(I)
Ladrilhos cor de barro
são espectadores perspicazes.
Meus olhos ansiavam
neles a lembrança de um momento
que, juntos, vivenciaram...
Vivenciamos...
(II)
Passo por aquela praça
e a cada passo
acha ela graça
dos meus primeiros porres.
(III)
Circundo a cidade...
Caminhos antigos e acostumados
projetam em mim sua presença desinteressada.
Caminhos novos e em sacolejo,
com brilho nos olhos, ensaiam seu cortejo.
(IV)
Se se olhar bem pelas margens,
reparar nos detalhes presentes em toda viagem,
percebe-se, passivamente, o poder da imagem:
que estabelece entre as coisas e nós,
em nós,
linguagem...
Permitindo que a música do mito
abuse delas em bricolagem.
(V ínculo)
Eternizo o momento
em que sorrio pra linguagem
e faço lavagem do que, no olho, pousa...
Leve e desprendido
como músculos
que se permitem a uma massagem,
sintetizo uma mariposa
na música que as coisas
tocam
quando olham
para mim.
E eu,
olhado por estas coisas
resumidas, por mim, na imagem mariposa,
não sou, para elas, como sou pra mim:
Sorriso, carinho e bobagem:
Solidão, cansaço e saudade na bagagem...
Nada disso.
Apareço - roupagem.
Imagem - pareço.
(VI!)
Olhe para mim! Viu?
Viu a metonímia de mim!?
Hein!? ...
Ela não responde...
A metonímia
do universo conhecido
me ignora...
Ignora, ironicamente, todos nós,
mesmo sendo a única a tomar
parte de tudo que é.
Como essa mariposa
que,
na varanda,
enquanto escrevo,
ignora onde pousa:
Ignora a mim.
João Gabriel Souza Gois, 6 de agosto de 2015.