domingo, 16 de janeiro de 2011

Maniqueísmo: o verdadeiro Lúcifer.

                  "O existencialismo é um humanismo !"
  
      É difícil perceber o quanto a reflexão existencialista faz parte de nós. A lógica de hoje, como diria Mustaine do Megadeth, a lógica do "Novus Ordo Seclorum", reduz a inteligência ao fato de ser rico, de estar no topo da piramide. Não que isso seja exclusividade da Nova Ordem Mundial, mas existem limites quando se trata de decisões, tanto econômicas quanto sociais, para qualquer segmento ideológico. O limite do Neoliberalismo já devia estar explícito à nós, desde 2008. Enquanto eles não percebem que o fato do mercado financeiro inchar a economia americana, alguns brasileiros ainda defendem o não-desenvolvimentismo e choram pela saída de Henrique Meirelles.

Jean-Paul Sartre.
    Isso é diferente de supor que os neoliberais são pobres em sua filosofia, e maior que tudo isso é o fanatismo (vide a eleição do ódio que ocorreu no Brasil, levando até ao preconceito mais 'a la Hitler' contra o povo nordestino) que alimenta a obstinação de seus seguidores, talvez cegos como os coitados dos oprimidos por uma figura poderosa que pode fazer de tudo e obriga que se siga uma regra, impõe uma moral, e uma escritura certa, mesmo que as linhas sejam tortas (não se esqueçam que as linhas tortas foram feitas também por 'Ele'). Isso para os existencialistas era a considerada má-fé, apontar a culpa para o não uso de sua liberdade em alguma situação externa, como por exemplo um ser divino. Não que não existam fatores que tenham alguma espécie de influência em nossas decisões, o próprio Sartre (um dos filósofos existencialistas) se tornou ativista político Marxista, e o Marxismo, como sabemos defende, assim como aprendemos nas aulas de história hoje em dia, que o modo de produção (a organização socio-econômica) da época e do local, influi na cultura de determinada população. Hoje isso é muito claro, eu diria até que provado 'experimentalmente'; basta prestarmos atenção nas décadas e nos pensamentos de avós, depois de pais e agora o dos filhos  (a inovação tecnológica adapta cada vez mais o modo de produção, por isso já existiu, só no capitalismo, o industrial, o comercial e hoje o - famoso - financeiro) ...

      De qualquer maneira, a filosofia existencialista é realmente difícil de ser compreendida, ela propõe que o ser humano é o guia de suas ações, e tem liberdade para fazer escolhas, diferentemente do que muitos pensam, não 'prega' a 'desordem', ela apenas mostra que o ser humano existe antes de ter uma essência (a existência precede a essência)... Tudo que não é o ser humano recebe um rótulo, como se descrevesse um movimento, chamado "Em-si", ou seja, uma cadeira , um guarda-roupa, esses só existem porque sua essência foi pré-definida: sentar, armazenar trapos. Já o ser humano realiza o 'movimento' "Para-si" onde primeiro existe e depois constrói sua essência, logo nada pode definir um modelo, não existe uma missão pré-definida, um destino construído, e aplicar tais argumentos para justificar o não uso de tal liberdade de escolha (pois até a escolha de não agir é uma escolha) é a considerada má-fé.

José Saramago.
    Apesar de parecer fora de contexto, um trecho do livro "As intermitências da morte" (José Saramago) deixa bem claro o resumo da idéia oferecida. O trecho se trata de um momento em que o autor apenas faz uma comparação, uma espécie de analogia que exprime a idéia de que o responsável pela maldade ou pelo sofrimento dos humanos é seu próprio criador... "(...) desde que, por exclusiva culpa de deus, caim matou abel.(...)" Ou seja, querendo ou não, pela ótica existencialista, o que Saramago escreveu demonstra má-fé sob os argumentos divinos, posto que para ele uma passagem da Bíblia culpou alguém, que seu próprio deus influiu a agir.

John Maynard Keynes
     Assim como o deus repressor do universo, o deus cristão, age de má-fé quando coloca a maçã para nos tentar e também implantou em nossos sentimentos a inveja, para que no final acabassemos por fazer tudo que ele não queria (que fique claro que o criador da inveja, segundo a bíblia, é o próprio deus, visto que Lúcifer, só virou o "coisa-ruim" por possuir tal sentimento) e ainda nos punisse por isso, os EUA é o próprio condutor de sua crise, com a sua esquerda pouco ativa (morna) mais antagônica a uma real mudança ou estruturação do sistema econômico do que qualquer esquerda vigente. Apesar do Tea Party ser um problema maior (em uma ótica progressista), os próprios democratas são cegados, e não enxergam um velho colega chamado Keynes, pura e simplesmente pelo fato de desde 1991 a regra, o postulado, a verdade-absoluta-econômica ter se tornado o neoliberalismo (como já vimos, a "maledêta" da má-fé, que nos faz deixar de agir em prol de um "postulado"). Mais fanáticos do que qualquer Absolutista, Liberal ou Comunista já foi, os Reis da nova ordem tentam manter a idéia que lhes serviu por um periodo de condições externas favoráveis e se esquecem de além de estar quebrando mais do que qualquer "demônio keynesiano" a sua própria estrutura política e econômica que hoje representa uma moeda de baixo valor e um índice de desemprego desesperador, estão quebrando países "amigos"(eu os chamaria de pau-mandado) como a Irlanda. 

        A antiga mania do ser humano de simplificar teorias, de maniqueisar teóricos, de impor postulados baseados em referenciais convenientes. Por exemplo, muitas pessoas não entendem que o Liberalismo surgiu para contrapor o Absolutismo, portanto a idéia de liberdade econômica e liberdade política eram totalmente saudáveis naquele contexto, já que a monarquia absolutista torrava milhões e intervia na economia de maneira a converter os ganhos para acúmulo de ouro e prata (metalismo). A intervenção naquela época tinha um intuito de encher os bolsos da Coroa e os ideais liberais que só ganharam força após a revolução francesa e a ascensão da burguesia, com o iluminismo, foram com certeza um marco e um grande ganho para a humanidade. Esse período se foi, é parte da história agora, existem mais situações após essa que devem nos fazer reconfigurar o pensamento... E lá vamos nós: Depois disso a burguesia ascendeu e novamente alguém fica no topo... A partir disso a super-exploração impera, e os próprios socias-democratas começam a contradizer alguns de seus ideais. Essa é a realidade de hoje; existem corporações que cresceram e atualmente estão acima até de muitos governos, que com base na festa das privatizações provocadas por diversos Estados acabaram por se tornar monopólios disfarçados... Mas pera aí? O monopólio absolutista não era exatamente o que o Liberalismo queria quebrar? Como o Neoliberalismo cria um novo modelo de monopólio? Pois aí que está a contradição. Não quero postulá-los como errados, e ganhar com esse argumento decifrando e provando por a+b que estão incoerentes... Mas a verdade é que o que antes era um Estado que convertia através do Absolutismo e do Mercantilismo todos os ganhos para si, hoje são corporações que fazem o mesmo com o neoliberalismo e a "boiada" que o mercado financeiro recebe de governos alinhados com a nova ordem mundial. Os que querem uma mudança real na questão social, e no bom desenvolvimento de orgãos públicos, precisam entender onde está o equilíbrio; se é verdade que a iniciativa privada é mais eficiente e serve para suprir as necessidades imediatas de infra-estrutura e de indústrias lucrativas, ao mesmo tempo, sua lógica de lucro, intrínseca na filosofia vigente, não faz sentido em setores de intuito social, como colégios, hospitais, universidades e etc. também não faz sentido com demais indústrias de base como matrizes energéticas, mineradoras, siderúrgicas e etc. Do ponto de vista econômico, não faz sentido vender uma empresa por um valor igual ao seu lucro mensal... Isso nunca aconteceria se não existisse o absurdo de alinhamento ideológico a todo custo, como aconteceu com a nossa querida Vale do Rio Doce durante o governo FHC.

       Não existe maneira mais clássica para isso, e eu, como estudande e pouco conhecedor dos mistérios da escrita, terei de usá-la... Óh ! Lá vai:
       Contudo, podemos concluir que, no mundo existem diversas ideologias, filosofias, religiões e esterótipos, e se hoje seguimos algum, temos que buscar o mínimo da lógica e usar os demais a nosso favor... E não excluí-los. Qualquer estudante de economia leu "O Príncipe" de Maquiavel, e apesar de hoje o mundo não ser Absolutista, entender aquela reflexão é útil para construir coerência econômica e social. O extremo só foi visto em crises absurdas, em situações que o exigiam pelo fato das paixões e do "estômago" humano estarem danificados de tal maneira que o milagre era a solução. O radicalismo prega o milagre, reduz uma estratégia economica a uma ação, diminui um acordo político a um argumento, e apesar de entender muito bem e até defender setores da sociedade que são mais radicais em vários aspectos, eu sei que através da política estes nunca conseguirão nada (o radicalismo foi o que levou à ascensão do fascismo e do nazi-fascismo, por exemplo). A forma mais clara de intuir essa conclusão aqui proposta, é que a Igreja, por exemplo, que impôs muitas coisas e faz parte da nossa história, pode ser mal interpretada por uma filosofia específica, bem interpretada por outra... O ideal é enxugar todos os excessos possíveis, agir com coerência e partir de todas as condições que disponibilizamos para usar a nosso favor tudo que já foi escrito na história. Se o povo americano é extremamente despreparado para receber tal mudança, o Brasil também o foi quando Lula entrou. Para um país como o Brasil que possui uma economia crescente e que está incluso no rol das grandes economias promissoras, o ideal não é seguir o Existencialismo, o Comunismo, o Absolutismo, o Liberalismo, o Neoliberalismo ou qualquer outro modo de produção, postulado ideológico ou filosofia muito mais antiga, seja ela pré-socrática, medieval, moderna ou até mesmo contemporânea... O ideal é seguir os índices, e conciliar os conhecimentos, envolvendo coerência em manobras políticas, decisões sagazes quanto ao uso do capital privado e noção científica para a organização de uma restruturação em qualquer indústria de base, além de, com foco exclusivo, trabalhar para organizar o aumento de consumo de modo que esse não gere problemas a longo prazo, como por exemplo o excesso de automóveis... Uma noção mais abrangente, para construir ferrovias e aliviar rodovias, para estimular o transporte público sem acordos absurdos nem ônibus que mais parecem vans de tráfico humano e se dão ao luxo de cobrar 3 reais. Sim, isso parece o ideal e impossível, mas se pensarmos que no mundo atual existem tecnologias absurdamente fantásticas das quais não imaginaríamos, a coerência científica nos conduzirá a isso (não que seja a verdade absoluta, mas os fenômenos sociais também podem se aprimorar com ciências humanas, assim como as tecnologias se aprimoraram com as exatas).

     O planejamento tão objetivo e bem construído ainda não existe, mas já é possível ver uma melhora e um crescimento partindo da riqueza na base da piramide, já é possível ver a expansão e o bom uso do capital privado sem influências negativas (como a capitalização da Petrobrás por exemplo) e que fique bem claro que isso não é um panfletismo do PT ! É verdade que é totalmente compactual e a favor do partido, mas isso existe atualmente; em algum momento é possível que essa coerência se termine, e se o apoio continuar, os textos escritos neste blog seriam em vão, já que a crítica desde o início foi para o exagerado ideológico. O PT pode seguir o desenvolvimentismo, ou pode virar um governista cara-de-pau, isso depende do rumo que vamos tomar a partir de agora.

     Independentemente da política ou outro tema em que as filosofias, as reflexões e as ciências se insiram, o que sempre superficializa a compreensão de tais questões é o maniqueísmo: o bem e o mal não estão definidos. E nas campanhas, e nas evangelizações, e nas bandidagens que por aí estão, esse conceito é absurdamente abusado; por exemplo, se você for um existencialista o mal são os outros, se for a igreja, o mal é tudo que não se alinha com seu pensamento, se for o liberalismo o mal é o monarca (bem diferente de Keynes, ok?) interventor. Se conseguirmos, algum dia criar essa consciência (de que existem situações mais pertinentes do que o 'bem e o 'mal'), além dos preconceitos e birras, aí sim estaremos no 'fim da história'. O fim da história não é necessariamente o proposto por Marx (Comunismo)... O fim da história não foi 1991 (A nova ordem) e para os mais supersticiosos e com interpretações mais imediatas do que 'é o fim da história' também posso garantir que não será 2012. Assim sabemos que qualquer questão tem de ser avaliada, de maneira mais ampla do que certo e errado, e que os referenciais diversos servem para enriquecer as análises e as interpretações; progredindo sempre.

     Para terminar eu gostaria de citar uma frase de um escritor famoso, Franz Kafka, que trata muito bem dessa noção de verdade, a qual as pessoas acabam por cultuar em excesso e no fim tratar com maniqueísmo quase todas as situações existentes, seja religiosa, filosófica ou ideológica. Lá vai :

Franz Kafka


           "A verdade é tudo aquilo que o homem precisa para viver, não pode ganhar nem comprar dos outros. Todo homem deve produzí-la sempre no seu íntimo, se não ele se arruína. Viver sem a verdade é impossível, mas não exagere o culto da verdade. Não há um único homem no mundo, que não tenha mentido muitas vezes e com razão." Franz Kafka.