terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Apologia à antropofagia.

[Apologia à antropofagia; ou premissa do apetite antropocêntrico para o direito de todos os animais]

Peixe comendo girino:
Um sapo a menos.

Gente comendo peixe:
Um cardume menor.

Gente comendo gente:
Um músico! Um poeta!
Uma ideia ou um tirano a mais.
Variabilidade genética,
Embates da ética ! ...

Mania desumana de se apropriar
da vida, da cultura e do sexo de outrém,
(nascimento, casamento, suicídio, Amém)
torna, em cada caso específico, se não escravo de fato,
escravo assalariado dependente psíquico de papel moeda; deixam de ser por vintém.

Não!
    Não domestique o outro!
                       Coma-o!
              Não prenda, não aproprie!
                    Almoce referências,
                                 Sem falsas inferências,
                                         nem falsos créditos.
         Busque no outro, não o que sonha, mas o inédito.

        Assim poderemos dizer para Hobbes:
                O lobo não é tão lobo, quando almoça... Quando toma um copo d'água...
         Depois de provar, por A comendo B, que essa falácia não é nada humana,
de apropriar, de ser lobo de si, de tudo quanto definem como premissas...
 
         Viveríamos menos teleguiados pelo porrete,
         Se, em vez de inimigo, víssemos no outro o banquete.


João Gabriel Souza Gois, 30 de dezembro de 2014

Obs: O possível outro título: "Premissa do apetite antropocêntrico para o direito de todos os animais" se deve à algumas conversas em que reparei pessoas a favor do direito dos animais totalmente alheias a perceber que a desproporção pela qual estes sofrem faz parte de um modo de produção onde inclusive os humanos são gado. Enquanto essa premissa não for aceita, e o argumento infantil de "Um cachorro vale mais que um mendigo" for propagado por quem tem raiva do "humano lobo mau" que faz os animais sofrerem, nunca, em termos de políticas públicas levadas a sério, o direito dos animais vai ser considerado se não se percebe que o que limita esses direitos é o mesmo Leviatã Investidor que limita os direitos de tudo que é vivo e espontâneo na face dessa Terra. Sei que essa observação, ou esse possível subtítulo, tem mais a ver com uma discussão isolada do que com o que o poema discute. Mas acho possível perceber onde uma coisa tange a outra. Feliz ano novo!