quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Pós-moderno.

Ao cansar de ser opaco
o fraco se fez forte.
Mas falta o norte...
Mas falta o norte.

Individualidade, como um barco,
samba no mar da vida, não tomba por sorte.
Mas falta o norte...
Mas falta o norte.

Ainda jorra o sangue,
continuam os caranguejos no mangue.
Mas falta o norte...
Mas falta o norte.

Ainda luta-se mais do que se conquista,
só há descontos e carinhos aos que pagam a vista.
Mas falta o norte...
Mas falta o norte.

Do moderno temos a ciência e nos falta o espírito,
Prossegue o terno, prossegue a desvalorização do lírico.
E falta o norte...
Falta o norte.

Do religioso, some a filosofia,
cresce fundamentalismo e hipocrisia,
Continuamos sem norte,
Sem norte.

Do ver ao ter,
do ter ao depressivo e supérfluo parecer.
A desigualdade aumenta, e a solução é o corte.
Corte de gastos e incentivo a desgostos; projeção de porte.
Distanciamos o norte.
Falta o norte.

Na piscina de gelo que liquidifica
o líquido moderno desliza sem poder parar,
foge pro trabalho, pro culto, ou para o copo ao se embriagar,
E não há norte para se procurar.

Despedida do niilismo negativo,
mas o reativo também tem que cessar...
valores universais para se nortear.
Mais ética, menos vício de moralizar,
mais sentimento público, menos Eu ou Meu Deus,
mais arte, menos escândalo de bordel.
Qual será o formato, em seu conteúdo,
que o moderno líquido - variado
mas também opresso por um padrão -
poderá se apoderar para sair do mar de não,
da luta impossível contra a especulação,
contra o monopólio de mais de um bilhão,
se no próprio umbigo não vê razão
para se conhecer, se explorar,
e se sentindo mais um número, uma conta de site ou de bar,
se deixa explorar, não cria, se faz máquina para operar
no projeto de outrem mais bem adaptado,
ou previamente programado,
para achar que também não é dominado
pela onda nefasta da era das grandes escalas,
de notação científica para mensurar consumo e lixo,
de grandes exemplos e imagens - para o bom e para o mau,
e de maior dor no encontro do singular...

Qual será o formato e o conteúdo

que o fluído e escorrido homem dois mil
se pautará para poder caminhar?
Se já boicotou a vida, mas prossegue com o medo da morte.
Se já aumentou o tamanho da ferida, mas ainda não tem o norte.
Se não tempo na agenda para despedir o fraco e revolucionar o forte.

Não que não haja esquerda ou direita,
as duas ainda se impõe, argumentam, comparecem sem desfeita,
mas é que além da curva estreita, a frente,
há um futuro incerto,
nebuloso deserto,
de multidões - cada vez mais envelhecidas - da nossa gente,
da escassez cada vez mais proeminente...

Desliza no gelo o homem líquido,
precisa de tempo, por isso não tem tempo para o lírico.
Se aliena da falta que faz sua humanidade, com uma incondicional e improvisada moral.
E convém dizer que em refrão faz sua rotina abissal,
enquanto se simula e parece, quando fraco, um Brás Cubas forte.

Mesmo os que encararam o singular e deixaram de ser opacos,
ainda vivem o espírito do tempo
que, apesar de em constante acelerado movimento,
não têm, em seu futurístico descontento, o norte.
Perante esse desbussolado fato
nos desejo sorte.


João Gabriel Souza Gois, inciado em dezembro de 2013, finalizado dia 15 de janeiro de 2014.

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