quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ipse Venena Bibas

Às vezes acho que quero ser mais poeta do que realmente sou. 
Por isso finjo tanto no poema, na canção e na rebeldia.
Lirismo de meia tigela, tigela feia, velha, mas minha.
Degela a psique em momentos de ferida, de rinha.
Aquece o meu ser, o vir-a-ser virtuoso do novo dia.
E escrevo versos com pobreza, até leio, mas enjoo.

Até que então, anos depois,
Leio aqueles versos feijão com arroz,
E me sinto genial.

E percebo, que afinal,
Leio diferente de como escrevo:
O vômito nunca tem o gosto do que bebo.

João Gabriel Souza Gois, 25/07/2013

terça-feira, 23 de julho de 2013

Elas

Se cada uma delas soubesse que têm, elas todas, cada uma sua poesia.
E não me imponham a autoria!

Esqueceu, naquela noite, o que me dizia?
Como tu sorrias?
O quanto aquela energia,
fazia a vida, meio cheia ou meio vazia,
uma fonte rica de epifania?

Lembra da sua pele escura pressionando meu corpo?
Do nosso amor bobinho que mais valia a mim que qualquer ouro?

Lembra dos seus loiros cabelos roçando meu rosto?
E meu medo bobo de me perder no posto?

E você, lembra das cumplicidades e segredo da nossa comunhão poética?
Da nossa redenção orgânica da sensação cética?

Sua inteligência escondida na simplicidade?
Não lembra, porque aí, já é meu poema.
Já é meu julgamento em ideia,
não em carne, nem em vida.

Mas estou cansado de encher palavras e emblemas
e esquecer-me de pintar um novo semblante no dia,
vocês todas me ensinaram em proporções diferentes,
cada uma deixou um laço próspero e uma dor revivente
mas digo, não só com letras, mas com todos os dentes
que tudo que me deram, foi muito mais que presente,
foi um passado embriagado de significado,
um futuro com referências de amor amado,
e percebo, eu, o que sempre se perpetuou com fado,
eu, sempre vítima por mim mesmo vitimado
manquei-me, não só no verso ritmado,
mas no ritmo badalado de vossos corpos suados
que, fale eu o que quiser,
admiro demais esse poder e potência de se saber mulher.

Bruxas sensíveis.
Brutas e incríveis.
Tudo que um texto não põe,
Elas põem em um olhar,
seria bobo qualquer homem que nunca,
por nenhuma, se viu lacrimejar.

João Gabriel Souza Gois, Abril~Julho 2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Entidade Grega e a Entidade Negra.

A flor de minha pele
furou a mentira da minha mente.
A cor da minha sede
se limita no desenho de seu corpo.

Seu corpo que hoje
apenas conheço como entidade platônica.
E meu amor, que já não sei se também
não passa mais de uma ideia...
Daquelas à prova de bala, à prova de flor,
à prova de dor.

Quanto mais eu gaste dos nervos,
quieto, mais eu me rendo no coração
e percebo que o fingimento d'outras canções
são mais verdadeiros do que a antiga flor de minha mente.

Se à flor da pele,
a flor feia, que furou a derme,
não é a antiga flor de minha mente,
que flor, que tanto pouco diz como muito sente,
presencio então?
Seria apenas resistência alucinógena
reativa à solidão?

Entenda, por favor,
esse emblema
que trago no poema
muito transita por memórias,
histórias e pensamento,
mas nada muda no ritmo lento
com que se atrasa um verdadeiro e terno abraço.

E, sem braços, meu amor sem substância,
meu amor metafísico tirado da lembrança,
apenas adverte, em seu poder de herança,
para eu andar logo e começar a amar.

Maldito vasto mundo?
Bendito pasto mudo!?
Maldito Lobo-cordeiro!
Bendito seja o Santo Guerreiro!

Que de mim quer distância,
pois em última instância,
me vê, em meio a guerra do amor,
como um covarde desertor.

João Gabriel Souza Gois, 22 de julho de 2013

Obs: Aos olhos platônicos, um amor. Aos olhos de Ogum, um desertor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

De mim, pelo mundo, para ela.


A mim meu coração não mente
e meu cérebro nada sente,
a razão do amor penitente...
Essa sim faz de um louco, um doente.

Homem outro, é o do mundo aparente
O homem são e onisciente
não dá atenção para as metáforas do inconsciente.
Reduz o universo ao diâmetro do olho
e põe suas reflexões metafísicas de molho.

Quando crê no passado resistente
e resiste ao humor do presente
faz ideia para o simbolo da gente
só não nos olha no olho,
e perante o que somos, somos enganados,
e o que perpetuamos são grihões 
e o que importamos é pressa,
vamos nessa da cultura ao lado
enquanto da nossa dor, do nosso gado,
resta o mesmo velho cerco fechado.

E o palhaço, magoado
com a mímica média a que se enquadrou,
quando no desvio padrão se rebelou
lhe foi queimada a pele, distinguindo o boi adoidado.

Ainda assim, no clima nada mutante,
sob as mesmas estrelas relutantes,
sobressai a esperança que brilha atrasada
das estrelas ontem vivas
que ainda insistem iluminar.

E fito seu cansado olhar,
virtual e intangível,
pairando o universo incrível
da rede dos homens solitários...
Sólido e otário permaneço
e em seu olhar de píxel, anoiteço,
vendo um amor que agora não mereço
mas reconheço como potencial.

E meu não mais presente frescor de orvalho
me hipnotizaria com o imponente escudo de carvalho
com que defendes o que queria que fosse meu amor.

De mim, pelo mundo, para ela,
à dor do mundo e à minha dor paralela,
o sabor que imagino rimando com canela.

Ah, freio antes a presença que não veio...
Freio meu animal anseio
E meu humano bobeio
que viu nesse subjugado seio
áurea descabida,
apenas quis, frente outra dona da vida
já devidamente acompanhada.

Minha boca não fala nada 
e na redenção atrapalhada
lhe desejo, assim sozinho,
sem um beijo, sem carinho,
que desfaça esse afortunado homem
na mais bela melodia.

Pois enquanto os viventes entoam-se em música,
os sórdidos párias vomitam poesia.

João Gabriel Souza Gois, 15 de Julho de 2013 (iniciado em 02/07/2013)

Obs: Feito à luz de uma nova, interessante e impossível paixão. Tomara que um dia nos conheçamos. Mas ainda tem um mundo inteiro no caminho, com olhos falso-empíricos e devaneios materialistas, para chegar ao fato... E de fato, nem a presença real é factual. Deve ser uma daquelas paixões mais por admiração do que por convivência... Daquelas bem fingidas e mal vividas. (: