quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Perspectiva(s)

(I)

Ladrilhos cor de barro
são espectadores perspicazes.
Meus olhos ansiavam
neles a lembrança de um momento
que, juntos, vivenciaram...
Vivenciamos...

(II)

Passo por aquela praça
e a cada passo
acha ela graça
dos meus primeiros porres.

(III)

Circundo a cidade...
Caminhos antigos e acostumados
projetam em mim sua presença desinteressada.
Caminhos novos e em sacolejo,
com brilho nos olhos, ensaiam seu cortejo.

(IV)

Se se olhar bem pelas margens,
reparar nos detalhes presentes em toda viagem,
percebe-se, passivamente, o poder da imagem:
que estabelece entre as coisas e nós,
em nós,
linguagem...

Permitindo que a música do mito
abuse delas em bricolagem.

(V ínculo)

Eternizo o momento
em que sorrio pra linguagem
e faço lavagem do que, no olho, pousa...

Leve e desprendido
como músculos
que se permitem a uma massagem,
sintetizo uma mariposa
na música que as coisas
tocam
quando olham
para mim.

E eu,
olhado por estas coisas
resumidas, por mim, na imagem mariposa,
não sou, para elas, como sou pra mim:
Sorriso, carinho e bobagem:
Solidão, cansaço e saudade na bagagem...
Nada disso.

Apareço - roupagem.
Imagem - pareço.

(VI!)

Olhe para mim! Viu?
Viu a metonímia de mim!?
Hein!? ...

Ela não responde...

A metonímia
do universo conhecido
me ignora...
Ignora, ironicamente, todos nós,
mesmo sendo a única a tomar
parte de tudo que é.

Como essa mariposa
que,
na varanda,
enquanto escrevo,
ignora onde pousa:
Ignora a mim.

João Gabriel Souza Gois, 6 de agosto de 2015.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Bricolagem

- Infelizmente os limões acabaram,
isso vai ser mais difícil do que pensei...
- Do que cê tá falando?
- Tô falando do toque especial da minha arte.

Toque especial não espera.
        Episódios.
               Rcortes,
                  Um novo olhar para crjar a partir do mesmo.


- Ah! Então é isso que cê põe no rango?
- Não só. Mas além da receita, um pouco de azedo e amargo é indispensável
para perceber os outros sabores.
- Pode crer.

Emergência é o que acontece quando o óleo quente encosta em algo gelado
Brio. Breu. Bricolagem é indispensável à vida.

- E não é que ficou bom... Que cê fez?
- Botei espinafre. Espinafre como a decepção. Mandioca como a felicidade.
Não existe combinação melhor.
- Cara, cê viaja!

João Gabriel Souza Gois, 3 de junho de 2015.

sábado, 30 de maio de 2015

Birdme

Fecham-se as cortinas.
Silenciam-se os espectadores.
E o camarim me oprime.

A solidão gerou o roteiro,
Mas não o prestígio.
E depois de gozar em público,
Me olho – frígido,
Me encolho – rígido,
e percebo: O camarim me oprime.

Longe dele, posso ensaiar romances,
Tergiversar instante,
compor momento.

Mas nele, cubo horrendo,
só vejo dentro: tudo aquilo que não cabe no mundo.

Minha melodia destoa a harmonia mundana,
E, entre a falsa rebeldia e a indecisão profana,
o palco é tudo que quero e tudo que não aguento mais,
porque depois, quando não mais somos semi-deuses, bacantes e animais,
voltamos à dialética, à vida burocrática, e tudo que em mim não cabe mais.

Esse negócio de querer ser poeta passarinho,
e ser lagarto escama dura, sozinho em cama dura,
me ofende.

Camarim... Por que obriga este espelho a me mostrar a mim?

O camarim tem uma cama.
Uma cama dura pra valer.
Você não dorme, só pensa.
Você não sonha, só vê.
O camarim que em mim ecoa
até acha boa
a ideia de uma caminhadura a se estender.
Caminhada científica, específica, mímica da mímica do perceber.

Mas esse caminho ordinário e sincero é corrompido
quando pelo palco já estou seduzido,
pois só nele faz sentido, de fingido,
realmente ser.

João Gabriel Souza Gois, 30 de maio de 2013

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Cão não morreu. Ele mora em mim.

"Mais uma vez a sombra cética não dominou de vez,
mas gerou aquele comichão cartesiano que apesar de justificar,
pros modernos, a existência, 
freia toda e qualquer ação: Santa Dúvida.
Casta, não se mistura com fluidos.
Não conhece corpos, nem a certeza descompromissada
(ou a incerteza preocupada) que só o amor, o horror,
o calor, a dor e principalmente a música - a única revolucionária
por excelência- sabem ensinar.

Ah, Verdade... Sei que mora nos olhos, porque, fora deles, no mundo,

se faz santa; todavia, não como a dúvida. Se faz a ferro e fogo.

A mim convém chamar-lhe de mãe-virgem do etnocida."


                                                                       [DAIMON]Demônio anarquista.

Método.

Sintomático lixo
isso que em mim, sujo bicho,
vejo lixar cada espontaneidade...
Renegar os direitos multiversais da idade.

Pro lixo a retórica macha e maciça,
pro lixo a minha própria necessidade retórica,
pro lixo o estandarte que eu mesmo estendi
depois que cri que levantei, e desde que caí,
o estandarte levantei daqui, do chão, desse niilismo
secular, ciclo de não, reação ao não com um não do não que não é sim.

Assim, outrossim, queria eu aqui e em mim,
me rever como música,
mas só vejo métrtrtrtrtrtrtrtrtrtrtrica,
o som tonal vocal não saí com 
métrtrtrtrtrtrtrtrtrtrica sem vogal.
Me é extrínseca essa música que já foi tão íntima,
e ínfima hoje, no meu ciclo-lixo prolixo, a sincera
música minha e só minha que me faz ser.
Ser no batuque, não no RG.
Faz tempo, lindo Byama, Erê Mí!
A dádiva serve para a relação, e a pipa que me deu, não ergui.
E não retribuí.
De novo, não retribuí.
Não só aí, nos planos outros planos quais planos esféricos metafísico-espirituais.
Não retribuí aqui, em carne e em terra, aquele amor que fechei a porta.
Não retribuí, aqui, em prolixidade e covardia, aquele odor vivo, hoje lembrança morta.

Os últimos dez poemas que pretendia publicar, não fiz.
O amor que pretendo alimentar, já trava na especulação da entranha:
Agora toda a forma autêntica de vida me soa estranha,
por que a preguiça livre me acanha, e sou motriz, apenas,
de um meio-termo-justo-meio-moderado-padrão político raquítico sem canção.

Ah, onde morava aquela implosão
que hoje só imito em imagens vadias,
em falsas inferências prolixas do que,
de fato, já compus e cantei na boemia?

pigarro de cigarro com lúpulo que já se eternizou
em amargo escarro desgarro e se distanciou
do abraço, espaço, laço que todo fingidor precisa,
e o fingimento Sem-sível da poesia,
virou heresia, demagogia, AH, SUPER-HOMEM,
CANTE COMIGO: PRO INFERNO A DEMOCRACIA!

(CRACIA! CRACIA! CRACIA! - krato crasso)
Enquanto eu crescia, em potencialidade e eloquência-de-um-e-noventa-e-nove,
Enquanto eu pendia, todo dia, a cometer um novo - sempre novo - sacrilégio,
o corpo transbordava magia,
mas, um dia,
- sintomático lixo isso que em mim,
sujo bicho,
vejo lixar cada espontaneidade -

ele, rota cinza, chegou (Mãos ao Alto!)
e rasgou a natureza primeva, impulsiva, bacante e embriagada
da

canção jovem
com sua concretude
de

ASFALTO.


João Gabriel Souza Gois, 13 de Abril de 2015



OBS (adicionada após a publicação):

GUERRA 
"Criança, certos céus aguçaram minha ótica: todos os caracteres matizaram minha fisionomia. Os fenômenos me emocionaram. -- Hoje, a inflexão eterna dos momentos e o infinito das matemáticas me perseguem por este mundo onde suporto todos os sucessos civis, respeitado pela infância estranha e por imensos carinhos. -- Sonho com uma Guerra, de direito ou de força, com uma lógica nada previsível. Tão simples quanto uma frase musical." 

 DEMOCRACIA 
' "A bandeira se agita na paisagem imunda, e nossa gíria abafa os tambores. "Nos centros, alimentaremos a mais cínica prostituição. Massacraremos as revoltas lógicas. "Em países dóceis e picantes! -- a serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares. "Adeus aqui, não interessa onde. Legionários de boa vontade, nossa filosofia será feroz; ignorantes sobre ciência, esgotados pelo conforto; que esse mundo se rebente. "Esse é o verdadeiro avanço. Em frente, marche!" '
  

Ambos de
 Rimbaud, incluí na observação porque, pra minha postagem, são indispensáveis.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Poeminho

Vagalume, vagalume,
sei que queres me enganar...
A luz mora em tua bunda?
Ou só existe em meu olhar?

Vagalume, vagalume,
sabes que quero me enganar...
É a luz que pisca em tua bunda?
Ou ela cessa quando mira em mim teu olhar?

Vago lume, vago lume,
dos poemas noturnos a se constelar,
sempre engana-me com suas mortes,
qua antecedem seu apagar.

Vaga lua, vagabunda,
por que não paras de trabalhar?
Faz lirismo do meu canto
e embeleza meu vadiar.

Vagos homens produtivos,
por que esqueceram-se de contemplar
a visão em paralaxe
que só vira ato se se a pretende despertar?

Vagalume, vagalume,
o que dizes sobre o mar,
que o vago lume da lua que não morre
insiste tanto em influenciar?

Seria mesmo, vagalume,
tão simples na estrutura, o tal reparar?
Será que a luz só vaga vã,
se se para de olhar?

Pois, me divaga, santo lume,
vagabundo no transitar,
é a terra que me move,
ou a água que insiste, em mim, chacoalhar?

Pois não sei vagalume,
simplesmente poetar,
simplesmente colher do estrume,
coisas para significar.

Só lhes digo, ó, vagos lumes,
que no céu dançam para o luar,
se me enganam em suas mortes,
quem garante, depois ou antes,
que não me enganam por completo?
Pois quando, repleto, relativizo,
os pontos variados do olhar,
parece que o afeto,
vaga como lume no vácuo estrelar.

E o afeto nada vago, às vezes lume,
quer sempre petrificar,
imitar o absoluto do devir perpétuo,
e assim, hermético, não consegue me alcançar,
porque nunca sei, no seu vago lume,
que é seu modo de se apresentar,
Se o amor quando está perto,
só está assim para o meu olhar.


João Gabriel Souza Gois, 17 de Janeiro de 2015.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Apologia à antropofagia.

[Apologia à antropofagia; ou premissa do apetite antropocêntrico para o direito de todos os animais]

Peixe comendo girino:
Um sapo a menos.

Gente comendo peixe:
Um cardume menor.

Gente comendo gente:
Um músico! Um poeta!
Uma ideia ou um tirano a mais.
Variabilidade genética,
Embates da ética ! ...

Mania desumana de se apropriar
da vida, da cultura e do sexo de outrém,
(nascimento, casamento, suicídio, Amém)
torna, em cada caso específico, se não escravo de fato,
escravo assalariado dependente psíquico de papel moeda; deixam de ser por vintém.

Não!
    Não domestique o outro!
                       Coma-o!
              Não prenda, não aproprie!
                    Almoce referências,
                                 Sem falsas inferências,
                                         nem falsos créditos.
         Busque no outro, não o que sonha, mas o inédito.

        Assim poderemos dizer para Hobbes:
                O lobo não é tão lobo, quando almoça... Quando toma um copo d'água...
         Depois de provar, por A comendo B, que essa falácia não é nada humana,
de apropriar, de ser lobo de si, de tudo quanto definem como premissas...
 
         Viveríamos menos teleguiados pelo porrete,
         Se, em vez de inimigo, víssemos no outro o banquete.


João Gabriel Souza Gois, 30 de dezembro de 2014

Obs: O possível outro título: "Premissa do apetite antropocêntrico para o direito de todos os animais" se deve à algumas conversas em que reparei pessoas a favor do direito dos animais totalmente alheias a perceber que a desproporção pela qual estes sofrem faz parte de um modo de produção onde inclusive os humanos são gado. Enquanto essa premissa não for aceita, e o argumento infantil de "Um cachorro vale mais que um mendigo" for propagado por quem tem raiva do "humano lobo mau" que faz os animais sofrerem, nunca, em termos de políticas públicas levadas a sério, o direito dos animais vai ser considerado se não se percebe que o que limita esses direitos é o mesmo Leviatã Investidor que limita os direitos de tudo que é vivo e espontâneo na face dessa Terra. Sei que essa observação, ou esse possível subtítulo, tem mais a ver com uma discussão isolada do que com o que o poema discute. Mas acho possível perceber onde uma coisa tange a outra. Feliz ano novo!

domingo, 28 de setembro de 2014

Manifesto do Partido dos "Lumpem" Preguiçosos

MilitÂnsia descolorida,
cinza, pragmática, rotulista e pré-estabelecida,
seja revolucionária como os verdadeiros revolucionários e boêmios,
busque a briga, mas não centralize o crédito dos prêmios...
Às vezes agiu mal, naquele velho embate,
porque achou que era coisa de "lumpem" achar que o abacate
é mais símbolo do Brasil do que algumas 'Doxias'.

Antes que me olhe desconfiada do meu peleguismo,
afie a crítica, renuncie o niilismo,
e percorra comigo o abismo criativo para a política
que a envolve na vida, e não no cronograma,
que a não separa por critérios epistemológicos
para soar mais reproduzível.

Pare um pouco hoje, só por hoje esqueça A Grande Trama,
e dance, dance pra valer.
Por maior que seja a estrada militante a se percorrer,
ela nunca será música.
E, desculpe amigo, nessa terra
onde assovia o sabiá,
  [aquele que Tom cantou e a militÂnsia não entendeu nem um milímetro de seu
  [versar.
A Música será sempre mais a identidade da classe trabalhadora
do que um ou outro qualquer arquétipo.
A prova nada científica disso
foi quando ouvi de um trabalhador uma vez:
"Parou o Samba!? Tinha que ser pequeno-burguês!"

O Samba fala a língua do povo.
A esquerda fala a língua da esquerda.

Bamba esse povo, ó Xangô. Bamba.
Porque a corda bamba a que todos estamos
cada vez mais balança
de desconfiança do velho que querem pintar de novo.
E pior: Desconfiança do novo, que apesar de novo, fala de um jeito tão velho,
que nem é lembrado.

Se você acha que arte é para se consumir,
ou apenas para aliviar o árduo trabalho da história,
nós não podemos te aceitar.


O que eu vejo de pré-revolucionário,
nesse fosco cenário,
é a Sexta-feira.
Afinal de contas,
meu sindicato é o Bar.

João Gabriel Souza Gois, 28 de setembro de 2014.

OBS: Isso não é uma apologia, nem um orgulho idiota pela despolitização.
Isso é uma desaprovação de um dos formatos de politização que tantos insistem em dizer que é o único-possível-realizável. Um brinde, Paul Lafargue!