sábado, 17 de janeiro de 2015

Poeminho

Vagalume, vagalume,
sei que queres me enganar...
A luz mora em tua bunda?
Ou só existe em meu olhar?

Vagalume, vagalume,
sabes que quero me enganar...
É a luz que pisca em tua bunda?
Ou ela cessa quando mira em mim teu olhar?

Vago lume, vago lume,
dos poemas noturnos a se constelar,
sempre engana-me com suas mortes,
qua antecedem seu apagar.

Vaga lua, vagabunda,
por que não paras de trabalhar?
Faz lirismo do meu canto
e embeleza meu vadiar.

Vagos homens produtivos,
por que esqueceram-se de contemplar
a visão em paralaxe
que só vira ato se se a pretende despertar?

Vagalume, vagalume,
o que dizes sobre o mar,
que o vago lume da lua que não morre
insiste tanto em influenciar?

Seria mesmo, vagalume,
tão simples na estrutura, o tal reparar?
Será que a luz só vaga vã,
se se para de olhar?

Pois, me divaga, santo lume,
vagabundo no transitar,
é a terra que me move,
ou a água que insiste, em mim, chacoalhar?

Pois não sei vagalume,
simplesmente poetar,
simplesmente colher do estrume,
coisas para significar.

Só lhes digo, ó, vagos lumes,
que no céu dançam para o luar,
se me enganam em suas mortes,
quem garante, depois ou antes,
que não me enganam por completo?
Pois quando, repleto, relativizo,
os pontos variados do olhar,
parece que o afeto,
vaga como lume no vácuo estrelar.

E o afeto nada vago, às vezes lume,
quer sempre petrificar,
imitar o absoluto do devir perpétuo,
e assim, hermético, não consegue me alcançar,
porque nunca sei, no seu vago lume,
que é seu modo de se apresentar,
Se o amor quando está perto,
só está assim para o meu olhar.


João Gabriel Souza Gois, 17 de Janeiro de 2015.