quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pequeno manifesto à esquerda contemporânea.


     Tudo começou quando li um texto sobre pesquisas que afirmam que a prática ou a ideologia de direita é, salvas as exceções abordadas, abraçadas por pessoas de menos Q.I, coisa que antes parecia um problema emocional.

     Ao meu ver, esse cientificismo intrínseco da nossa sociedade tem mania em sintomatizar comportamentos/opiniões e buscar suas causas psicológicas e/ou cognitivas. Até aí, ao meu ver, algo totalmente plausível se isso não acarretasse na valoração de comportamentos específicos como algo psicologicamente ou cognitivamente mais adequados, criando - quase que sistematicamente - um abismo entre a maioria e a minoria: quando as diferenças passam a ser anunciadas como produtos de patologias e de insuficiência individual e não de questões envolvendo o relativismo cultural e a contribuição coletiva. Um freio para a propulsão e propagação da democracia, em termos gerais.



           Segue o texto:
                 Pessoas menos inteligentes tendem a ser mais conservadoras e preconceituosas.

      "Não é nova a idéia de que o conservadorismo e o preconceito estão ligados umbilicalmente. Vários estudos já realizados chegaram a essa conclusão. A novidade é que o posicionamento conservador e o preconceito podem estar ligados à baixa inteligência. 
       Um estudo feito por pesquisadores de uma universidade de Ontario, no Canadá, chegou a conclusões bastante interessantes: adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas tendem a ter atitudes conservadoras e preconceituosas (racismo, homofobia, machismo etc). 
       O estudo foi dirigido pelos pesquisadores Gordon Hodson e Michael A. Busseri, do departamento de Psicologia da Universidade Brock, de Ontario, e foi publicado pela revista Psychological Science. 
      Os dados levam a crer que as pessoas menos inteligentes se sentem atraídas por ideologias conservadoras porque estas exigem menos esforço intelectual, pois oferecem estruturas ordenadas e hierarquizadas, onde o indivíduo pode se sentir mais confortável.
É bom deixar claro que inteligência nada tem a ver com escolaridade. Há vários exemplos históricos (como a Comuna de Paris ou a Revolução Russa) em que as classes mais baixas e com menos escolaridade se mostraram as únicas capazes de pensar de maneira progressista. 
     Hodson afirma que “menor capacidade cognitiva pode levar a várias formas simples de representar o mundo e uma delas pode ser incorporada em uma ideologia de direita, onde ‘pessoas que eu não conheço são ameaças’ e ‘o mundo é um lugar perigoso ‘…”. 
    A grande contribuição dessa pesquisa pode ser a criação de novas formas de combater o racismo e outras formas de preconceito. “Pode haver limites cognitivos na capacidade de assumir a perspectiva dos outros, particularmente estrangeiros”, entende Hodson, já que a crença corrente é que o preconceito tem origens emocionais, não cognitivas. 
        O que será que Marco Feliciano e Silas Malafaia têm a dizer sobre isso?" 


      Partindo dos comentários que li no site onde o texto foi divulgado, resolvi escrever um texto que - independentemente da veracidade - tenta sintetizar porque que a esquerda não deve usar essa premissa como argumento político, daí então, escrevi esse texto que chamei 'prepotentemente' de Pequeno manifesto à esquerda contemporânea :

                                          Pequeno manifesto à esquerda contemporânea

Esse é um argumento precisamente falho (o de que 'pessoas menos inteligentes tendem a ser mais conservadoras e preconceituosas'), se for usado - com tom de autoridade - por um militante de esquerda. Mesmo que haja estudos e meu instinto me obrigue a concordar, isso é uma maneira de criar peso ao discurso da esquerda por uma via de enaltecimento intelectual, e não a partir do desgaste ideológico da direita.

A noção quase de senso-comum da necessidade de direitos (o aparecimento do movimento LGBT em discussões legislativas, condições de trabalho adequadas e as largas discussões sobre minorias no Brasil e até mesmo na ONU) é uma vitória de bandeiras que a esquerda levantou no passado, porém politicamente a direita foi vitoriosa nos últimos anos, e essa dualidade nos possibilita a maior diversidade de relação com o mundo e com suas variáveis. Limitar o pensamento a dicotomias geralmente desgasta o debate, e pós-guerra fria, apesar de afirmarem o fim da história (ao meu ver um fim nada hegeliano e sim apocalíptico), a bipolaridade oficial criou clichês e rótulos ideológicos com peculiaridades, e tudo que não se enquadra nesse rótulos do passado (muitas vezes por uma vírgula teórica), hoje, muitas vezes ainda é interpretado por cada um - de cada uma das tendências políticas adversas entre si - como um potencial inimigo ou aliado.

Caso não tenha ficado claro, eu não compactuo com a ideia de que já não existe direita e esquerda, mas ao meu ver uma está desamparada ideologicamente e a outra politicamente.
A grande questão é que direita e esquerda são tendências, e não times ou escolas pelas quais você abraça tudo o que cada uma abrange, por isso - justamente por isso - essa dissociação de tendências, que é um produto histórico, ao meu ver, não é - apesar de ser tratada, especialmente depois de um Séc XX bipolar - uma dicotomia, pelo contrário. Ao se deparar com a situação multipolar (termo que prefiro para tratar do pós 1991, do que "unipolar"), as bandeiras de esquerda também topam com choques dentro do suas próprias tendências (outra rotina da práxis política) e, para se manter, criam embates muitas vezes mais ideológicos que políticos (sendo que o déficit da esquerda é político!) novamente dentro de sua própria tendência, mais: Utiliza do senso-comum ou do Zeitgeist pró-direitos para invalidar, através da falácia do Ad Hominem, os argumentos da Direita (seja tratando suas maneiras conservadoras como anomalias psicológicas, ou como cognitivas), fato que não esclarece os reais perigos que a direita oferece e ainda estigmatiza negativamente a esquerda como dona da verdade, como o "chato gritão", como o exagerado absoluto, como o moralista dos termos, sendo que os verdadeiros administradores do Absolutismo do Lucro projetam a imagem renovada e alinhada aos direitos (desonestidade ideológica e/ou moral) e mantém sua estabilidade política na conjuntura nacional e supra-nacional.

Amigos de esquerda de todo o mundo, UNI-VOS!

João Gabriel Souza Gois, 11/04/2013

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