No Vácuo.
A estabilidade que almejei,
A tranquilidade que sempre procurei,
O repúdio a Dionísio que sempre impus,
A necessidade de silêncio para dar vez à luz.
Contido, uno, inabalável, envolvido em granito.
Era o que sempre procurei, nas crenças, ciências, filosofias e mitos.
O mais puro, mais profundo, mais tranquilo vazio.
O vácuo, silencioso por falta de som, frio por falta de atrito.
Luz, só o que passa por ele.
Mas o excesso dela queima, cega.
A falta dela obscurece.
A falta do som, deixa de lado os barulhos incessantes,
Os argumentos infantis e repugnantes.
Mas também some com a música e as epifanias dos gritos de prazer,
Os versos desconstruídos e torpes
Profundos e embaralhados na essência e nas cordas vocais,
Que exprimem o som aparente, e o pensamento por trás dele.
O signo escondido (a essência do prazer)
O signo escondido (a essência do prazer)
Que no fim é representado por nada além das interjeições
E onomatopéias que dizem tudo sem nada dizer.
Expõem o desejo e amor da união de dois corpos em um único ser.
A falta de atrito, permite o fim do desgaste,
O fim do choque,
Mas produz a situação mais não natural possível,
Fazendo com que sons anteriormente mencionados não
Possam vir a ser.
Tanto pela falta de um estimulo para a produção destes,
Como pelo fato de no vácuo não existir matéria.
Para que, além do monótono pulsar da artéria,
Haja algo por onde se propagar.
E o atrito pode fazer, além de tudo,
O excesso frear,
O amor sair da mente e virar ação:
O simples exercício físico do que há no coração.
Amor este, que tem o atrito como ator de sua representação.
Que o tem como intermédio de sua propagação.
Analogamente, o atrito é para o amor,
O que a matéria é para o som.
E cá, sem atrito, sem matéria,
O resquício de amor, se converte em dor.
Pois não pode representar, não pode propagar.
O que adianta amor, sem poder amar.
O infortúnio do vazio, poderia ser almejado, quando se queria luz e calma.
Mas não há motivo almejá-lo,
Quando a luz vira coadjuvante e o amor personagem da alma.
Ao imbecil, impedido de saciar o mínimo que sua essência pede
Só seria interessante ter o vácuo como sede,
Se não amasse ninguém.
Mas se é imbecil e tem anseio, é porque ama,
Então o vácuo não é nada além do que seria para um doente
A cama.
Queria sentir o cheiro das flores, de vida, de tudo.
Mas só tenho luz, de fontes não confiáveis
Estrelas duvidáveis, que possivelmente já explodiram há anos.
E de que adianta essa luz se não há o que iluminar?
Repito: o que adianta amor, sem poder amar.
No vácuo, louco e lúcido.
Paradoxo inquestionável.
Na vida, bobo e estúpido
Pelo amor altamente inflamável.
A chama não chama mais quem deveria.
A fama importa mais que a garantia.
O homem não é mais humano.
Ora se tem sanidade e o vazio,
Ora se é feliz, amando e com conhecimento distorcido,
Inútil... Em vão.
Inútil... Em vão.
A inconformidade para com o que sempre foi o mais lógico possível
Mostra como falar que o amante é insano é totalmente plausível.
Devaneios prazerosos ou lucidez corrosiva?
Eis a questão.
João Gabriel Souza Gois, 24/11/2010.