quarta-feira, 2 de julho de 2014

Noitiva

Brilhos da noite cantam sem fumaça.
e meus açoites reencarnam na carcaça.
Ferido em volta de uma questão eterna,
Sorrindo embriagado, sozinho na caserna.
À vida! Ávida dúvida se brindo ou não.
Amiga, nossa perigosa e saborosa brincadeira de mão.

Vagalumes artificiais,
Montanhas aritméticas,
Silenciam no barulho suprimido,
E me mostram - com eu me encarando sem comprimido,
a cidade, e suas possibilidades que animam
e destroem qualquer esperança.

Simplesmente me pego sem mim,
ou, complexamente só comigo,
e o que meu cérebro, sem exaltação,
percorre nos horizontes dos pensamentos
pouco transcorre em ação solidária aos sentimentos;
E do lirismo potencial, da dor metafísica e existencial
o poema não existe antes da poesia,
e no meu imobilismo animal, meu amor pela mística e carnal
musa, a música não existe antes do silêncio.

Esses monstros descansam nos rostos adormecidos da multidão.
Esses monstros renascem a partir da aurora e do reinício
                                           [do vício desse hospício de produção.

Milhões espremidos em panela de pressão,
e eu, tão preocupado com os outros,
me curvo em mim, egoísta sem ambição,
e ambiciono tanto no coletivo,
coleciono tanto sendo nada ativo,
que o remorso urbano de querer ser sempre novo
e acordar como sendo si-mesmo de novo,
me leva a percorrer essa imagem estática na varanda,
ver sua beleza mórbida, concreta savana,
e descobrir entre flores de asfalto,
entre exageros pelo olfato,
pela drogadicção contínua de Fosfato,
que entre eu e os fatos,
há uma estrada de indecisão.

E não é que pela disposição
de luzes nesse cenário urbano,
o que há de mais melancólico em meu coração suburbano
sorri por resguardar em si mais um "Não".


 João Gabriel Souza Gois, 2 de Julho de 2014