sexta-feira, 7 de junho de 2013

Contemplação

Ranzinza segunda-feira cinza,
O que esconde em suas nubladas nuvens que inspira tamanha melancolia?


O que, em teu horrendo clarear, quer me dizer de fato?
O que, em seu intenso poluir e transitar metropolitano, me atinge?

Da secretária do dentista só se sabe
a sincera sintonia com os relógios; afim de saber
através da rítmica de ponteiro indiferente, a hora da alforria.

Do sectário panfletista só se soa
a ingênua vontade de mudança coletiva; os fins do seu saber

são discursos nada sóbrios de ideologia.

E tu, imponente dia de semana,
pautada na ignorância individual e na ingenuidade política,
pautada na miséria, no lixo e na covardia,
permeia, em mim, ignóbil ser poético,

o seu senso nada ético,
sensacionalista até no fétido
permear moribundo.

Até que em meio aos mercados,

aos transeuntes despreocupados,
em meio a todo aquele cenário Drummondesco
de Náusea existencialista,
como que pseudo-sabedoria de especialista
me surge outro disfarce de vida vistos

na superfície e ao olho nu:
Trajando couro,

antítese do ouro,
demônio de Vontade,
inestética beleza:
tamanha a frieza
de vossa Flor.

Floresceu em mim então uma cor,

um prelúdio musical que prepara e convence a cabeça ao fazer poético.

Floresceu um poema,
um dilema e nenhum semblante.


Passei platônico e desapercebido,
tamanho inimigo estou comigo,

negando a ação e metacrítica,
portando Cigarros e suco de fruta cítrica,
me percebi no Caos e alheio,
nem senti os degraus e o frio que veio,
só a beleza inestética me afetou.
Inestética e insistentemente musical:
me floreou o cinza quintal,
e percebi de onde vem...

Mas não pra onde vai.

Feia segunda feira,

onde seu esconderijo indecifrável
- de garoa e carbono -
guardava tamanho mistério?!

Tiraste a atenção solar,
o Apolínio iluminar,
evidenciaste o horror que é a existência

e me provou, com decência,
que não és péssima.
És uma otimista trágica,

pois só colocaste aquela letargia feminina em meu caminho
para perceber, que mesmo sozinho,
ainda Sou.

João Gabriel Souza Gois, 03/06/2013

Obs: A Schopenhauer me bastaria dizer que sou grato por sua existência na mesma medida que me assusto - e contemplo - seus escritos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui sua impressão, crítica, desgosto ou palavrão.
Não há nada que não possa ser dito, nem nada que faça com que as palavras, depois de ditas, morram.