quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Borboletas Brancas


Sinto comigo, agora, que a criança não está morta.
Sinto conosco uma nova semente à porta.
Sinto uma grande nova safra em uma pequena horta.
Sinto calor (FINALMENTE!) do ventrículo até a aorta.

Realidade embriagada de Devir,
nunca seria uma realidade morta,
mas se sempre permanecer no ciclo da culpa que corta
a alma, a calma e paciência do saber nunca poderão vir.

Sem servir,
serviço cem porcento.
Sem Devir,
vida de lamento.

Momento e enigma são muitas vezes sinônimos,
e os gênios homônimos se dilaceram por não se aturar,
mas um desses gênios, por o outro herdar,
a ele estará fadado a amar.

Não adianta me desafiar com esse desdém,
não adianta afiar a navalha e cortar alguém,
A educação por ironia aprendi com Machado e não com o choro de Kafka.
A maturação pela filosofia escolhi, não me mudo por uma nula causa.
Mas se causa e consequência são a lei do seu mundo,
sinto muito em te olhar como se estivesses imundo,
mas queria muito poder te pegar pelo pulso,
e fazer de você um embriagado nessa sinfonia de arte eufórica,
nessa fuga do mal do século que se confunde - e com razão - com a fuga da babilônia.

Senti o cheiro de sua nova colônia,
mas sua essência intrínseca e que só a ti pertence ainda me puxa,
não mais para baixo, acho eu,
mas para algo que dentro do meu
espectro interior desencadeia no ideal de tu.

Ideal de tu,
é o que amei,
e seria injusto dizer que te amei,
se amei uma ideia e não a carne,
se amei o que Eu julgava tua alma.

Ah, belo reitor de meus valores,
democratize meu universo,
pois se não decreta a abertura,
eu mesmo me abro a cada verso
e desconverso seu medo
para mostrar que mais cedo
ou mais tarde
o calor que finalmente arde
esta sendo liquefeito não só em lágrimas
e naquela melancolia
d'outro dia,
 que me auto-destruía.
Mas está sendo refeito em dádivas
daquele novo dia pelo qual chorei embriagado,
e que pronunciava no pensamento (e para minha artesanal e auto-biográfica alegoria)
que era um novo, apesar de cheirar a velho.

Meu velho e minha idealizada princesa,
assustei-os, pois sinto-me autônomo!
E grito ao meu gênio homônimo
(Meu gêmeo de outras décadas)
Não estou bravo com vocês,
pois me submeti por opção,
e não foi por sorte que gritei a vocês dois:
Independência ou morte!

Cá estou vivo, e com muita pendência,
mas esse calor que cerca minha essência,
é o combustível pelo qual a depredada alma,
(até então submetida a corrente negra do zeitgeist apocalíptico)
finalmente reconhece existir em si, para si,
existencialistamente
coisa e gente.

Só coisas são autônomas,
E que coisa é essa que eu tinha que nenhum dos suseranos queria em mim?
Não sei, mas juntei todas as forças divergentes dentro do eu e as articulei numa revolução!
E pós-revolução, toda conjuntura é bagunçada,
mas sempre clareada, por uma imponente esperança.

Esperança é o combustível.
Me sinto Incrível! Ingrid, faltou pouco para você ver que ele existia também em ti,
esqueceu que dentro de ti, (Oh! Maravilhosa Poetisa!)
A criança não estava morta.

João Gabriel Souza Gois, 20 de dezembro de 2012.




OBS:  Escrito após assistir ao filme Borboletas Negras, ler o começo de A Imaginação de Jean-Paul Sartre, ler metade de Carta ao Pai de Franz Kafka.

O título conversa mais com a crendice japonesa, mas a oposição do termo em relação ao filme, fica, na poesia, mais claro ao longo dela. Esse poema também dialoga com o meu último (Quando não tinha medo?).

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Quando não tinha medo?

Essa maldição de virar adulto, que passe longe!
Vou ser eu uma criança fingida,
mesmo que atingida
pelo desdém dos acomodados no deleite do sucesso pontual.

Do sucesso "última conquista".
(Parece vida-revista! A vida é um Livro!)
Desse sucesso que busca uma felicidade velha e tão fatigada de modelos, eu me livro!
Desse sucesso que alimenta Narciso e ignora os erros; me privo. 
Do excesso de sucesso que fracassa quando o todo avista.

Aprendendo calma com o monge,
Amor com a ferida,
Aprendendo vida
com sabores que transcendam o rotineiro doce e sal.

Serei criança, mesmo que passe por perdido aos olhos do hoje.
Lunático ou impotente aos olhos de visões e opções previamente cingidas.
Criança de barba. Que nada na maré amanhecida.
Refém da maturidade sem molejo representada no palco social,
esforçando-se para lembrar que um bom beijo, vale todo o carnaval.

Para você, que apodreceu de tão maduro,
me desculpe, se soei duro,
Para arriscar nunca será cedo,
Pois sempre houve medos.
Sempre ouve os medos?
Criança só faz pergunta!

Entro num corredor de nostalgia,
vejo dedos entrelaçados,
Sempre dedos desgraçados!
Desgraçado desde o Sempre?
Criança só faz pergunta!

Ser criança é bom mas cansa...
Criatividade. Cria. Atividade. Cria. Atividade.
Criação. Cria. Ação. Cria. Ação.
Crianção!

Por isso estamos mortos e sem filosofia!
Viramos "adultos-compromisso-meio-dia".
E quando alguma criança se predispõe a combater a vida presa e desconjunta
estimulando o mais lindo comichão: O da pergunta,
Quanto retiram do tempo além-labuta...

... Quanto se livram do stress pós-multa?
Para começar alguma criação oculta?
Para estimular a criatividade adulta?

Filo (amor), hoje é por quilo.
Fi-lo porque qui-lo...
Por que qui-lo?
Desastres de Sofia...

Faço parte do filo Sofia...
Filo utopia...
Filantropia?

Classe média.
Reino Animal.

Desastres de criança...
O que fazer se
Literatura d'outro dia esquenta a lembrança?
Aquece! Esquece...

Mais perguntas?
Lacunas...
Pois é Lacan; Lacunas...

João Gabriel Souza Gois, 30/10/2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Amargolência

Escondido pelas cascas de um mistério inútil.
A polpa dessa fruta
está azeda e quer ser doce.
Mas quanta dificuldade
para simplesmente ser.

Serei eu então o que não sou
ou simplesmente não me permito mudar?

A cada novo passo
consigo ver defeito,
em cada novo feito
desmereço o traço.

E de tantos trajetos
e projetos
não escondo a minha cara
e escondo a causa
com falanstérios
e fantasias
de outros dias.

Parei no tempo
e sendo assim
de mim sinto raiva
de nada isso adianta
de tudo isso atrasa
e o relógio passa
e profundidade
não há nessa piscina raza.
Arrasa
a minha folia tão amada
e desautoriza
qualquer felicidade.

As palavras que não saíram
agora me atormentam,
e o lamento
deixa lento
o movimento
que desatento
traço na imaginação
e o chão é velho
como eu nessa lamúria
que incendeia a fúria
e não da energia
para que a epifania
e a alegria
de qualquer prazer e poesia
seja respeitado dentro dos limites
inteligíveis dos sentimentos humanos.

Assumi o papel de acumular
as dores supostas de outro lar
e inundar meu eu
do que foi feito ou que deveria ser feito.

Olhos nos olhos
não são uma opção,
pois os meus voltam
pra velhice do chão
e me esquivam,
privam,
do que é público.
Do calor entre nós todos,
nós tolos,
que andamos por aí,
e pelos cantos não deixamos de sorrir,
mas desmerecemos o porvir,
por querer resistir
à opressão
que algumas palavras de alguma canção
algum dia negou.

Não me dou,
pois me vendo,
e escuro, penso
que só pensei
e pausei as ações
que trouxeram tantas emoções
hoje questionadas.
Questiono o nada,
e nada responde.
Onde?!
Onde?
Onde começou?
De quê adianta saber?
Se o resultado mais assustador
que foi a pausa total depredada pela dor
já foi alcançado.
Cansado.
Mas de quê?
Se falta tanto para se ver
e estou errado,
pois direito sem dever,
faz o dever tão condenado,
e o ser tão perturbado,
que não reconhece seu valor.

Faça-me um favor,
ressurja!

João Gabriel Souza Gois, Agosto de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Absolutismo do Lucro


    Desde que comecei a estudar para o vestibular, abaixei a bola de escrever algo sobre a maioria dos assuntos que me interessam - pelo menos por esse veículo (meu blog) - justamente por ficar, geralmente, diante do abismo da incerteza, no momento em que é difícil tomar partido, afirmar com veemência e acabar - como já aconteceu em textos anteriores - na conclusão mais relativista possível. Por estas razões, acabei por ficar um tempo inativo.

    Não obstante todos esses fatores, ainda permanece o mínimo da opinião e o máximo da parcialidade em meu espirito blogger, para não deixar de escrever com o intuito de expressar a minha opinião para quem se atreva ler.

   Existem assuntos diversos que me fariam escrever nesse momento em que resolvi sair da estagnação relativista em que me encontrava; usarei justamente um dos que mais confrontam com tudo isso: a moral.

   Acho necessária a existência da moral (No campo do Direito), justamente para fugirmos da prisão relativista da incerteza e nos organizarmos de uma maneira que favoreça o bem comum (mesmo não acontecendo na maioria das vezes), seja ele como for, dentro dos limites das vontades humanas(das animais às cívicas). Porém o excesso e o apego dogmático ao moralismo absoluto - com excesso de decretos, postulados e mandamentos-, levaram pessoas a bloquear discussões de determinados assuntos e questões importantes que surgem com as mudanças de geração, tecnologia, organização política, na lenta linha de transição da história, que levou, por ironia do destino, os mesmos homens que mataram cristo a o idolatrarem (em tempos diferentes) - os ocidentais filhos da Roma e Grécia Antiga (filhos por opção, diga-se de passagem).

   Esses mesmos homens viveram, dentro do mesmo molde socrático-platônico-cristão, diversas doutrinas, filosofias, metodologias interpretativas e conflitos. Os empresários burgueses - que triunfaram durante o séc. XIX - condenaram a prática colonialista do Antigo Regime, mas foram os criadores das neocolonias imperialistas. Os liberais que condenaram o monopólio absolutista, consolidaram o capitalismo monopolista.A baderna fiscal dos mercados desregulamentados faz a parcela mais pobre da população - que vivencia a Crise - pagar a conta com corte de gastos. A mesma Inglaterra que traficou Negros e Ópio, condenou tais práticas. Diversas são as incoerências morais, sempre moldadas por interesses conhecidos mas nunca antes esclarecidos. Dentro do capitalismo, o que seria preponderante na influência da mudança doutrinária, dos valores e da moral, é como ela pode influenciar pensamentos e comportamentos determinados de maneira a produzir mais lucros ao sistema e condenar as possíveis barreiras do lucro.

  Cada vez mais, pessoas que sofrem com diversas consequências de abusos elitistas no sistema capitalista, ora não compreendem e acham que tudo são fatores externos incontroláveis, ora se revoltam - como na Espanha, Grécia e Inglaterra - de maneira desarticulada. Independentemente do que possa ser verossímil quanto a ideologias e políticas do mundo afora, conforme a tolerância cresce, a intolerância reage de maneira fervorosa. E os contrastes evidentes estão tanto na popularidade da Parada Gay e o repúdio popular ao PLC 122, quanto na presença de países exportadores de armas - que lucram às custas de conflitos étnicos, principalmente na África - no conselho de segurança da ONU. Enquanto a globalização une mais pessoas distantes e torna mais homogênea a cultura e os costumes (por prover uma infra-estrutura e lógica de mercado interdependentes e semelhantes em diversas nações, gerando intersecções no dia-a-dia produtivo entre as antes culturas paralelas - como já preveria o materialismo histórico - além de tecnologias novas de integração virtual e acesso instantâneo), a islamofobia e o neonacionalismo reagem.

  De certa maneira, esse mundo "unipolar" que tanto ressaltam os neoliberais, espalhou suas forças e seus poderes e atingir um alvo - para qualquer tipo de articulação - se tornou a prática mais difícil para qualquer militante partidário ou cidadão engajado. Mais difícil ainda seria - em sociedades de consumo há muito tempo consolidadas - relevar outras questões que fogem do movimento de supravalorização da política econômica, que possui a necessidade de ser regulada a todo momento para não haver distorções nos mercados e na vida cotidiana da sociedade civil.

  No caso da sociedade brasileira, alguns grandes traumas econômicos vieram logo após a reinauguração da Democracia, e o moralismo que advém de um passado colonialista, religioso e recheado de aspectos autoritários geralmente diminui sua participação efetiva, ou se espelha no pensamento técnico-burocrático para resolver a questão apenas com voto, geralmente decidido por critérios meramente econômicos ou personalistas (Personalizam a eficiência dos candidatos e não olham os possíveis novos discursos que surgem).Parte desse problema é estimulado pela mídia de massa, que geralmente enfatiza a política econômica como preponderante e demonstra questões cívicas por um viés do senso-comum. (Há alguns meses, uma reportagem da Rede Globo que demonstrava a crise diplomática entre Brasil e Espanha terminou com uma comparação esdruxula das economias, mostrando as relações entre desemprego e outros dados macroeconômicos, que dão um sabor de vitória ao patriotismo brasileiro, mas que ignoram o fato de o problema lá ser conjuntural - e não por isso menor - enquanto nossos desafios para consolidação de um projeto de nação são de infra-estrutura e também na área dos direitos civis, que com certeza demorarão muito mais tempo para serem discutidos, reavaliados e reformados).

 Uma solução que vem sendo popularizada - que ainda incomoda parte dos setores que diminuem suas responsabilidades sociais com a polícia - são os movimentos sociais, que apesar de muito criticados (dependendo do grau de polemização do assunto) conseguem, no longo prazo, trazer discussões que antes eram deixadas de lado. Apesar de existir uma certa vitória cívica quanto aos direitos em casos como a aprovação da união civil para homossexuais e outras propostas que estão por vir, o fato de boa parte do trabalho ter sido feito por um Supremo Tribunal Federal em vez de ser votado na Câmara dos Deputados faz do Brasil - que está crescendo e tem seus problemas cada vez mais evidentes, o que é bom para sua revisão e reformulação de critérios para formação de políticas - um país que possui uma certa distorção quanto ao poder legislativo, limitado à interesses ou convicções que reduzem a plenitude que um debate envolvendo a legislação deveria assumir. Isso tudo é um dado muito importante para refletirmos em como nossa democracia ainda é jovem e possui baixa participação ou envolvimento no que se diz respeito ao Todo da nação.

 Podemos aproveitar parte do que já existe para a mudança, e as grandes discussões devem ser encabeçadas pensando no projeto de Sociedade que pretendemos formar (Um projeto que esvazia o consumo totalmente seria inviável no mundo de hoje, pelo menos enquanto permanecermos circundados de economias abertas). Para isso a relevância das Universidades deveria ser estimulada e o Capital privado - que é muito útil para resolução de problemas estruturais (inclusive no ambiente universitário) - deve ser limitado de maneira a permitir que as pesquisas mais amplas possíveis possam existir e apoiem a sociedade civil nesse projeto, não só participativo, mas de Nação. Muitas reformas precisam existir ainda para diminuirmos a tendência de "Projetos de Poder", porém as Estatuintes universitárias presas a tempos mais antigos que a própria Constituição mostram um descompasso em que a universidade pública (e não estatal!) acaba ficando submissa à políticas governamentais, e menos livres no que deveria ser seu maior intuito: Extensão e pesquisa.

 É inegável que o capital privado é mais acessível e útil para aceleração das soluções estruturais, porém em muitos casos acaba por limitar as pesquisas aos seus interesses e o ganho do curto prazo constrói mais fronteiras para um projeto de universidade almejado - no longo prazo - por boa parte dos acadêmicos. Os docentes e discentes deveriam possuir uma maior expressividade no poder político da autarquia, mas a centralização do poder em um ambiente de pesquisa é uma perda lamentável justamente pelo fato de existir ali um antro com potencial de avaliação e planejamento muito rico e ignorado. Ainda existem problemas estruturais claros, porém a distorção na qualidade das salas e ambientes, principalmente pelo fato do silêncio e estado de sítio forçado no ambiente, é uma questão que silencia parte dos alunos, radicaliza o comportamento de outra boa parte e desarticula uma comunidade que só teria muito a ganhar em união.
 

 Sintetizando tudo, seria simples e simbólico demonstrar e reforçar a ineficiência do capitalismo nos tempos de hoje, em qualquer âmbito que ele se mostre ineficiente, porém heranças da Doutrina Truman ainda bloqueiam certas críticas que poderiam ser construtivas para a criação e consolidação, não só de uma participação política mais encorpada, em conjunto e no entorno da universidade, como para a consolidação de projetos com visões mais abrangentes do que os limites do excessivo pragmatismo, que atropela parte da Ética ou do bom-senso mínimo do campo dos direitos Humanos.

Além da riqueza anunciada - dos últimos anos de estímulo ao consumo - o Brasil possuí um patrimônio cultural que advém de sua miscigenação histórica e que acaba por ser estigmatizado pelos meios de comunicação, assim como diversas minorias que confrontam seus interesses com o moralismo da sociedade civil. Há ainda diversos caminhos e projetos que são banidos não só pelo moralismo preponderante, mas por conta do que gosto de chamar de Cidadãokanismo (ou falácia do winner/loser)

 A real participação e envolvimento da sociedade civil nas mais diversas questões é mais do que necessária, mas o entendimento dela geralmente é limitado pelas circunstâncias econômicas ou falsas dicotomias morais. Enquanto o desinteresse pela política limita as possibilidades de mudança nos rumos do país, as decisões dos órgãos do governo (que tendem a demorar mais para mostrar resultado na prática) são desmerecidas em contraste com as grandes obras do meio privado (Nosso deslumbre com as grandes obras tem influência do pensamento escolástico de Aquino, imanente na nossa primeira concepção de universidade como hoje conhecemos. A expressão artística desse pensamento é visível nas arquiteturas góticas) e o que resta de um povo (Demos) que não se envolve é ter o poder (Kratus) submetido aos interesses dos que soam mais eficientes, mais velozes, mesmo que as consequências no longo prazo distorçam as funções vitais do projeto, seja ele de Lei, de Universidade, de partido político ou qualquer outra coisas pontual que, de alguma maneira, afete a sociedade como o todo. Não possuímos mais suseranos-mor, nem nobres. Nossa sociedade tem a individualidade econômica respeitada. Mas só a econômica. Somos livres para ser servos do fetichismo do consumo. Somos entendidos como indivíduos apenas nos limites do consumo. O Mercado - valor supremo, elevado, o novo Deus - justifica e legitima o Estado aos abusos e cortes sociais, nos tempos de crise (esta última, por exemplo, gerada pela própria irresponsabilidade civil do mercado especulativo). Disso, vemos figuras como Mankiw  fazendo, na tragédia ou na farsa, o papel de um Bossuet contemporâneo... O que seria isso senão um Absolutismo do Lucro?


OBS:  Apesar da necessidade de expor uma opinião, nunca deixarei de compreender a diferença de anos passados durante tais mudanças e a transição natural dos valores de acordo com as inovações tecnológicas e de infra-estrutura; ou então as influências de diversas outras culturas nos valores, partindo de uma das ações mais lindas da humanidade: a miscigenação. Porém, para não praticar o famoso anacronismo, deixarei claro que trato dos casos restritos ao capitalismo. E este geralmente interferiu, se contradisse e se impôs no que diz respeito à moral, quando isso ameaçou - de uma maneira ou de outra - os grandes Lucros. Exemplo de pragmatismo excessivo atropelando a ética.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Reconhecendo-me

Finalmente o conheci.
Aquele sem sorriso e despreocupado.
Alienado e péssimo em tudo por volta.

Esquisito,

não sinto revolta de tê-lo conhecido.
É o yin do meu yang,

parte de mim,
e apesar de me desesperar
por não conseguir domá-lo
reconheço nele eu,
e em mim a possibilidade
de equilibrá-lo.

Nessa vida,

classificar não importa.
As visões são extremamente particulares,

porém já vi harmonia,
e verei.

Diminuto.
O eu diminuto que há aqui

não espera a maior ou menor resolução,
sente uma diminuição,
pois o som tenso diminuto,
continua a soar.
Em busca de vários significados e experiências.

Condenando algumas ações e predições
percebi em mim uma capacidade de crescer
além do material de carne que carrego,
além da busca material que buscamos.

Parece uma bagunça todas as informações,

e é inerente
a diferente crendice
às novas e velhas gerações.


É um turbilhão de distorções das memórias,

é uma infalível e desnecessária reconstrução de histórias,
e um medo inerente de enfrentar.
Pois quem enfrentarei?
Sou eu mesmo meu inimigo,

e o carinho a própria alma
é conquistado com a calma
que só em si encontra.

Dez minutos pareceram horas enquanto algumas letras me traziam o mundo.
Dez dias pareceram segundos quando nada parecia ter significado.

E machucado sinto fúria,
E animado sinto desprezo,
mas prezo que essa harmonia,
quando voltar,
produzirá um benefício,
pois percebi outras perspectivas.
Como queria poder mostrá-las de alguma maneira,

mas maneira para isso não há,
só há uma esperança relutante,
que segura e aguenta a cada instante
em que a raiva implode
e a mudança visível aos sentidos
é ignorada pelo indomável desgosto
que, olhe só, durou até agosto,
mas que deu um novo gosto,
para rebuscar nessas convicções
valores importantes que pareciam ter morrido.
Sorrisos encantadores do qual o indivíduo havia fugido
por não respeitar a própria individualidade
e transformar a mais simples situação
numa infinita dualidade.

Parece loucura ou profecia,

mas não é nada além do momento
de reencontro ao eu,
reformado e realizado.
Afinal reconheço o ambiente
mas meu inconsciente é possuidor de muito.
O final desconheço e sou temente

mas meu subconsciente deu final a pouco.
E o que hei de carregar é o fado

de ser um animal racional.
Queria tanto que esses momentos 
em outras pessoas não fossem bloqueados como elas costumam fazer.

Como se pode aprender...

Apesar do ir e vir do arrepender,
crescemos.

O resultado será a empatia interna,

serena, terna e lúcida.
E os falares da fala mais lúdica,

serão tijolos.

João Gabriel Souza Gois, 28/08/2012

Obs: O Terno - Quem é quem

Desencontro

Não troque minha fralda
mas me dê um pirulito.

Não toque minha alma
mas desmonte o meu mito.

Não soque minha calma
pois a Raiva eu imito.

Todos tão potentes em seus dias solitários.
Todos tão carentes em seus sonhos imaginários.

Todos com sua utopia abrangente ou não.
Nenhum deles com o espírito chorando presunção.
E dos momentos que pescam, pecam ao esquecer,
E dos tormentos que negam, pregam ao reconhecer.

Fui lá dentro e agora estou sem ar.
Saí do fundo e está um frio.
Toalha! Pois esse mergulho pressionou meu corpo.
Medalha! Pois reconhecimento não há na profunda confusão.

E isso tudo sou eu mesmo,
bagunça de viveres, prazeres e sorrisos,
e cada passo cabisbaixo quando piso,
representa a redenção ao que ainda vejo
quando almejo
além do quadrado de colocações
que meu sofrimento sem origem
consegui limitar.

Desconforto sazonal?
Problema temporal ou espiritual?
Que de perguntas, minha cabeça dói.

E com respostas, meu horror se desconstrói.
Mas ainda assim, não sei se por mim,

ou pelos outros,
foram poucos os momentos
em que o tempo parece estar tão escuro,
mesmo com sol.
E não chove lá fora,

só chove aqui,
descompasso com o mundo,
ambição que demoli,
e por onde construí-la?
se só de ver a fila
para o primeiro passo,

meu coração em descompasso
clama por uma revolução!
E do conflito resta um mar de não,
depredando a emoção,
para acumulá-la no momento inesperado,
e chorando num canto, de lado.
Escondo essa situação de mim.


João Gabriel Souza Gois, 23/08/2012
Pateando el pensamiento - Troche


Explodindo o Labirinto

Esforço demais para recuperar o que não sabe como.
Descanso demais por conta do esforço.

E da auto-recriminação ao auto-perdão,
não resta sim nem não.
E o talvez da abstenção
tirou coragem, virou refrão.

Novamente essa cena,
mas antes ela era diferente.
Então se antes era diferente,
não a vejo novamente.

E o que vejo desmente
o que queria ver,
e a frustração do idealizado
ao que se prentende fazer
não se faz nada além de sofrer
por leites derramados por outras pessoas,
por aceitações ora boas
ora ruins,
e dessa dicotomia que virou o mundo,
dessa bifurcação em que não escolho e fico mudo,
a solidão é necessária e cansativa.

Afinal que quando é necessário renascer só por si,
por si mesmo pode criar as barreiras.

Mas se quer então queiras,
pois temer faz da cabeça
a fuga.
E suga o que ouve,
transforma em outra coisa,
só para testar se ainda sente,
mas o que está a frente não parece mais tocável.

Ah, como foi amável!

Mas teve aquele outro ponto.
E o que deseja lembrar afinal?
Você não deseja, apenas lembra.
E sorri ou chora.
Não há limite para como as emoções chegarão,

elas podem assustar,
mas ter medo de sentir,
é nada além do medo de estar vivo.
E o que dizer desse labirinto onde a mesma coisa

anima e desanima?

Melhor esperar, mas não parado.
Pior parar, desesperado.
E só reparar não deixa reparado.
E só olhar, induz um julgamento errado.

É impossível tirar de mim mais do que isso,

e respeitando o momento difícil,
da esperança vejo melhora no futuro,
da desconfiança vejo revolta no escuro.

Sonolento, interagindo pouco.
Só um momento, buscarei eu outro.

E me renovo com medo de ser renovado.
E me recobro com medo de ser cobrado.
E me amedronto só por estar amedrontado,

mas encontro no medo o caminho para lidar,
e me descubro sem segredo, mas querendo guardar.
Sendo que o que pensei não saiu de mim,
e quando não falei, ninguém viu por mim,
cansei de tanto não, vou atrás de sim.

João Gabriel Souza Gois, 20/08/2012

Enquanto Lilith sorria, da amalgama amarga sai poesia.

E embaçou com sentimentos o ideal.
E do valor arisco e cavernoso, viu um animal.
E da valorização do amor ao conhecimento, viu um humano.
No auto-julgamento virou um vampiro.
Dormia ao dia.
À noite sorria.
E da necessidade e medo do esteriótipo vestido em um conselho
Desinvestiu o estímulo em si. Sumiu o reflexo no espelho.

Idéias em sua imagem e semelhança
Defesas paralisatórias que enlamaçavam as circunstâncias.
Da puberdade e do prazer se perturbou com a infância
e a ansiedade do fazer valer suprimiu a esperança.

Oxalá! Meu caro amigo,
Que do ócio,
da procura de razão no fóssil,
se criou um perigo.
Negou o caminho alternativo,
o eólico, de resolução.
o mixolídio, de pura tensão.

E no cansaço persistente do "não consigo"
de si mesmo tornou inimigo.

Assim sigo, retomando sorrisos.
Assim espero; não impor ao viver um perigo.
Assim espere: ainda sinto contido.
Assim esperará: há procura no sentido.

Horizontal é a relação humana.
Vertical a da pertubação contra o que o engana.
E com gana de vida
a devida vontade
retira da reflexão e do embate:

A sandice da imagem a qual desistiu.
A dívida da dor do reflexo que sumiu.

E se animou, investiu.
Mostrou, ninguém ouviu.
Se moveu, mas foi pouco.
Se perdeu, ficou rouco.

Sádico e sem afeto,
será qualquer um que oferece um teto de vidro
em uma chuva de pedras.

João Gabriel Souza Gois, 21/08/2012

Caos implosivo

De tão evidente ficou escondido.
De tão escondido ficou diferente.

Há um dia em que saberá a cura ao que sente.
Ainda há o tempo que precisa.
Ainda resta na alma resquício de uma dor indecisa.
Mas finaliza o hoje, almejando o amanhã.
Idealiza o amanhã, sonhando hoje.
Realiza o hoje, fazendo pouco.

Faz muito tempo que algo assim não ocorria.
Nunca ocorreu.
E o perdão antigo
virou castigo
para a implicância consigo mesmo.

Coisa de louco,
não existem problemas.
Surdo, mudo e rouco,
procurando dilemas
onde só há vida.
Oxalá que essa ferida
de tão dolorosa
não tem culpado.
De tão duvidosa
não traz ninguém ao lado.

E resta,
do pouco que presta,
uma introspecção corrosiva,
que se esvazia e enche com pensamentos.

Estou mas não estou aqui.
Onde estou enfim?

A
   q
      u
         i
           s
              i
                ç
                   ã
                      o
de sentimentos retangulares.
Tão quadrados em suas formas e linhas
que a insanidade sempre minha,
espalhou para o todo.

F i n a l
mente.
Recomeço sincero.
Eu espero.
Espero esperança
para que a dor que leva ao péssimo
não negative mais o que não dá para piorar.

Isso foi uma boa piada,
mas tirou a graça.
Restou vitimismo
e com isso cismo,
pois não reconheço em mim.
Sim,
sentimos enfim.
Sentimos no começo,
sentimos no fim.
Desci, e de lá subirei?
Acho que não,
da estupidez sou rei.

Realização, onde estará?
Minha aurea está com mal-cheiro.
Minha cara muda com qualquer lampejo.
Minha vida estuda saída sem desespero.
E eu não aguento mais o pronome meu.
Fodeu,
melhor passar aquele café,
acordar, lavar o rosto, andar a pé,
para que o choque com o ar me acorde
para que a cabeça não se enfureça quando recorde,
para que o aparelho do pensamento não force só felicidade
de maneira excluí-la dos olhos.
Sinto muito.
Muito mesmo.
Mas volto quando for eu mesmo
e não mais um confuso impotente.

Há sim vontade,
só me falta combustível.
há sim combustível,
me falta paciência,
e essa pesquisa do que falta
levou a satisfação pueril com o nada.
Indaga mais uma vez o que fez,
mas desta maneira
não terá vez
ao que quer.

Ai meu deus, seria fácil se fosse só mulher.
Se fosse só uma noite.
Mas a inquietação levou ao açoite
a calma que pacificava todos os momentos.

Muito grilo num bixo-grilo.
Muito problema para um feliz.
Muita tristeza para um bobo-alegre.
Muito amor para nada.

Fada do nada
Onde está a escada
da auto-estima?
Estima-se que dentro de nós.
E a qual voz dou ouvido?
A que mais faz sentido,
a que mais faz sentir?

Cansado de perguntas
pergunto à minha
Inflamável loucura
se ela terá sua cura
com água que a acuda,
com um vento que a sacuda,
pois encostada na parede
irrita o espirito jovem
a ponto de negar palavras.

Vá para o inferno todas as maledicências
as maldições,
e bendito seja o amor próprio
que foi levado por se deixar levar em significados.
Como se eles em algum momento resumissem
ou facilitassem a vida.

Poesia lida,
amargo guardado.
Cara de bobo,
parvo parado.

Daí os pés se policiam a uma ordem desconhecida,
e o todo se assusta com qualquer tropeço.
Estou do avesso,
estou exposto.

Cuspo o gosto do desgosto
para disso tirar um ensinamento.

Um momento
para mim.
Tomei água,
lavei o rosto,
voltei ao posto
desajustado.

Dar um jeito.
É o jeito.
Pois não há prefeito no cérebro.
Não há defeito no que quebro.
Quando quebro saí faísca.
Quando conserto, viro isca.
Pisca o canto do olho
pois ficou de molho em preocupações.

Resta então um não.
Não sei.

Ei! Vem cá!

A negação da negação,
seria um sim?
Enfim,
onde estou?

Meu olho dói.
Minha perna briga.
Meu corpo nega
esse espírito que não me pertence.

Há quem pense
que quem vence
nunca se dá por vencido.
Estou perdido,
mas não perdi.
Um pedido:
espere.

João Gabriel Souza Gois, Julho de 2012.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Indiferença sólida do homem não-humano


Que deste impulso

criei moral para negar.

Que deste gosto

criei tempero azedo.

Que deste tédio

criei mais um medo.

E nesse remédio envolto no segredo dos gauches,
há um erro ou um deboche.
Correndo da obsessão diminuiu os caminhos.
Com medo de solidão, deixou o mundo sozinho.

Pessoais
tais preocupações insolentes.
E não há reflexão que desembace a lente

para os globais.

Estocado com o peso do que criei,
estancado com a fé que perdi,

estragado pelo desgosto do que desexperimentei,
molhado com o gelo que fundi.
E de tanto calor contido,

de tanta implosão do que foi perdido,
houve uma explosão onde pedaços de pensamentos
viajaram os mais diversos sentidos,
e o sentido de cada passo é questionado.

E não é que essa explosão,

explodiu a peculiaridade,
a áurea da idade,
e ebuliu o viés.

Viés disperso em vários meandros, rico,
sublimou em indiferença.
E esta, sólida e irritante,

pesa mais, é mais concisa.
Suas pequenas estruturas estão unidas,

é difícil ebulí-la, deixar dispersar
para ver vida.
Que seja assim, um desafio mais difícil.
Que do melhor recuperado não sobre resquício

de amargura
da amalgama cultivada
por uma paralisia espontânea.
Da palavra questionada

em vez de colocada em campanha.

Comprovei,

se há demanda haverá oferta.
A vida engana, mas só fica deserta,

se permitir por si que no meio do caminho
tenha uma pedra.

Ah, e como pedras são sólidas!
Pesadas como o sentimento do mundo.
E de tanto carregar um fado de desânimo,

desenvolvi sete faces morais,
e nenhum respeito ao meu eu.
Eu-lírico auto-crítico,

Se vê como herói e como cínico.
Não respeita o sentimento do indivíduo,

da risada do ego,
que ficou cego olhando só para dentro.
Que ficou escondido, para fugir do centro.

Há lá no fundo desse mar,

uma frase que paira sobre o ar
e ressalta com palavras sábias
que na cultura, mesmo que não saiba,
não há centro, há perspectivas.

Convicções ativas.
Sólidas e diferentes.
Debates com o maior número de referentes.
E a indiferença corrói cada palavra desconhecida,

E se faz da abstenção uma negação da vida.
Pelo amor de Deus, onde começou essa ferida?
Lembro de coisas parecidas

em outros momentos,
mas não linhas de raciocínios
resumidas a tormentos.

Soei cínico ou irônico.
Inteligente ou atônito.
Pulso firme, grande estóico.
Mas sou nada além de um fraco,
Que se esqueceu de como a sensibilidade

sempre será bem vinda
mas se nunca finda,
dá vida ao

descompasso banguelo,
ao vitimismo de Otelo,
ao sorriso amarelo
que não disfarça mais nada
além de falta de visão.

Dormi mais uma vez sem oração,

me perguntando que horas seriam
quando eu finalmente estivesse pronto.
Provavelmente a hora errada.

E com a infame e de variáveis pequenas

porém redondamente correta profecia,
era exatamente a hora errada.
Fique calada!

E recobro de mim:
Pessimismo teórico personificado em fada,

virou lente na frente dos meus olhos,
e me deixou eufórico enquanto vestia pijamas,
e me deixou desanimado quando visitava semanas de prazer.
Vai saber o que mais essa psyche pode fazer para me frear,
mas só com palavrões ela não distorce,
só nos refrões ela se contorce,
só de perdões ela amolece,
só da falta de sincronia ela se perde,
só do excesso de acusações ela transborda.
Só com pesadelos obscuros ela acorda.
Mas respirarei e aguentarei,

pois sei que não há sorte,
mas isso é o mais próximo que vi da morte,
e na vida além dela creio,
e dentro dela semeio
esperança pelos possíveis destinos que permeio,
lembranças que eram lindas e não deixarei que me tornem feio.


João Gabriel Souza Gois, 21/08/2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um poema e um trecho. Outro poema, nenhum desfecho.

... O tédio dos radidiotas e dos aerochatos,
De todo o conseguimento quantitativo dessa vida sem qualidade,
A náusea de ser contemporâneo de mim mesmo -
E a ânsia do novo novo, de certo verdadeiro,
De fonte, de começo, de origem.

A pedra no anel errado no teu dedo
Como fulgura na minha memória,
Ó pobre esfinge da aristocracia burguesa conservada em viagem!
Que vagos amores escondias na tua elegancia verdadeira
Tão falsos, pobre iludida lúcida,
Encontrada a bordo desse navio, como todos os navios!

Tomavas cocaína por superioridade ensinada,
Rias dos velhos maçadores menos maçadores que tu,
Pobre criança orfã de pai e mãe
Pobre-diabo meio flapper, tão [?transtransviada?]!
E eu, o moderno que não sou, eu que consinto
Nos arredores de minha sensibilidade as tendas dos ciganos,
De toda a modernidade papel-moeda;
Eu, incongruente e sem esperanças
Passageiro como tu no navio, mas mais passageiro que tu,
Porque onde tu és certa eu sou incerto,
Onde tu sabes o que és eu não sei o que sou e sei que não sabes
                                                                                    [o que és,

E entre as danças tocadas ad nauseam pela banda de bordo
Debruço-me sobre o mar nocturno e tenho saudades de mim.
Que fiz eu da vida?
Que fiz eu do que queria fazer da vida?
Que fiz eu do que podia ter feito da vida?
Serei eu como tu, ó viajante do Anel Afrodisíaco?
Olho-te sem te distinguir da matéria amorfa das coisas
E rio no fundo do meu pensamento oceânico e vazio.

No quintal da minha casa provinciana e pequena -
Casa como a que têm milhões não como eu no mundo -
Deve haver paz a esta hora, sem mim.
Mas em mim é que nunca haverá paz,
Nem com que se faça a paz,
Nem com que se imagine a paz...
Porque então sorrio eu de ti, viajante superfina?

Ó pobre água-de-colônia da melhor qualidade,
Ó perfume moderno do melhor gosto, em frasco de feitio,
Meu pobre amor que não amo caricatural e bonita!
Que texto para um sermão o que não és!
Que poemas não faria um poeta verdadeiro sem pensar em ti!

Mas a banda de bordo estruge e acaba...
E o ritmo do mar homérico trepa por cima do meu cérebro -
Do velho mar homérico, ó selvagem deste cérebro grego,
Com penas na cabeça da alma,
Com argolas no nariz da sensualidade,
E com consciência de meio-manequim de ter aspecto no mundo.

Mas o facto é que a banda de bordo cessa,
E eu verifico
que pensei em ti quando durou a banda de bordo,
No fundo somos todos nós
Românticos,
Vergonhosamente românticos
E o mar continua, agitado e calmo,
Servo sempre da atenção severa da lua,
Como, aliás, interrogo o sorriso com que me interrogo
E olho para o céu sem metafísica e sem ti... Dor de corno...

                              Álvaro de campos, heterônimo de Fernando Pessoa. 

[...] A jornada entrou e parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incômodo, a condução violenta, e o resultado impalpável. E depois — cogitações do enfermo — dado que chegássemos ao fim indicado, não era impossível que os séculos, irritados com lhes devassarem a origem, me esmagassem entre as unhas, que deviam ser tão seculares como eles. Enquanto assim pensava, íamos devorando caminho, e a planície voava debaixo dos nossos pés, até que o animal estacou, e pude olhar mais tranquilamente em torno de mim. Olhar somente; nada vi, além da imensa brancura da neve, que desta vez invadira o próprio céu, até ali azul. Talvez, a espaços, me parecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando ao vento as suas largas folhas. O silêncio daquela região era igual ao do sepulcro: dissera-se que a vida das coisas ficara estúpida diante do homem.

Caiu do ar? destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto imenso, uma figura de mulher me apareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das formas selváticas, e tudo escapava à compreensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diáfano. Estupefato, não disse nada, não cheguei sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se chamava: curiosidade de delírio.
— Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das coisas externas.
— Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives; não quero outro flagelo.
— Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar-me da existência.
— Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.
Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabelos e levantou-me ao ar, como se fora uma pluma. Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorção violenta, nenhuma expressão de ódio ou ferocidade; a feição única, geral, completa, era a da impassibilidade egoísta, a da eterna surdez, a da vontade imóvel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, diante do qual me sentia eu o mais débil e decrépito dos seres.
— Entendeste-me? disse ela, no fim de algum tempo de mútua contemplação.
— Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fábula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade, que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma coisa vã, que a razão ausente não pode reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagelo, nem, como tu, traz esse rosto indiferente, como o sepulcro. E por que Pandora?
— Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?
— Sim; o teu olhar fascina-me.
— Creio; eu não sou somente a vida; sou também a morte, e tu estás prestes a devolver-me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.
Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele imenso vale, afigurou-se-me que era o último som que chegava a meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição súbita de mim mesmo. Então, encarei-a com olhos súplices, e pedi mais alguns anos.
— Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do espetáculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos aflitivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da Terra, o sono, enfim, o maior benefício das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?
— Viver somente, não te peço mais nada. Quem me pôs no coração este amor da vida, senão tu? e, se eu amo a vida, por que te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
— Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jucundo, supõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoísmo, dizes tu? Sim, egoísmo, não tenho outra lei. Egoísmo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocínio da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.
Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma coisa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos Impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das coisas. Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. A história do homem e da Terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim,— flagelos e delícias, — desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos que a quimera da felicidade, — ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angústia, que Natureza ou Pandora escutou sem protestar nem rir; e não sei por que lei de transtorno cerebral, fui eu que me pus a rir, — de um riso descompassado e idiota.
— Tens razão, disse eu, a coisa é divertida e vale a pena, — talvez monótona — mas vale a pena. Quando Jó amaldiçoava o dia em que fora concebido, é porque lhe davam ganas de ver cá de cima o espetáculo. Vamos lá, Pandora, abre o ventre, e digere-me; a coisa é divertida, mas digere-me.
A resposta foi compelir-me fortemente a olhar para baixo, e a ver os séculos que continuavam a passar, velozes e turbulentos, as gerações que se superpunham às gerações, umas tristes, como os Hebreus do cativeiro, outras alegres, como os devassos de Cômodo, e todas elas pontuais na sepultura. Quis fugir, mas uma força misteriosa me retinha os pés; então disse comigo: — “Bem, os séculos vão passando, chegará o meu, e passará também, até o último, que me dará a decifração da eternidade.” E fixei os olhos, e continuei a ver as idades, que vinham chegando e passando, já então tranquilo e resoluto, não sei até se alegre. Talvez alegre. Cada século trazia a sua porção de sombra e de luz, de apatia e de combate, de verdade e de erro, e o seu cortejo de sistemas, de ideias novas, de novas ilusões; cada um deles rebentavam as verduras de uma primavera, e amareleciam depois, para remoçar mais tarde. Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendário, fazia-se a história e a civilização, e o homem, nu e desarmado, armava-se e vestia-se, construía o tugúrio e o palácio, a rude aldeia e Tebas de cem portas, criava a ciência, que perscruta, e a arte que enleva, fazia-se orador, mecânico, filósofo, corria a face do globo, descia ao ventre da Terra, subia à esfera das nuvens, colaborando assim na obra misteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancolia do desamparo. Meu olhar, enfarado e distraído, viu enfim chegar o século presente, e atrás deles os futuros. Aquele vinha ágil, destro, vibrante, cheio de si, um pouco difuso, audaz, sabedor, mas ao cabo tão miserável como os primeiros, e assim passou e assim passaram os outros, com a mesma rapidez e igual monotonia. Redobrei de atenção; fitei a vista; ia enfim ver o último, — o último!; mas então já a rapidez da marcha era tal, que escapava a toda a compreensão; ao pé dela o relâmpago seria um século. Talvez por isso entraram os objetos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro cobriu tudo, — menos o hipopótamo que ali me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel...

           Trecho do Capítulo VII - O Delírio - de 'Memórias Póstumas de Brás Cubas', Machado de Assis.


Como essas palavras saíram de mim?
     
Não há um único espírito santo,
Não há um único espírito são,
são todos corrompidos por doeres cotidianos,
por decepções de suas estimativas e expectativas.

Que o homem cuide da alma,
e não a alma do homem.
Que a razão se extenda aos modelos que dela precisa,
mas que não se limite a prisão relativista.
Que a emoção se extenda até onde pode ser compreendida,
e não se enclausure em teorias para que seja repreendida.

E assim se faz o homem saudável.
Cade ele para cuidar disso tudo?
incomodou um outro por aí,
perdeu a chance, ganhou chaga

Ao Senhor Absoluto e bom, mas não com Jó.
Nem com muitos que perecem.
Onde está?! Tenha dó!
Não tem, ser vil, podre!
Olhe só como a modernidade acabou com as pragas...
bruxarias da ciência.

Mas ciência e sua magia
não tem poder de intervenção
na reflexão interna.

Eis o conflito:
Animus e Anima estão se debatendo,
se esfolando.
Preferia quando eles gemiam aquela sintonia de prazer
e o viver não era tedioso,
era puro gozo,
Era Romântico sem deixar de ser realista.
Era Pragmático sem deixar de ser idealista.
Mas na lista longa do dia-a-dia,
um medo de apatia resume tudo a palavras-chave
totalmente dispensáveis.
A fraquezas totalmente fantasiosas,
e a vontade do milagre faz o crer,
a fé,
existir com muito poder,
mas não ter um alvo mágico e mequetrefe,
um injusto imperador,
e sim uma lucidez
que guie de vez
e dê entendimento ao sorrir e a ferida,

o nome a isso serve aos cristãos,
aos islâmicos, aos judeus e as tribos de misticismos apagados
nas depreciações e condenações que passaram a borracha em seus documentos históricos.
Têm menção na lágrima de Abraão e no punho dos estoicos.
O nome dessa fé é fé em si.
Abstração que fortifique a segurança,
a veemência.

Mas fé que em si há uma barreira,
e que fúria só a deixa mais perdida na ribanceira,
e sensações diferentes em coisas corriqueiras,
assustam a carne fraca.
Daí sobra a alma opaca
que chora por algo novo na liberdade.
Que se conforta com algo velho na segurança.
Oh, Pai! Que esses dois - liberdade e segurança - não se confrontem como fazem
os militantes com os militares.
Os livres com os autoritários.
O futuro com os dinossauros.
Novamente vem exagero nesses termos...

Exagero pode ser um dos erros,
mas o que fazer para que continue a existir
o que existia com um dia-a-dia menos bagunçado
e nem por isso menos feliz.

Menos desnorteado e nem por isso menos livre.

Cada palavra que disse e ouvi,
de cada exemplo que dei e recebi,
o que ficou do que ouvi não foi o que foi falado por quem disse.
O que sobrou do que recebi não foi raiva pelo que dei.
Só não neguei.
E agora nego.
E o escuro vem mais o medo da cegueira...
Calma, monsieur, que é só aquele sono desgovernado.
Aquela fuga do acordado que quando acordado irrita.
Terror noturno xiita.

BOOOM,
Saí daqui. Voltei.
E os olhos viram num reflexo violento,
para depois voltarem ao chão cheios de desalento,
e eles doem.
E da fome não se sabe o que é náusea.
Da dor não se sabe o que é medo.
Do desencontro não se sabe a origem.
E mais uma vez essa maldita vertigem.
Carência, inocência ou demência?
Eis a questão.
questão nevrálgica ao viver,
e o mecanismo de se abster,
vem da falta de resolução da questão.
Não sobra nada além de dúvida e sermão.
Mas não quero Descartes nem Religião.
Ah, meu Zeus! Cadê o Trovão!?
Um choque de desfibrilador.
Um Rock embalado com ardor.

E belisca, a pupila continua fixa.
E se deita, a pupila se estreita.
Peita a si mesmo num dilúvio de amargura.
Machuca a si mesmo imaginando julgamentos fora de si.
E se arrepende.
E volta ao: 'tudo depende'.
E pende ao nada da certo.
E sente que é esperto.
Age como burro.
Que de tanta confusão, o sono e o lar seguro,
ora são tudo que deseja,
ora são a prisão do mundo que existe,
ora são a tortura do sofrer que persiste.

sinceramente, não sei.
só sei que resolverei,
foram poucos dias,
pouco enfrentei e muito fugi.
muito guardei e pouco reagi.
E do barroco ao simbólico simbolismo por um triz,
se fez significados perdidos sem diretriz.
Auto sem atriz.
Eu sem eu.
De novo, doeu.

João Gabriel Souza Gois, 08/08/2012


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Auto-flagelo.

Estranho mundo que perdeu a paz.
Como faço o que fazia quando se faz?
Não sei fazer.
Mecanismo de defesa corrosivo.
Quero logo um explosivo,
um querer vivo.

Quero paixão.
Mas quando vejo em outros olhos,
meu olho retorna ao chão,
se preocupa com os pés,
e os pés irritados,
se topam e preferem parar.

Uma desconexão de todo o corpo.
A cabeça não entende,
o coração se abstém,
o corpo está perdido,
o todo corrompido
por vozes de reprovação
do que enfim se tornou.

O futuro,
aquele que trazia os sabores do mundo,
só há medo.

O presente,
tentando fugir do que sente,
aconselha a alma:
ainda é cedo.

E o passado,
teve seus acontecimentos
mas agora pede ao presente
que se torne consciente
de que o futuro não pode ser adiado.

Vem ao hoje,
um desprezo.

Por favor apareça,
antes que eu enlouqueça,
e não será remédio para meu tédio,
não será a fada desse conto torto,
será unicamente a paz,
toda aquela que sempre vi e transmiti,
e dela quero tudo que consegui
para conseguir novamente.
Síndrome de Stuart Mill!

E vem desta distorcida situação, umas quantas vozes:
Que versos mais pobres!
Sem imagens,
sem criatividade,
sem nada de devaneio.
Apenas abstração insensata
de um psicopata de si mesmo.
Assassino do Eu.

Como alcançou meu Eu-lírico?

Que merda isso tudo.
Quero falar.
Quero.
QUERO.

E não saio da toca.
Da caverna de sombras.
Preto e branco.
Luz insuportável.
Bicho inanimável.
Incapaz.
Ineficaz.
Imbecil.
Pueril.
Inocente.
Inesperado.

Quanta fraqueza
Quanta frieza.
Mas dói,
Mas sorri,
então desse frio
resta enfim,
algo pelo meio,
nada de fim.

Ó minhas mais intrínsicas inspirações!
parece que de vós sobrais nada de lições
e o universo das conclusões se limitam ao estado instantâneo!

Volto ao meu primeiro diagnóstico:
Sou Burro.
Imedidamente burro.
E de burro virei surdo.
E de surdo fiquei cego.
E de cego fiquei outro.

Dos Campos ardentes do pensamento de Pessoa
Lembro de um homem de ar que sussurou assim:
'Debruço-me sobre o mar noturno e tenho saudades de mim!'

Voltando do paraíso lírico,
lúdico e encantado da poesia,
voltando do cambaleio vertiginoso da boemia
incrusto algo vago em minha vivência de pouca essência,
recobro minha essência de pouca vivência
e um fétido desconforto péssimo assombra
os músculos dos ombros
e vai por passeios a civilações de outros hombres
e vai por uma investigação violenta sobre outra
língua,
e lembro da vida
como nunca lembrei.

Oh, darling,
listen to this words:
they are every fuckin' thing
that lasts in my mind:

Se não existe confiança,
estou desconfiado.
Se não existe esperança
estou desesperado.
Se não tem graça,
sou desgraçado.
Se não tem morte,
desfaleci.
Se não tem sorte
no amor,
nem no jogo,
ela sobra para o quê?
para quem?

Ninguém,
este é meu nome.

Encosto na parede,
sinto sede.
 Mas como estou cansado d'água!

João Gabriel Souza Gois, Julho de 2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Aos poucos

Escrevo aos poucos que já sentiram dor com poesia.
Aos poucos que acreditam na paixão antiga.
Aos poucos que se permitem chorar de felicidade.
Aos poucos que se permearam no viver mas carregam como combustível a infância.
Aos poucos que pararam para esperar uma onda no mar da constância.
Aos poucos que se sentiram loucos por fazerem pouco.
Aos poucos que ficaram roucos depois de sentir muito.


Aos poucos escrevo e moldo um conforto,
Aos poucos disperso e aborto convicções.
Aos poucos neguei origens impossíveis de serem negadas.
Aos poucos o que era forte ficou maleável.
Aos poucos o muito era remediável.
Aos poucos o barulho era insuportável.
Aos poucos a vida tinha pouco valor.


Com o pouco que aos poucos almejei,
Muito pouco procurei.
O desconforto e a paz do Amém
viraram significado de qualquer dizer de outrém.


Aos poucos pretendo recuperar o que foi perdido.
Aos poucos reconheço que o amor está difundido por todos.
Aos poucos o muito poderá ser dividido pelo futuro.
Aos poucos uma criança vira um homem, e já não tem medo do escuro.


Aos muitos significados que qualquer palavra pode trazer
a cabeças diferentes,
desfiro cobranças no passado.

Aos poucos significados que levam ao fim uma mente.
Aos poucos tratados traçados de maneira inteligente.
Aos poucos fadados e nem por isso evidentes.


Aos poucos que se reconhecem como muito,
Aos muitos que pouco creram em seu intuito,
a todos estes guardo um zelo de minha confusão,
para mais um dia respirar a calma e sentir menos dor sem razão.


Ao dia que um dia fluirá iluminado.
Vejo muito para ter me animado.
À noite que carrega alguns segredos,
Vejo pouco motivo para tantos medos.


Aos poucos as poesias ficaram pobres.
Aos poucos restou o dia-a-dia vazio do nobre.
Aos muitos motivos pelos quais nunca se descobre,
Aos muitos sentidos que criam defesas para o que o sentir encobre.


Afinal o meu desejo não passava do mesmo que o do outro.
O que almejo de alguma maneira almejam os outros,
mas os caminhos estão tão cruzados e cheios de vultos
que o não-falar vira uma defesa contra o insulto.


Que haja força,
força essa que aos poucos traga beleza,
a áurea própria,
a mente imprópria,
para que da auto-exclusão automática,
percorra o caminho 
da tristeza saudável até a sintomática,
para um prosseguir menos rígido.


Aos muitos amores que se encontram e se perdem,
Aos muitos senhores que ensinaram e hoje perecem,
Aos muitos falares que soam como prece,
Aos muitos andares do espiríto que cresce.


Aos poucos tudo isso virou um fado.
Um fado de peso insuportável.
Aos poucos elimino as mais fulminantes impurezas,
recupero certezas,
e me concentro.


Sem centro, sem cetro.
Sem tempo, discreto.

E esse tabaco hoje
já foi moeda ontem.
E essa solução de ontem,
é um problema pro hoje.

As muitas teorias assustam pouco.
As poucas práticas assustam muito.
Tudo isso alimentou um freio

na Roda viva.

Sorria,

você é alguém amado.
Cronos não te comeu,
só deu uma mordida.
E algumas mordidas

trazem lembranças,
algumas cobranças...

E o vale da esperança
nunca se inunda,

independentemente da insegurança e incerteza
da cabeça de quem afunda
na auto-avaliação.

Não há fundo que não deixe visível a superfície.
Respirar, enfim.

Sabotando versos populares:
'A luz no fim do túnel é o futuro.'


João Gabriel Souza Gois, 27/07/2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mais uma vez Drummond comigo.

Ser

O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,

sem carne, sem nome.

Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apoia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho

objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste
contudo chamava-te

como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz,
faz-se por si mesmo.


Carlos Drummond de Andrade.

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Sentimentos meus.

Do ideal fosco à prática morta,
Do ideal sólido à prática apaixonada
Só isso e além disso nada.

Humano morto pelo animal que matou.
Animal morto pelo humano que negou.
Vivo, afinal.

Tudo diferente nesse pequeno mundo,

tudo gigante nesse universo,
disse que não escreveria nenhum verso,
mas recobrou o pensar acalmado
e regurgitou na mente
que Maniqueísmo é algo limitado

como a vida.
Acalmar a bagunça dos sete mares
(compreensão acalma o oceano interno)

ou das sete cabeças do bicho conspiratório.
Que afagou um sentimento ilusório

para finalmente dar velório
e ver no simplório
beleza,
e no conforto destreza.

Labirinto Kafkaniano

pode aparecer todo ano,
mas a realidade
não está em livros.

Viu em Hegel utilidade,
(Indgnai-vos!)

no pai do utilitarismo o péssimo,
em Schopenhauer a identificação,
em si uma vontade maior.
Na radicalização o erro.
em algum lugar uma crise de bezerro,

(como Descartes talvez diria,
mas lhe faltou poesia)
Em Deus nada.
Another one, never the last.
Brick for me, before I forget.
Do ótimo ao péssimo,
do péssimo ao ótimo
a vida é a mesma.
Em si e no mundo:
Um subjetivo romântico

que ignora a diferença entre visão plena
(que não há, só em Deus que é fada)
e o ver quântico.
Um objetivo realista,

que passou do rótulo de pessimista
a uma necessidade.

Simplicidade enriquecedora,

Complexidade ensurdecedora,
Complexidade completa,
Simplicidade discreta.


João Gabriel Souza Gois, 02/07/2012