sábado, 14 de dezembro de 2013

Aos gênios sem reflexo

Melhor assim, 
nos animarmos distantes,
para que a vaidade restante,
não destrua o saboroso em potencial.

Crava!
Crava!
Crava a raiva
como aquela maçã,
que me consumirá em forma desconhecida,
que me fará transitar da morte para desconfiar da vida,
Crava!

Crava! E costura...
Crava e costura a palavra,
a palavra com que lavra significado
e a larva que, meio tonta, se vê sem ninguém ao lado
usará da maçã, da metáfora que importa, o fio
e o descosturará em uma nova costura
que não exige postura
mas forma uma linda e fofinha barata de pelúcia.

Tia lúcia!
Tinhas razão, teu sobrinho é louco,
tudo que ele pede é:

Crava! Crava!
Crava para eu testar e ver se sinto,
crava em mim, crava em todo o recinto
um pouco de melodia,
nesse mudo-surdo-burro-besta meio-dia.

Faltou palavra,
pegou a clava,
arrancou a cabeça do minotauro
e ficou sem resposta para sair
do labirinto.

E em mim, vejo a parede essencial,
(parede essencial,
roubei o termo de um poeta genial,
com forte propensão para o espiritual
e desconhecido pelas vertiginosas academias
vendidas a interesses político)
a parede, no final
apresenta um pós-moderno raquítico.


Mas para que sair?
A luz vai doer?
Mente cheia não age.

Lapidar mais versos,
tirar deles os excessos?
E esses excessos kafkaescos,
o que faço com eles, uso de refresco?
Refresco de maçã?
Não há Ácido, nem divã,
nem Jesus, nem Tupã
que faça de uma barata,
algo que o valha.

E a culpa de kafka
é, em Christiane F. a navalha.
A ironia do pai que nunca leu a carta
destrói a individualidade intacta
de um gênio que não se enxerga.

Vá minotauro!
Se enxergue sem cabeça,
só resta sangue, parede e sentença
na culpa de um amor
que não merece esse peso.

Vá e me diga,
se o monge desenhou o Deus,
ou o Deus desenhou o monge,
cá, íntimo e longe,
construo labirintos em palavras,
faço citações de insetos e larvas,
me vejo todo submisso a esse Processo,
onde o Jurídico e labirintoso progresso
nos faz esquecermos
do próprio valor.

Crava, que agora aprecio a dor,
Crava a maçã, mas não a de Newton,
Crava como aquela melodia de Amadeus,
e, de Beethoven ao assassino bigodudo de Deus
(o homem moderno, não Nietzsche)
não existirá palpite
que funcione como a exteriorização
do lírico, que pressione como a elevação do espírito,
uma significação que em meio a tanta dor penitente
valorize a divina figura do ridente.

Só existirá, nessa figura que o palpite não traz às mentes,
a sincera e descompromissada desnudez dos dentes.

João Gabriel Souza Gois, inciado 30 de julho de 2013, terminado 6 de agosto de 2013.

Obs: Escrito depois de voltar da casa de um amigo, onde eu tinha lido um poema genial dele, fica aí minha homenagem aos que já se viram sem nexo, e não se enxergam, são gênios sem reflexo. Saravá Akira!

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