sábado, 5 de fevereiro de 2011

Pessimismo + Felicidade ≠ Incoerência.

     Depois de ouvir alguns comentários e reparar no modo como são dados conselhos por aí, cheguei a conclusão de que as pessoas geralmente têm interpretações errôneas do que é ser pessimista. Lógico que pessimista é o oposto de otimista, e portanto um pessimista é o que sempre pensa pela pior das possibilidades. Essa interpretação é aceitável, um tanto quanto precipitada mas acima de tudo a mais usual; pelo fato de ser a mais usual, faz com que a maioria esmagadora das pessoas usem o termo de maneira pejorativa, e achem que os pessimistas são pessoas tristes e que vivem por viver.

     Eu me considero um pessimista. Não do ponto de vista do modo de agir, nem de conversar... Apesar desse blog existir uma dedicação exclusiva a mim - não pretendo virar um blogger famoso, escrevo para me satisfazer e publico pra quem quiser ler - muitos amigos meus disseram não me reconhecer perante os textos, porque ou eles têm um enfoque puramente baseado na minha torpe mente (angústias e felicidades) ou têm como alvo apenas demonstrar um pensamento ou reflexão que provavelmente construí após ler, tomar banho, discutir com os amigos, ou apenas refletir sozinho. Esse pessimismo que abordo, é do ponto de vista filosófico e portanto não tem necessariamente que ver com meu comportamento - eu não sou um chatolóide que fica falando difícil o tempo todo, pelo contrário, sou um dos maiores adeptos das gírias, e todos me conhecem pelo meu bom humor e excesso de animação (muito irritante, em muitos casos). O pessimismo, nesse caso, advém do fato de seguir, concordar, admirar e principalmente reproduzir os pensamentos pessimistas. O fato de não crer em destino, em vida após a morte, em razão de existência humana, missão, propósito da vida e etc. já se pode levar à triste conclusão de que a vida é indomável, finita, rápida e desnecessária (se não há nenhum propósito) e no começo, quando tais reflexões começaram a fazer sentido a mim, eu me entristeci.

     Sofri angústias por perceber que esperança é a unica maneira de se alimentar a vontade de viver, e por isso comecei a perceber (ou forçar) padrões na vida e definí-los - de maneira interessante porém infantil - para 'esperançar' esse anseio que é viver. Não há um Deus possível, provável ou que possa fazer algo objetivo e literal (e não simbólico e demente), não consigo praticar a má-fé existencialista(em termos gerais, evidentemente), não consigo deixar de concordar com os acasos de Nietzsche, não consigo deixar de duvidar de tudo como Descartes, mas tenho um lema - talvez pouco justificado e meramente postulado - de que o equilíbrio é o ideal inalcançável, porém carente de culto e busca (nunca se atingirá, mas criar métodos, e técnicas para alcançá-lo é a unica maneira de eficiência).

     No final criei uma esperança, baseada tanto nessa necessidade de equilíbrio que sei que é insuprível, quanto na criação de padrões para me apoiar e não me deixar desabar. Porém isso não muda o fato de que, cultivando essa verdade pessoal - a uso para não enlouquecer e manter algo possivelmente mais equilibrado - acabei por concluir tudo de maneira pessimista. Nascemos pra morrer, e quando morremos apodrecemos e ponto. As situações, constelações e coincidências são definidas pelo acaso, pela possibilidade e pela probabilidade. O tempo nunca existiu, e observar as mudanças de um objeto, pelos fenômenos que ele sofre, estabelecendo um antes e depois, levou o homem a criar um conceito válido para medir mas não para definir situações, e depois de intrinsecá-lo em sua mente por todas as culturas e etnias durante anos, acabou por tratá-lo como verdade absoluta e tentar explicar um início ao universo, algo que nunca - para mim - existiu. Não cultuo essas ideias: em verdade as acho improváveis... As verdades que busco são muito menos abrangentes e menos exageradas, e quanto a questões extremamente complexas e - convenhamos - infinitas, tenho apenas opiniões nuas, sem considerar nada que o romantismo pode trazer - não que eu seja contra o romantismo, aliás o aprecio nas relações humanas e devo muito a ele pela arte que sua influência criou; apenas não o enxergo em questões maiores - não há porque haver um propósito em super novas, buracos negros e relações de movimento entre astros, são fenômenos, assim como a vida e a morte. Essa conclusão, se pensarmos com eficiência, leva a destruir qualquer superstição, culto, religião, mito, ritual e também a ideia de sorte e azar... Levando isso a sério e trazendo pra si tais conclusões é possível ver como o chão sofre um abalo, a angústia ganha força e o fato de não existir esperança nem possível influência externa é por si só, pessimista.

     O interessante é que trazer essas conclusões, e arquivá-las como improváveis, nos leva a ser serenos e focarmos em como trazer discussões abrangentes para coisas mais imediatas da vida, como a vida social, a política, as opiniões sobre diversos assuntos e as maneiras de se conduzir dissertações. Apesar de tudo isso, se levarmos em conta que o acaso pode ser prazeroso - mesmo sem seguir um padrão (como a senóide, que já havia mencionado em outros posts) - do ponto de vista carnal, essencial e humano. Conduzir questões superficiais do dia-a-dia sem botar em prova seu pensamento (justamente por pensá-lo por pensar, e não em crer ou ter fé exacerbada e absoluta, que é extremamente desnecessário) e usá-lo justamente quando convém, faz crescer dentro de si, uma espécie de poder, meramente supérfluo e ingênuo, mas agradável e portanto estimluante (digno de receber o nome de felicidade). O pessimismo me fez sentir esclarecido de uma maneira que os cultos e outras coisas que simplesmente eram absurdas pra mim não conseguiram. Essa segurança, mesmo partindo da incerteza, me faz, apesar de desesperançoso, não temente a nada... Nem ao inferno, nem às pessoas. Eu sou muito mais livre, muito mais pronto para ser humano e não sou superior por isso, simplesmente sou muito mais feliz que os otimistas, que acabam se decepcionando quase que sempre, alimentando esperanças irrelevantes, cheias de alogias e condutoras de alienação e opressão.



Nietzsche (fazendo sexo): O pessimista  brincalhão (apenas nessa imagem, evidentemente).

2 comentários:

  1. Acho que devo ser mais uma das pessoas que discordam com certos conceitos seus Pudog, mas cá estou pra expor minha opinião e claro, parabenizá-lo pelo excelente post. Ele realmente apresentou o pessimismo de outro ângulo, que talvez a maioria das pessoas não enxergue (Apesar de não conseguir me converter. Acho que vou morrer uma das pessoas mais alienadas, tu pode confirmar com sua prima). Como cada ser humano tem conceitos e vivencia e forma de enxergar a vida diferentes e é extremamente equivocado estabelecermos um conceito padrão pra certas doutrinas. Talvez certas pessoas que acreditam no pessimismo se tornem infelizes, e outras extremamente felizes. Assim como tem muita gente que acredita em Deus e apronta por aí, e muito ateu que contribui para o avanço da humanidade e foi julgado porque suas teorias iam contra os ensinamentos teológicos. Pra, é tudo questão de interpretação. Nunca concordei com o fato de taxar entre feliz e infeliz certa pessoa, afinal todos estão expostos a momentos de euforia e depressão, fases que são indispensáveis para evolução. A forma que lidamos com eles, é extremamente individual, e não é a bíblia ou um livro de auto-ajuda que vai nos fazer evoluir. Acho que todos precisamos de uma base para contribuir de alguma forma com o “equilíbrio” da humanidade, e assim como Newton e Freud encontraram essa base na ciência, Gandhi encontrou na religião. Ambos fizeram história, ambos contribuíram pra humanidade e sem eles, haveriam muitas lacunas a serem preenchidas hoje em dia. Acho que independente do que acreditamos, de onde viemos e pra onde vamos, a preocupação com a sociedade em que vivemos HOJE é muito mais indispensável. É preciso fazer o melhor de si pra melhorar o agora, sem elevar expectativas em suas ações mas também não achando que tudo na vida vai dar em merda, antes mesmo de tentar. Eu nunca penso muito antes de agir, e faço muita coisa errada, mas se for eu pensar de mais eu não faço nada. Enfim, ligar o foda-se pra questões transcendentais e viver o as trivialidades cotidianas, tentar mudar ou melhorar o que está em nosso alcance. Falei, falei muito e sinto que não disse nada. Enfim, é nois bruxão.

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  2. O pessimismo é uma vertente de pensamentos, não uma crença consolidada, por isso considero meus pensamentos pessimistas, viáveis. Não acredito em nada e as coisas com as quais concordo, acabam por ter o estigma de pessimista pela maioria dos esperançados pelo divino. Mesmo assim, obrigado por ler e comentar... =] É nóis que tá, cachorro.

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