segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Mais novo dos Testamentos.

No oitavo dia, Deus criou o paradoxo
Para apreciar o desnorteamento do homem,
E a partir disso apimentar a monotonia de uma vida sem questões,
Criando as teses e antíteses para padrões e refrões.


No oitavo dia, Deus fez a razão
E junto a ela a complexidade
para gerar conflitos e proximidades
nas vertentes que estavam a se criar.


No oitavo dia, Deus fez o instinto,
Para criar arrependimento no faminto,
E o prazer em tudo que se possa existir,
Permitindo que a poética e o eu-lírico, da prisão do não-ser pudessem sair.


A partir da palavra e das condições criadas,
Foi acordado o homem, e toda sua espécie,
E recuando diante de tanta grandeza, recitou uma primeira prece.
Daí então a humanidade é consolidada.


As ações para os "homens" estão em alta.
Pois no Diário de Deus suas poucas palavras que permitiram a vida
Estavam, diante de tantas criações humanas, oprimidas.

Em pouco tempo, diversas criações humanas direcionaram
o pensamento pagão.

Deus Sol, Deus Mar e Deus Trovão.
Porém pensar no único Deus criador,
Só apareceu - como Lei - com a Igreja Católica como instituição.

E apesar de manter sua criação de palavras e de novas existências,
boa parte dos componentes que permitiram tantas eficiências,
Os 'iluminados por algum deus' reprimiram.
Pois para essa Instituição, a salvação era negar
O paradoxo, a razão e o instinto.


Do Diário de Deus que listava as palavras da existência
O homem negou todas e as transformou em heresia,
Pensar no paradoxo e na razão científica que confrontasse a Igreja,
Agir com instinto e mencionar o que o comprovaria,
à morte levaria, pois a morte é o que a Igreja almeja.
"Sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há Igreja"


Desde que ela surgiu, o homem assumiu o papel de Deus
e Deus, de maneira radical se entristeceu,
O maravilhado pelos feitos do homem se sentiu - pela primeira vez - ferido.
E agora via os elementos da criação humana:
paradoxo, razão e instinto
Sendo - pelos humanos - proibidos.


Tão perto dos Humanos viveu,
Tanto de sua filosofia leu,
Tanto de sua arte contemplou,
Que o mais puro ódio em si acumulou


No auge do poder do Papa,
Deus estava inconformado com o esquecimento do oitavo dia,
e do obscurantismo que a Religião Suprema distribuia.
Não é porque criação artística e filosófica não havia,
Mas porque contestações, dúvidas e diálogos
que tornaram possível e construíram tudo de maravilhoso,
A Igreja não permitia.
Por causa da negação de várias outras  criações possíveis.
Da destruição de livros e obras incríveis.




A morte, a pobreza e a opressão, desta vez tinha algo de inédito.
Dava-se a Deus, todo o crédito.
Pois em nome dele os homens determinaram funções solidificadas,
E nessas funções, como sempre na história, as maiorias eram exploradas.


Para o criador dos elementos básicos e da primeira palavra falada.
Foi tanta a dor, coisa que antes não tinha sentido,
Que diferente estava, e o mesmo já não era,
Não lembrava mais da verdade, só tinha dúvida, e além dela nada.


Sob pressão da culpa de mortes que eram anunciadas em seu nome,
e agora, perdido, não mais onipresente, começou a sentir algo que antes não sentia.
A angústia e a revolta era tanta que em sua santidade não cabia,
Que cada vez mais sentia-se homem. Homem era!
Era carne, paixão e rebeldia!


Esquecendo do que fora, mas lembrando do que sofria,
Atribuindo a si, sem nem saber o porquê, a culpa da morte de tudo que morria
Sentiu-se de alguma maneira sábio e forte, para combater essa hipocrisia.
E para tanto, apelou para a heresia.


De tão humano que se encontrava Deus,
Foi Ele o primeiro dos Ateus.
E seu fim mortal, em plena Idade Média, não era difícil de se prever,
Morreu no fogo, que já o fez chorar num passado antigo,
Quando diante do frio e do medo, o homem o manipulou e afastou o perigo.
E enquanto Deus ardia em nome de Deus, se lembrou e pode ver.
O que foi, o que era e o que viria a ser.
E desta maneira percebeu, que aquela repressão,
Sofria por não ser cristão.
Pensou que um dia ainda há de se entender isto!
Pois em toda eternidade, nunca conhecera Jesus Cristo!



Nesse momento, o homem tinha praticado um paradoxo inquestionável
Tornado a maior e mais impressionante santidade, vulnerável.
Deus, o todo-poderoso, havia criado uma pedra tão pesada, que não pôde carregar,
E percebendo a prática do paradoxo renascida, desatou a chorar.
Pois junto a tudo que havia na composição do homem,
Do Carbono às angústias,
Havia uma alma que destruiria qualquer tentativa contrária
a ter uma vida arbitrária.


Mas essa liberdade, inevitavel e existencialista
ao homem corromperia

Pois Deus de si mesmo, este seria.
Mesmo que poucos tivessem acesso a tal epifania...


Deste episódio, o que restaria era um mundo de acasos.
Sem mediador nem perdão aos que pagam fora dos prazos.
Mas também de liberdades incríveis, do íntimo e individual,
Fazendo do homem, superior a si mesmo, e portanto intelectual.


Deus, enxergando tudo, sofreu e sorriu,
Pois sem Ele, o homem bem prosseguiu.
Exploração, em seu tempo de santidade,
Nunca foi uma grande novidade.
E fora isso, o que via de perigoso para o homem,
Nem eu, nem você saberemos, enquanto não irmos de ser a não-ser.


Mas quando Deus menos percebeu, seu pulso cessou,
Pois essa sequência de visões e recordações.
Foi uma epifania de pouca duração, traduzida em diversas emoções.
E assim sendo, o ser humano, matara quem o criou.


Em todo tempo de seu mandato
Deus ao homem havia se dedicado
E por isso que nem no momento mais delicado
Pensou em criar um lugar para reverter o fato
De que o fim chega e para algum lugar se deveria ir...
Portanto de tanto a vida maravilhar, da morte esqueceu-se de intervir.

Por isso o fim dessa estória curta
Há uma verdade que não há quem discuta:
Deus não passou para nada além
Pó e carvão. Amém.


João Gabriel Souza Gois, 03/06/2011