sábado, 26 de outubro de 2013

Foz.

Ah! O destino...
Algo que nunca cri,
mas me revirou mais de uma vez o intestino,

por incessantemente se mostrar ali.

Talvez não previsível como o é para os profetas embriagados,

nem tão insensível como é aos que carregam a poesia como fado,
porém me ensinando, ao passo que parece existir,
e me ensinando mais, quando o acaso impera e o leva dali.

E, dentro dos retóricos discursos de liberdade,
fui me sentindo livre - de fato - cada vez mais,
e seu deleite boêmio,
me fez perceber seu custo a nós, animais,
que mesmo estando tão fadados à ela,
quando, nos românticos sonhos de Cinderella,
nos prendemos em posse,
- antes  só ideia fosse -
simplesmente fulmina no íntimo,
o ciúmes, que junto a culpa, é parte dos sentimentos ilegítimos
que as paixões e as idealizações nos obrigam a respirar.

Talvez minhas canções possam ter desmedido peso,
mas minha cabeça também tem,
nunca teria eu ferido alguém,
se não fosse por saber que não havia outro modo,
e agora, mesmo sem poder, me incomodo,
ainda assim prossigo e limpo logo esse foco perecível,
pois o mais belo não é ser desumano e fingir que não sente,
mas pensar, refletir, artear e tatear o impossível,
e atingir o orgasmo incrível que só o corpo nos pode dar,
seja pelo sexo, pelo poema, pela música ou ao pintar.
Tantas atividades que saem e exalam dos poros,
que remexe e badala tanto o espírito,
e mesmo parecendo cínico,
não consigo chorar,
pois enfim, percebo meu atraso,
e também que não há amor a prazo,
e o que minha vista não quer ver
só não quer
por a ter impregnado com projeções o meu querer
e no fim cair no abismo de vontades insaciadas.


Mas espere um pouco,
mesmo que cante ou chore até ficar rouco,
já logo sei que as energias e vontades do mundo só dele são,
pois, mesmo sendo louco, se quero a lucidez do são,
terei que parar com o refrão de conjecturar a vida
e vivê-la, nua e crua, independentemente da ferida,

e só assim, o tempo ficará amigável,
não mais um fluxo destruidor de tudo, que no peito, é inflamável,
e por mais que nunca se atinga uma Pasárgada de granito e estável,
será na delícia de se praticar o delito de amar, de se ferir e se afundar nesse mar instável
que a felicidade - estado momentâneo - pode te abraçar
e te fazer perceber que apesar de parecer impossível, nessas águas, transitar,
é só assim que é possível se superar
sem querer ser O Modelo,
mas ser, singelamente, mais um dos exemplos,
dos que viveram e amam a vida do jeito que ela é,
e não do jeito que o nosso inconsciente quer.

Eu, que transito em textos e arte,
me levanto forte e guerreiro para coisas que não abro mão,
só me desmancho e chego no âmago do meu existencial,
no mais íntimo da minha vontade cultural e animal,
no mais próximo do que meu peito quer...
Quando, por poucos segundos, lembro do seu calor de mulher.


João Gabriel Souza Gois, 26 de outubro de 2013.

OBS: Como diria um amigo meu, bem genial - principalmente no jeito de ver a vida - após uma discussão política inflamada e comprida: no fim - na foz - é tudo sobre elas.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Jazz frio. Quase azul.

Quando não sou carrasco do que sinto,
sou carrasco quando minto.

Foi no fingimento,
que deveras senti aquele alento,
e dele não deixei espalhar
o que tanto forçava em mim mesmo para me apaixonar.

Sou carrasco por ter despertado sentimento
em alguém, 
e cansado do mesmo vício de me ver aquém
sendo reproduzido por outrém,
foi no chacoalhar da maré do amor
- esse eterno vai e vem -
que propiciei dor
e por outro alguém me apaixonei.


Fujo mais uma vez dessa realidade!
Fujo, Ogum não me vê, ele não olha os covardes!
Fujo para o lirismo, no existencial.
Fujo para o anarquismo, melhor epifania para convívio social.

Sim, o lirismo implícito na anarquia e na auto-gestão,
que dão, à beira da janela, mais de um exemplo,
e assim, me refugiando na canção e no meu indígno templo,
me procuro em quem não me quer, e deixo outro coração na mão.

Não teria eu enfrentado para depois fugir,
se não soubesse que um dia, poderia eu te atingir,
mas esse Cool Jazz, esse samba de baixa cadência,
me fazem olhar para mim mesmo e desconstruir a indecência
que construí para projetar que me refiz, 
e em verdade repetir a fluência
de sempre correr do amor.

Esse desastre que me tornei,
só o trumpete consegue revelar,
Ah! Vontade insubmissa,
que faça do impossível a primeira premissa realista,
do poder jovem e das velhas madames da pista,
para que a cooperação não seja só tema de revista
e ela persista
inclusive em meu livre amor,
porque assim, gerando gratuita dor,
me vejo e sinto asco,
me reconstituí em exercício só para virar carrasco?

Quase azul, quase triste,
Mas tem uma parte em mim que é sempre verdade,
e de onde essa fuga para torpes sorrisos e falsas vaidades
vai me levar?

No fim, responsabilidade em vários termos consegui,
e percebi que não interessa onde e quando acaba o mar,
foi assim que bem prossegui,
e não desisto de tentar te conquistar,
se fujo agora, veja bem, meu bem,
é para esperar a maré baixar,
a poeira assentar no chão,
e a rua, a cidade: todas embriagadas com canção
farão emergir o popular em ação,
talvez não para tirar político ladrão
ou fazer o que os modernos chamavam de revolução,
mas para dançar em chuva de verão
e renunciar o cinza, ou o monstro no rosto da multidão,
e vermos todos amando com tal zelo, e sempre, e tanto
que mesmo escondendo minha cara em seus curtos cabelos,
possamos nos sentir gente, longe de toda a humilhação
descabida
que essa mercadoria livre chamada vida
é para a conjuntura dos homens de poder.

E o pior, é que depois de girar,
olhar os prédios, a garoa e enfim cantar,
minha fuga só vai cessar,
quando, junto à compaixão mundana,
junto à evolução social e cultural humana,
seu omisso olhar finalmente me encontrar.

E então,
talvez só em utopia,
com pitadas de rebeldia,
sua boca me encontre finalmente
para que possamos nos amar.
E se não,
se for só viagem de juventude,
com pitadas de plebe rude,
Iemanjá me afogará novamente
nas salgadas lágrimas de mar.

João Gabriel Souza Gois, 23 de outubro de 2013





Obs:

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Paixão Orgânica II

Ah, se eu pudesse me emaranhar nos rumos de teus olhos
E deles fazer mais do que janelas,
fazer, além do vínculo de comunicação, algo meu,
com uma posse menor do que desconfiaria Romeu,
e simplesmente tê-los pelo simples respeito de amar,

e depois da explosão da Vontade, na Contemplação sem resignação me acalmar.

E contemplar, dentre outras perspectivas,

a perspectiva só tua, que já na aparência, revela-se nua e crua
para se fazer amada,
para que por conta das dores de sempre se incorporar no amor uma espada,
me frear por motivos justos, porém inimigos do meu querer,
para resultar, em qualquer investida, em mais um não... Não quero crer!

Linda és, talvez mais em minha idealização,

mas o pouco que provei me obriga a fugir para o poema e para a canção,
e assim, me expondo como não consigo deixar de fazer,
procuro, na incerteza e no erro que é ter-te em mim, um viver
em que não serás necessariamente apenas mais um prazer barato de botequim
mas que compartilhe comigo tudo que pode, no íntimo, contribuir para o meu aprender; Enfim...

Sim, sei que pareceu efêmero e abusivo,

Não, não sei acreditar que foi só impulsivo,
algo em teu sorriso já me movia ação,
algo em teu íntimo pedia a mim inovação,
e na beleza de ver sua confusa imponência aos aristocratas,
me embriaguei, me perdi, mas não renuncio o querer que me faz parecer figura ingrata,
Figura esta, que fará pela primeira vez o papel de carrasco,
e por você, poder ferir uma mulher, para exercer o que
                       [o gênero bruto carrega e que sabes que tenho asco.

Fiasco, no fim, é o que toda mínima inteligência pequeno burguesa que carrego contém,

e de pequeno burguês carrego mais a criação do que o orgulho por um pueril vintém,
mas, como desertor da guerra do amor,
peço a Ogum, santo guerreiro, que compreenda o ardor,

aquele que impulsiona a guerra, coisa que ele é Senhor,
mas também nos faz mudar, nas vertiginosas marés de encontrar conjunto
                                                          [e compartilhar a Cor

que carregamos no sorriso, mas escondemos na vida social,
só para fazer média, ser o 'nunca triste': o clássico babaca banal.
E empurrar com a barriga o que não sinto no carnal,
E deixar de fazer alguém sofrer, e também terminar
                                   [por desprestigiar meu próprio carnaval.


A festa da carne, do sangue e das mentes que meu espírito pede,
Se me der essa chance, não posso afirmar o que sucede,
mas, podemos sim, amar além do que foi estabelecido,
e se não fizermos, ficará em mim cicatriz, não de amor vivido
e mal amado,

mas de um amor reprimido
e pra sempre esperado.

João Gabriel Souza Gois, 6 de outubro de 2013

Impasse Livre

E se tem que sofrer
para viver o que quer
qual o medo, sendo já mulher,
em se ver no poder?

Não entendo,
quero entender,
fico curioso,
mas também confuso
e me perdendo nos trópicos,
tropeçando nos fusos,
me pego com meus botões e parafusos
perdidos nos tópicos
que o enigma de tua alma
me faz decifrar.
Tudo isso sem sair do meu lugar.

E quanto mais decifra,
mais devora.
Quanto mais hesita,
mais demora.
Quanto mais evita,
mais chega a hora

Em que a ansiedade
de não querer o fim da liberdade
vira a prisão.
Se fala em liberdade, mas ela é retórica
para que nos momentos de exacerbação alcoólica
finalmente uma alforria barata
se torne dor de cabeça e culpa ingrata,
que estimula, no fim, mais a fuga do amor.
Só por medo do fantasma que é a especulação da dor.

E quanto mais decifra,
mais devora.
Quanto mais hesita,
mais demora.
Quanto mais evita,
mais chega a hora

A hora que o amor líquido,
escorreu e vazou,
e por pensar tanto no pesar de outrem,
acabou por não viver nem pra si nem pra ninguém,
e de tanto se julgar aquém,
só no sofrimento e na culpa se buscou amém
e assim, com seu sedutor olhar de desdém,
fez-te triste e a mim também,
e secou a flor,
não amou, não amei,
porque o tempo encarado como inimigo
vira o destruidor de qualquer pensamento além,
de qualquer alento de quem te quer bem,
te quer assim, bem consigo,
abraçada comigo,
liberando mais esse sorriso lindo
que tanto esconde em vertiginosas culpas tortuosas.

Goza, venha, goza comigo!
Goza, que o tempo vira aliado,
e a boemia, escola - não fuga.
e a poesia, vivida no suor excitado.
para que morra a pulga,
que atrás da orelha, tirou a audição
dos saborosos e libidinosos corpos entoando canção.

João Gabriel Souza Gois, 07/09/2013

Obs: Relutei um certo tempo para postar esse poema, mas acabei cedendo... Não interessa se será mal digerido - o que, em verdade, não deveria acontecer. A arte não pode ser reprimida.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ao Poeta da Vida

Se aos alardes já clamaste por bases sólidas
No fim, se funde e flui no tempo em liquidez,
Se o raciocínio acelera para o passional longe da lógica,
O lirismo é a redenção para a contradição de ser e criticar o pequeno-burguês.

A oxigênio-poesia, que vive flutuando no fluido que é o ar,
Só tu, sábio vasilhame, a deixa em ti escorrer,
o sal sólido das lágrimas e o espontâneo leito do gargalhar,
mostram em ti a mocidade, que sabe menos dizer do que viver.

Anacrônico no julgamento do passado,
e gênio inconformado com o passado no presente,
se irrita, arma, impõe-se como inconsequente,
por ter fé metafísica na humanidade com amor e sem fado.

E o fado português das vertiginosas ondas políticas,
não some no Partido que conserva hipocrisia,
mas os vícios de nacionalismo, em ti, vazo lírico, convertem-se em rebeldia
que agita o corpo não mais que a mente.

E no momento em que a boemia e a embriaguez ingrata
não forem suficientes para se rasgar em prosa de buteco,
ages já no escuro, roupando-se nas paredes de concreto,
para prender em rimas as valorosas sensações abstratas.

Sei bem como reages, mas nunca senti o que é ser você,
e fugindo da auto-sabotagem, te encontrei saindo da sombra
                                 [quando finalmente voltava à escola do ser
Saía eu também, bem sabes, dessa melancolia destrutiva
E, em meio a roda de samba e das burocráticas falsidades
Fomos da molecagem à projeção ativa.

Sabemos que no fim do leito do rio da vida,
o oceano é muito maior do que nossos olhos possam ver,
mas ainda assim sonhamos com o grito que ecoa como brilho de aurora,
pois nesse mundo, só há sonhos para os que são guerreiros natos do saber.

Axé, irmão de inconformismo!
Axé para todos que fogem do egoísmo,

e são egoístas ao argumentar,
por não conseguir suportar
a simplista e programada poltrona macia que é a hierarquia...

Quem dera se com a fala embriagante
pudéssemos atingir aquele instante
de epifania das marés da brasilidade
e lembrar que o amor livre não destrói a lealdade.

Pelo contrário!
Esses outros, amigos da posse e pelo fim do orvalho
Farão o papel de otário
quando assistirem o amor emergir.

E se, nas inseguranças, dispersarmo-nos
da intensidade de interagir,
deixaremos de reagir
contra os aristocratas do capital falho.

Que falha!
Quando passa a navalha
em quem expõe a linda comunhão humana...
A cooperação, desde a política até assuntos da velha chama.

E vendo o medo
vendar os arredores de conformismo,
N'outra história, que mais bem nos identifico,
Tu, Poeta, ascenderás como filho de Xangô!

É difícil, saber se reage ou se compreende a dor,
É difícil transpor ideias de cabeças de outras épocas,
mas ainda assim, na nossa jovem vida, sem muito do percorrido em léguas,
fazemos música, bagunça... Fazemos Samba e Amor.

É difícil, saber se reage ou se compreende a dor,
mas sei que entendes que além do ardor,

existe amor,
só não se sabe onde está,
e não basta só a nós procurar,
morreremos a cavucar
e morreremos no âmago desse mar,
para compreender que não importa o que lhe dizem,
O importante é que não deixe que lhe pisem.

Gauche!
Um brinde aos Gauches que não engoliram o deleite banal
da mais nova e sem amor desordem mundial!
E se tu lutar enquanto eu filosofo bobagens,
será pela liberdade, e não pela libertinagem,
que havemos de nos encontrar!
Um brinde, Poeta. Saravá!


João Gabriel Souza Gois, Agosto/Setembro de 2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Limpeza lírica

Venha até mim humildade
antes que eu passe da idade
de aprender a renascer
e deixe de renunciar à arrogância,
caia nos venenosos véus da ganância
e morra por dentro
por querer esbanjar pelo peito
pseudo-conhecimento e nenhum respeito.

Venha e me impeça de esbravejar,
impeça de esbanjar e ostentar,
e se assim, num barril, como um cão, continue eu a ladrar,
será esse - com lirismo in praxis - o meu lar doce lar.

Venha e me deixe libertar o instinto animal,
suspender as lodosas e imponentes construções de viver em meio social,
para que nunca desatente do lado espiritual
que no fim religa em legião

o que a filosofia e a religião
não encontram de ponto de encontro entre o vários e nulos Eu.

Zagreu!
       Espalhei os olhos que me guiavam por arrogância,
       para falar bonito, me mostrar com petulância,
       e durante a limpeza, vem a relutância,
       esta que me faz retomar em última instância:

É minha a ação! É meu o pensamento!
Mas não posso, mesmo quando - prepotente - tento.
Não posso guiar as energias do mundo!

Tomei posse de minhas ações!
Tomei posse de meu pensamento!
Mas não são minhas as razões
que fazem ser tão prazeroso o contato com o vento.

Valei-me Deus! Alá! Krishna e Tupã!
Obrigado - pela chuva - pela briga e pela bela comunhão; Xangô e Iansã.
Façam todos a mim ter a noção nada profana
de me redimir perante a natureza e perante a cultura humana.

Pois foi pedante querer ser o simulacro do mundo
e se desperdicei - no acidente ou no destino - a guia de sentimento sincero,
sei que o quê que eu espero
só é beber mais da água do amor, da humildade e da esperança,
para que através do atabaque o espírito guie a dança
da vida vivida aqui e agora mas também com o prazer e a dor da lembrança.

Afogue e esquente,
refogue e apimente
a mocidade,
para que não se recolha na maldade
e finalmente cante na chuva, ocupando a cidade.

Afogue o lixo e os coitados,
seja inimiga dos homens-transito alienados,
mas por favor não me negue o recado

de que naquela epifania teria eu amado ou injuriado.
Sábia são vocês, Iansã e Nanã, que na chuva e na lama,
não tenham dispensado,
que a injúria e o amor, ambas à beira da cama,
são o mesmo em substância: Vínculo único, oposto e ainda assim misturado.

Oxalá! Humildade!
para que eu voe desse momento em que cismo...
Voe por cima, mas não ignore o abismo
e me redima de uma vez do pecado do intelectualismo.

Epa Hei, rainha chuvosa!
(mistérios dionisíacos implícitos, não minto)
Kaô Kabecilé, justiça vistosa!
(Amo, erro, vivo e sinto)

E como sinto...


João Gabriel Souza Gois, 23 de setembro de 2013