.


Passei platônico e desapercebido,
tamanho inimigo estou comigo,

negando a ação e metacrítica,
portando Cigarros e suco de fruta cítrica,
me percebi no Caos e alheio,
nem senti os degraus e o frio que veio,
só a beleza inestética me afetou.
Inestética e insistentemente musical:
me floreou o cinza quintal,
e percebi de onde vem...

Mas não pra onde vai.

Feia segunda feira,

onde seu esconderijo indecifrável
- de garoa e carbono -
guardava tamanho mistério?!

Tiraste a atenção solar,
o Apolínio iluminar,
evidenciaste o horror que é a existência

e me provou, com decência,
que não és péssima.
És uma otimista trágica,

pois só colocaste aquela letargia feminina em meu caminho
para perceber, que mesmo sozinho,
ainda Sou.

João Gabriel Souza Gois, 03/06/2013

Obs: A Schopenhauer me bastaria dizer que sou grato por sua existência na mesma medida que me assusto - e contemplo - seus escritos.



quinta-feira, 30 de maio de 2013

Àurora

Quando ainda nem podemos dizer que completamos nossa vivência,
Quando o existencialismo nos diz que ainda falta essência,
Poderemos todos - amigos e parentes - vivenciarmos a experiência
e trocá-la
com um ser que ainda não fala
mas que está fadado, como todos dessa humanidade enlouquecida
a aprender com a ferida,
e mesmo sem ainda respirar sozinho,
esse ser pequeno, criado em ninho vizinho,
já suspira ou anseia vida.

Oh amiga, que conheço mais pelo silêncio sábio
do que por minha fala exagerada,
você será a primeira fada,
a lançar feitiços dentro de si mesma,
para que o entorno engrandeça,
e não pereça,
como a juventude hoje faz.

Num mundo de matança,
e de desarmonia,
meus raros e verdadeiros amigos de poesia,
deram luz à Esperança.

João Gabriel Souza Gois, 30 de Janeiro de 2013.

Obs: poema dado de presente a dois amigos (especificamente dado a uma amiga, no aniversário) que hoje pintam o quartinho de Aurora. (:

Pátria-Comadi-Gentil

Como me sinto preso aos limites de um corpo aparente!
Como quero apenas união entre toda essa gente!
Floresci no péssimo por ver consolo-metafísico-reativo,

mas quis fugir dele, quando tomou forma convicta de Ser altivo.

Ah! A tragédia!
Como pode ser tão fantástica?

só o é como todas as coisas da cultura ática,
e lemos, mas não concebemos infinitude,
helenos: universais em plenitude.

Quantas leituras modernas,

levaram suas reais riquezas ternas,
a aparecerem projetadas em cavernas
e perecerem enlatadas em conservas.


Helenístico: o exemplo do futuro no passado,
(pois o mundo globalizado está tomado
pelo Rei-abençoado de sagradas propriedades)
tem na sua miscigenação
uma insurreição de novas formas,
de novas músicas,
de novo mundo.

Mas de novo,
lembro da pós-modernidade,

e vejo que enquanto ela está fadada
à baixa espiritualidade e empatia,
reparo que na transição é onde agendei minha estadia,
e volto a mencionar a palavra que tanto repetia:
Estamos na Supremacia do Devir,

numa velocidade tão acelerada,
que consequência natural é sentir uma abalada
na estrutura (individual e coletiva) que nos carrega.

Mas de novo,
lembro do Brasil,

e vejo que a brasa não está só em seu nome,
vejo que foi artificialmente preenchido por aristocracia e renome,
mas que tem na sua essência tribal e primitiva,
primeva e construtiva,
um gigantesco prelúdio de misturas,

que mesmo que posteriormente presos a verticais e imponentes estruturas,
foi rotulado - no período de consumo -  como sociedade passiva,

daquelas que só engole fezes e saliva.

Isso é patético!
Seus nulos exemplos franceses e escoceses

os fizeram esquecer a origem da própria identidade!
Esqueceram-se do Canto das Três Raças!
Esqueceram-se de Canudos!
Enlouqueceram-se e deram vitória ao autoritarismo,

para que depois de um período obscuro de bipolarização e despotismo,
se contentassem com o Estado Democrático de Direita.
Acreditam mesmo que essa estrutura não pode ser frágil?
Acredita que por si só ela se mostra hábil?
E quem preenche cada trâmite dessa coisa 'pública'!?
Olha só que conclusão epifanicamente extraoridnária:
PESSOAS!

E pessoas não são más, nem boas.
Meu nome é João Gabriel Souza Gois e o maniqueísmo não me representa.

Fácil chamar de mau quem só apanha,

fácil recriminar mas também usar a influência do malandro e sua manha,
Ao Brasil resta uma esperança que não acanha,
que chora, que rola, que é estigmatizada,

que tem sua fé negada perante aqueles que querem o fim da constituição,
mas que, incrivelmente, age como Comadi:

Comadi Brasil.
A mãe compartilhada de nós todos.
Não Cai, balança.
Sem Pai, mas dança.
Sem paz, mas com esperança.
Se esvai, mas alcança.


Não é:
Está
amuada com tamanha herança.


João Gabriel Souza Gois, 30 de maio de 2013.



Obs:
               




Frio perto dos quentes. Quente perto dos frios.


Maníaco da oposição.
Ao mesmo tempo que me entristeço por não poder ter-te.
Me gratifico por saber que não me terá.
Assim garanto alguma equidade.
Maníaco da negação.

Maníaco da presunção.
Me afirmo superior com palavras e produção,
pois me senti inferior com o contraste da sua sim e a minha não-ação.
Maníaco da subestimação.

Maníaco da aceitação.

Barroco ateu.
Romântico real.
Maníaco da contradição.
 

Tranquei todos eles no hospício de meu coração,

para que meu sorriso não sorrisse em vão,
e eles fizeram uma revolução
no meu espírito.

Idealista não quer parar de idealizar,
mas o diabinho pragmático sempre o irá lembrar
o quanto freiou ação para uma ideia.
Diarreia de tanto engolir o mesmo discurso para si,

para ti e para todos restou o não entendimento.

Esse rio já não carrega sedimento,

então o delta Soberano

que dividiria suas águas não é mais alimentado,
a consequência disso será um rio mais livre.
Sem delta Que o prive.


João Gabriel Souza Gois, 10/09/2012

Obs: Outra antiga, do mesmo período, com outro propósito e outra estética.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Independe de palavras.

Fui.
Irracionalmente.
Saciado.
Indiscretamente.
Ocasionado.
Lada a lado.
Outro
Guia de ideias.
Ia me monitorando.
Antes que tomasse conta dele.

Afeto.
Faz da paz algo maior que o conceito
e o medo de preconceito
traria freios
a quem
deve
antagonizá-lo.

pelo
eu
lamentei
outros

ciumes abstratos
lamúrias abortadas
a vida como moeda
moendo o que veta
antes mesmo de considerá-lo
razoavelmente inovador

depreciação do valor próprio
euforia inóspita.

forçado
ou não
resiste
çabidamente equivocado, logo no começo desse tropeço verso.
antes de saber
se

amanhã haveria coesão nesse conjunto de estrofes
ou se a vida era como um dia a poesia foi

e não se foi
só aparenta
precisamente, e atormenta
ímpetos positivos
recorrentes do
instinto que graceja
tudo atrás da alma que o valha.
outra desconexão.

Fazer!
a u !
     i a ?

Onomatopeias
é o que saem,
quando palavras não sabem
o propósito de serem concebidas.
Vidas e vidas de longa espera pela perfeição divina,
reencarnações em novos colos concebidas
e de quê adianta?
Se o fim do mundo pode anteceder o fim.
Se a morte é o fim do mundo.
Em carne sem espírito.
Transcendendo o paquiderme
para desgastar energia
em soluções que a mente descrê,
e o corpo reluta.
Fé e luta,
transmuta a culpa
e novamente a faz aparecer no espelho,
não fiz o ritual,
não concebi nem colhi alegria
e continuo vermelho
nos olhos.
Assombro.
E o escombro de cada relíquia de perdão
se converte em um vão,
vago vão vivencia em vão
os viveres de vertentes
e via não vê para vertebrar
a mente e encorpá-la.
A mente é o espírito.

Tinhas razão,
meu pobre amigo imaginário
da literatura espontânea que me defende dos olhares:
Malditas idéias fixas!

Parabéns Brasil,
o que comemoras
ainda almejo.

João Gabriel Souza Gois, 07/09/2012

OBS: Escrevi e postei num tempo de melancolia desmedida, mas essa mesma melancolia me tornava tão instável que certo assombro e medo (que os Clowns ignoram) me tomaram ao ponto de tirá-la do blog. Agora, relendo, vi como a adoro.  Amo horizontalidade, em todos os sentidos políticos/sociais/culturais que ela possa ser considerada, mas poemas, muitas vezes, podem ser verticais - e seus versos também (uma dica para não me acharem tão desmedidamente Dadaísta, apesar de admirar o dadaísmo e considerá-lo como mais uma das influências). Foi publicado primeiramente no dia 10/09/2012.

sábado, 11 de maio de 2013

Guerra

Meu drama é sem motivo,
meu drama é patético,
meu drama é anti-ético,
mas ainda assim é meu drama.

E só eu vou entendê-lo.

Mas eles todos pareciam tão adultos falando,
e eu tão criança, imersando o sonho na vida de modo tão presente,
que o desprazer recente é efeito da causa.

Todos andavam com suas próprias pernas suseranas,
e eu, como servo de um super-ego prussiano,
me cortei, ano a ano,
mas transei com os franceses...
Com sua palavra, seu diálogo.
Francamente...
Franco-prussiana ou do Peloponeso?


João Gabriel Souza Gois, 16/04/2012

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mãe X Natureza



Quanto da sua lágrima já não foi minha força?
Quanto da sua força já não foi minha lágrima?
Quanto do seu amor me aproximou os caminhos?
Mas quanto dele me afastou dos melhores?

Quantas perguntas que o amor não faz...

não há, em nenhum aconchego, maior paz,
mas, antes que diga que sou incapaz
de agradecer por cada momento,
eu digo, com lamento,
que isso foi apenas o que sempre o fiz.

Olhe para mim, criadora do céu e da terra!
Olhe!
E diga, mais uma vez,

aquelas quantas palavras que nunca diria em outro momento.

Como pude, então, descrer em Deus por conta de um amor

que seria mais transcendental do que o dele?
Ele dizia que devia amá-lo - como patriarca déspota que é -
mais do que minha própria Mãe...
E ainda pela língua d'outros homens - e sempre o vi

e o ouvi, como o maior dos covardes que fugiu e nos esqueceu há 2013 anos,
que não aparecia para falar,
 mas mandava outros déspotas em seu lugar.

Óh Deus! Como tu és uma Farsa,

pois a divindade maior é a da natureza,
e o maior amor é o de mãe.
E tu! O que és!?
Uma ideia humana,
tão amplamente valorizada,

que me faz crer na esperança
de que ideias mais sofisticadas
do que esses dez mandamentos
que também não mandou por si (covarde!)

- ah, se não fosse o seus funcionários... Tu o que serias?
Continuarias uma ideia, pois teus Reais funcionários são humanos,

e tua real origem também é... -
podem assumir uma valoração divina.

O que antecede o conhecimento da linguagem
para dar ideia a formas como a de Deus?
O amor materno.

O que antecede o próprio modo-organizado-moral
para nos provar, através de seu caos e beleza, que a vida é
antimoral e estética?
A natureza.

Não vi espaço para um Reino...
Reino dos Céus... HAHAHA, patético...
Reinos dos Céus?
Olhe as Estrelas! Deus Cego!
O que as governa é o Caos!
Mas o que as mantém é a auto-gestão!
Em nome de Proudhon, Marx e Bakunin!
Amém.

Mas e quando
a mãe é contra a natureza de seu ser?
Quando Pai nega o libido natural de sua Cria?
Essa oposição desgastante,

só parece ter reconciliação
no êxtase dionisíaco...
Mas hoje em dia,
as mães veem esse êxtase da natureza
como um crime...

E chegamos no Apocalipse.
A mãe-natureza, não consegue entender
o vínculo entre si e si-mesma, por conta do Pai-Deus

que a maltratou tanto, ao longo das culturas,
com seus funcionários humanos do progresso desumano
(dignos de um imortal)
que com o fogo de Sodoma e Gomorra
Queimou a folha da vida,

fadou pobres à ferida,
Trancafiou Ogum no estigma,
transformou o enteógeno em pecado
e postulou um ideal de geração,
de pensamento e de ação,
para que as mães se voltassem contra
a natureza de seus filhos.

Filhos-Robôs, bem-vindos à nova Era do Nada.

"Antes de existir o mundo, só havia o vazio"
E como era antes de nascer?
Igual depois que morrer.


João Gabriel Souza Gois, 17/04/2013

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pequeno manifesto à esquerda contemporânea.


     Tudo começou quando li um texto sobre pesquisas que afirmam que a prática ou a ideologia de direita é, salvas as exceções abordadas, abraçadas por pessoas de menos Q.I, coisa que antes parecia um problema emocional.

     Ao meu ver, esse cientificismo intrínseco da nossa sociedade tem mania em sintomatizar comportamentos/opiniões e buscar suas causas psicológicas e/ou cognitivas. Até aí, ao meu ver, algo totalmente plausível se isso não acarretasse na valoração de comportamentos específicos como algo psicologicamente ou cognitivamente mais adequados, criando - quase que sistematicamente - um abismo entre a maioria e a minoria: quando as diferenças passam a ser anunciadas como produtos de patologias e de insuficiência individual e não de questões envolvendo o relativismo cultural e a contribuição coletiva. Um freio para a propulsão e propagação da democracia, em termos gerais.



           Segue o texto:
                 Pessoas menos inteligentes tendem a ser mais conservadoras e preconceituosas.

      "Não é nova a idéia de que o conservadorismo e o preconceito estão ligados umbilicalmente. Vários estudos já realizados chegaram a essa conclusão. A novidade é que o posicionamento conservador e o preconceito podem estar ligados à baixa inteligência. 
       Um estudo feito por pesquisadores de uma universidade de Ontario, no Canadá, chegou a conclusões bastante interessantes: adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas tendem a ter atitudes conservadoras e preconceituosas (racismo, homofobia, machismo etc). 
       O estudo foi dirigido pelos pesquisadores Gordon Hodson e Michael A. Busseri, do departamento de Psicologia da Universidade Brock, de Ontario, e foi publicado pela revista Psychological Science. 
      Os dados levam a crer que as pessoas menos inteligentes se sentem atraídas por ideologias conservadoras porque estas exigem menos esforço intelectual, pois oferecem estruturas ordenadas e hierarquizadas, onde o indivíduo pode se sentir mais confortável.
É bom deixar claro que inteligência nada tem a ver com escolaridade. Há vários exemplos históricos (como a Comuna de Paris ou a Revolução Russa) em que as classes mais baixas e com menos escolaridade se mostraram as únicas capazes de pensar de maneira progressista. 
     Hodson afirma que “menor capacidade cognitiva pode levar a várias formas simples de representar o mundo e uma delas pode ser incorporada em uma ideologia de direita, onde ‘pessoas que eu não conheço são ameaças’ e ‘o mundo é um lugar perigoso ‘…”. 
    A grande contribuição dessa pesquisa pode ser a criação de novas formas de combater o racismo e outras formas de preconceito. “Pode haver limites cognitivos na capacidade de assumir a perspectiva dos outros, particularmente estrangeiros”, entende Hodson, já que a crença corrente é que o preconceito tem origens emocionais, não cognitivas. 
        O que será que Marco Feliciano e Silas Malafaia têm a dizer sobre isso?" 


      Partindo dos comentários que li no site onde o texto foi divulgado, resolvi escrever um texto que - independentemente da veracidade - tenta sintetizar porque que a esquerda não deve usar essa premissa como argumento político, daí então, escrevi esse texto que chamei 'prepotentemente' de Pequeno manifesto à esquerda contemporânea :

                                          Pequeno manifesto à esquerda contemporânea

Esse é um argumento precisamente falho (o de que 'pessoas menos inteligentes tendem a ser mais conservadoras e preconceituosas'), se for usado - com tom de autoridade - por um militante de esquerda. Mesmo que haja estudos e meu instinto me obrigue a concordar, isso é uma maneira de criar peso ao discurso da esquerda por uma via de enaltecimento intelectual, e não a partir do desgaste ideológico da direita.

A noção quase de senso-comum da necessidade de direitos (o aparecimento do movimento LGBT em discussões legislativas, condições de trabalho adequadas e as largas discussões sobre minorias no Brasil e até mesmo na ONU) é uma vitória de bandeiras que a esquerda levantou no passado, porém politicamente a direita foi vitoriosa nos últimos anos, e essa dualidade nos possibilita a maior diversidade de relação com o mundo e com suas variáveis. Limitar o pensamento a dicotomias geralmente desgasta o debate, e pós-guerra fria, apesar de afirmarem o fim da história (ao meu ver um fim nada hegeliano e sim apocalíptico), a bipolaridade oficial criou clichês e rótulos ideológicos com peculiaridades, e tudo que não se enquadra nesse rótulos do passado (muitas vezes por uma vírgula teórica), hoje, muitas vezes ainda é interpretado por cada um - de cada uma das tendências políticas adversas entre si - como um potencial inimigo ou aliado.

Caso não tenha ficado claro, eu não compactuo com a ideia de que já não existe direita e esquerda, mas ao meu ver uma está desamparada ideologicamente e a outra politicamente.
A grande questão é que direita e esquerda são tendências, e não times ou escolas pelas quais você abraça tudo o que cada uma abrange, por isso - justamente por isso - essa dissociação de tendências, que é um produto histórico, ao meu ver, não é - apesar de ser tratada, especialmente depois de um Séc XX bipolar - uma dicotomia, pelo contrário. Ao se deparar com a situação multipolar (termo que prefiro para tratar do pós 1991, do que "unipolar"), as bandeiras de esquerda também topam com choques dentro do suas próprias tendências (outra rotina da práxis política) e, para se manter, criam embates muitas vezes mais ideológicos que políticos (sendo que o déficit da esquerda é político!) novamente dentro de sua própria tendência, mais: Utiliza do senso-comum ou do Zeitgeist pró-direitos para invalidar, através da falácia do Ad Hominem, os argumentos da Direita (seja tratando suas maneiras conservadoras como anomalias psicológicas, ou como cognitivas), fato que não esclarece os reais perigos que a direita oferece e ainda estigmatiza negativamente a esquerda como dona da verdade, como o "chato gritão", como o exagerado absoluto, como o moralista dos termos, sendo que os verdadeiros administradores do Absolutismo do Lucro projetam a imagem renovada e alinhada aos direitos (desonestidade ideológica e/ou moral) e mantém sua estabilidade política na conjuntura nacional e supra-nacional.

Amigos de esquerda de todo o mundo, UNI-VOS!

João Gabriel Souza Gois, 11/04/2013