sábado, 13 de novembro de 2010

Dummond no meu lugar; hora de descansar e deixar o mestre falar.

     Cansado de escrever nos últimos tempos, e até certo ponto atarefado - apesar de não cumprir com todas as tarefas fielmente. Vou postar uma poesia de Carlos Drummond de Andrade, que gostei muito por simplesmente identificá-la com o que não queria que fosse verdade, mas que reconheço. Concordo com os versos todos, exceto por achar que as coisas sempre podem se renovar, mesmo que demore uns bons anos. E cuidar para que essa hora demore, é simplesmente reciclar os lixos dos excessos de cada um envolvido, tornando todo relacionamento, tanto de amizade, como os enamorados, contagiantes por si só. Tá aí:




A hora do cansaço 

As coisas que amamos, 
as pessoas que amamos 
são eternas até certo ponto. 
Duram o infinito variável 
no limite de nosso poder 
de respirar a eternidade. 

Pensá-las é pensar que não acabam nunca, 
dar-lhes moldura de granito. 
De outra matéria se tornam, absoluta, 
numa outra (maior) realidade. 

Começam a esmaecer quando nos cansamos, 
e todos nós cansamos, por um outro itinerário, 
de aspirar a resina do eterno. 
Já não pretendemos que sejam imperecíveis. 
Restituímos cada ser e coisa à condição precária, 
rebaixamos o amor ao estado de utilidade. 

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre 
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar. 


Carlos Drummond de Andrade, 1984.

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