terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Voo até o avô

A tristeza de quem amo
me faz tão triste.
Mesmo não faltando no mundo o que chamo
de dor de quem "resiste".


Resiste e persiste
procurando em tantas desgraças a alienação,
para que mesmo que em vão,
sorria com fome. Se contente com alpiste.


Me desculpem deuses do paraíso otimista
não vejo opção além de um agnosticismo pessimista,
que me destrua mais nos momentos de autodestruição,
mas que me façam tragar o último gole e continuar a gritar Não!
Não à maneira simplista
de se resolver o problema.
Não ao pensamento facista
vendido pelo datena.


Os clichês dos revolucionários
não erram quando acusam os reacionários.
Que solidificam histórias pelo lucro.
Que desapropiam pela especulação,
Que obrigam deprimidos à depressão,
protegidos por suas sagradas propriedades,
e por uma lei divina, sem humanidades.
Invólucro.


Quanto vômito de insatisfação!
diria qualquer leitor de bom-senso.
Tens razão, pois quando penso
boto em erupção um vulcão.


Mas nada muda o infortúnio do acaso,
que insisto, já que é meu poema,
em não botar esta questão em dilema,
mas a usarei para exemplificar o porquê que me arraso.
Não interessa quem criou tudo.
Pois agora já está criado
e ficarei mudo?
Estagnado?


Não sei.
Só sei que não sei, e tentar saber
nos leva a reconhecer onde está a sabedoria...
Serena e lúcida, diferente da maioria.
Está naqueles que mesmo sem investigar
a mais difícil teoria ou palavra,
ja entendia, antes mesmo do meu nascer, como se lavra.


Apesar de não ser comunista,
nessa situação, mesmo que insista,
não conseguirei desvalorizar o trabalho.


O trabalho que levou uma criança ao ápice da humanidade,
quando esta alcançou a terceira idade.
O trabalho de um homem, que mesmo apoiado na certeza,
transcendeu da vida para encher as bocas que via na mesa.
Homem que teve, muitas decepções,
e vendo resposta em suas orações,
aprendeu a tolerar.


E a tolerância sai de sua boca
em estórias perdidas.
Sua vontade de viver
vale todas as vidas.


Pois ali está a prova do que pode ultrapassar o sentimento humano.
Amor e trabalho de toda uma vida
e uma simples ferida
leva tudo ao cano.


Difícil ver justiça no acaso. 
Difícil ver justiça no mundo.
Talvez o mundo e o acaso tenham mais em comum do que poderei listar,
mas neste momento, desato a chorar...


Chorarei mais se for preciso,
mas esses chororôs estão bem longe de Narciso,
pois mesmo que eu force o mais torpe riso,
paro e analiso...


Que a única coisa que sei que me criou,
se sente mais fraca a cada momento,
pois vive mais um lamento
desse mundo apoiado em uma oligarquia
e engolido por uma realidade fria
que nos mostra o valor da poesia.


E esse valor pode estar expresso em palavras, como em um poema,
mas pode estar claramente presente em uma obra do cinema.


O que torna esse valor o mais importante, no fim,
é que o vi em algo além da arte. Vi em uma existência
que preencheu de trabalho a Alma e ultrapassou os limites da experiência.
Uma existência chamada Joaquim.


João Gabriel Souza Gois, 01/02/2012


OBS: Escrito no início do fim de meu avô. Postado no dia de sua morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui sua impressão, crítica, desgosto ou palavrão.
Não há nada que não possa ser dito, nem nada que faça com que as palavras, depois de ditas, morram.