quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Borboletas Brancas


Sinto comigo, agora, que a criança não está morta.
Sinto conosco uma nova semente à porta.
Sinto uma grande nova safra em uma pequena horta.
Sinto calor (FINALMENTE!) do ventrículo até a aorta.

Realidade embriagada de Devir,
nunca seria uma realidade morta,
mas se sempre permanecer no ciclo da culpa que corta
a alma, a calma e paciência do saber nunca poderão vir.

Sem servir,
serviço cem porcento.
Sem Devir,
vida de lamento.

Momento e enigma são muitas vezes sinônimos,
e os gênios homônimos se dilaceram por não se aturar,
mas um desses gênios, por o outro herdar,
a ele estará fadado a amar.

Não adianta me desafiar com esse desdém,
não adianta afiar a navalha e cortar alguém,
A educação por ironia aprendi com Machado e não com o choro de Kafka.
A maturação pela filosofia escolhi, não me mudo por uma nula causa.
Mas se causa e consequência são a lei do seu mundo,
sinto muito em te olhar como se estivesses imundo,
mas queria muito poder te pegar pelo pulso,
e fazer de você um embriagado nessa sinfonia de arte eufórica,
nessa fuga do mal do século que se confunde - e com razão - com a fuga da babilônia.

Senti o cheiro de sua nova colônia,
mas sua essência intrínseca e que só a ti pertence ainda me puxa,
não mais para baixo, acho eu,
mas para algo que dentro do meu
espectro interior desencadeia no ideal de tu.

Ideal de tu,
é o que amei,
e seria injusto dizer que te amei,
se amei uma ideia e não a carne,
se amei o que Eu julgava tua alma.

Ah, belo reitor de meus valores,
democratize meu universo,
pois se não decreta a abertura,
eu mesmo me abro a cada verso
e desconverso seu medo
para mostrar que mais cedo
ou mais tarde
o calor que finalmente arde
esta sendo liquefeito não só em lágrimas
e naquela melancolia
d'outro dia,
 que me auto-destruía.
Mas está sendo refeito em dádivas
daquele novo dia pelo qual chorei embriagado,
e que pronunciava no pensamento (e para minha artesanal e auto-biográfica alegoria)
que era um novo, apesar de cheirar a velho.

Meu velho e minha idealizada princesa,
assustei-os, pois sinto-me autônomo!
E grito ao meu gênio homônimo
(Meu gêmeo de outras décadas)
Não estou bravo com vocês,
pois me submeti por opção,
e não foi por sorte que gritei a vocês dois:
Independência ou morte!

Cá estou vivo, e com muita pendência,
mas esse calor que cerca minha essência,
é o combustível pelo qual a depredada alma,
(até então submetida a corrente negra do zeitgeist apocalíptico)
finalmente reconhece existir em si, para si,
existencialistamente
coisa e gente.

Só coisas são autônomas,
E que coisa é essa que eu tinha que nenhum dos suseranos queria em mim?
Não sei, mas juntei todas as forças divergentes dentro do eu e as articulei numa revolução!
E pós-revolução, toda conjuntura é bagunçada,
mas sempre clareada, por uma imponente esperança.

Esperança é o combustível.
Me sinto Incrível! Ingrid, faltou pouco para você ver que ele existia também em ti,
esqueceu que dentro de ti, (Oh! Maravilhosa Poetisa!)
A criança não estava morta.

João Gabriel Souza Gois, 20 de dezembro de 2012.




OBS:  Escrito após assistir ao filme Borboletas Negras, ler o começo de A Imaginação de Jean-Paul Sartre, ler metade de Carta ao Pai de Franz Kafka.

O título conversa mais com a crendice japonesa, mas a oposição do termo em relação ao filme, fica, na poesia, mais claro ao longo dela. Esse poema também dialoga com o meu último (Quando não tinha medo?).