quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Entendendo o Enigma.

Chorar porque deixou de sentir
É sentir que não sente.
Ora pois, então não minta, pois quando mente
consente que sente tanto
ao ponto de ter motivos
quase sempre emotivos
pra se esconder o que se julga como verdade.

Raridade, nesse estado alienado
de se olhar indiferente e desavisado
com olhos perdidos nos desertos de si,
concluir que foi para si mesmo que mentiu
e revestiu de verdade
essa impossibilidade
que é não-ser enquanto é,
ou seja, mesmo sentindo, negar e fincar o pé,
numa velha ou nova máxima qualquer
que em si sabe que, no mínimo, não cabe.

A vida prossegue,
progressiva só no caos que a rodeia,
e, nesse devir fluente como é no deserto a areia,
mesmo se sentindo morto, se vive, mesmo que negue.

A quem, se vendo aquém, já compartilhou de si para os que o amam
essas coisas que de si (o isqueiro) nos outros (a lenha) inflamam
basta um dia poder escrever, sentindo que deveras mente,
que mentindo deveras sente,
e por mais fingida que essa dor pareça, por conta de,
agora, ao pô-la pra fora, já não presenciá-la tão pungente,
que se vê legitimidade em si, agora, no Tudo que é o presente,
para dizer e perceber, na divina maldição da empatia com tudo que sente,
o quão pouco vale essa falsa conversa com os outros, ná própria mente,
e quão valiosa
se mostra a dolorosa
desvelação de si rumo à nossa desnudez dos dentes.

João Gabriel Souza Gois, 15 de agosto de 2014.

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